Juliana, no fundo, sabia exatamente quais eram esses motivos. Ela nunca acreditaria na veracidade das visões, se tivesse sido a escolhida pelo universo para tê-las. Não tinha aquela sensibilidade mística de Val, que sempre foi mais aberta a tudo aquilo que não tem explicação — ou que tem explicações que vão muito além do que a racionalidade humana é capaz de processar. Desde a transmigração, era Valentina quem usava palavras e olhos bonitos demais para convencê-la de que cada acontecimento é um pequeno milagre, que ocorre com o propósito de dar sentido à vida e juntar as pontas soltas em um laço de presente firme e bem feito.

A verdade é que Valentina e Juliana tinham maneiras opostas de vivenciar o mundo. E, por isso, precisavam uma da outra para ter a experiência completa.

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Em outra parte da cidade, Fernanda estava encostada no bar de mármore e granito do hall de entrada de um luxuoso restaurante. Bebericava uma gin tônica servida em uma taça arredondada, com duas rodelas generosas de limão siciliano suspensas entre cubos de gelo.

Era a festa de noivado de um diretor de televisão com uma ex-modelo venezuelana. Fernanda tinha a impressão de ser a última sóbria do evento. Tinha saído da Arce muito tarde, e chegou quando a comemoração já estava animada.

Olhou ao redor, profundamente exaurida. Estava trabalhando em ritmo acelerado para a New York Fashion Week e, como se não bastasse, seu objetivo pessoal de conquistar Juliana estava se revelando um pouco mais complicado que o previsto. Gostava de dificuldades — afinal, eram elas que davam graça ao flerte — e do prazer de precisar competir com Valentina, mas sua colega de trabalho parecia totalmente imersa na coleção que estavam finalizando, e nunca dava a devida atenção às cantadas que recebia. Ao menos tinham uma boa relação, repleta de cordialidades. Não era raro que paparazzis as flagrassem rindo e conversando no estacionamento da empresa. No entanto, já era possível sentir a imprensa perdendo o interesse na história. Juliana não falava muito sobre seu relacionamento, mas não era difícil adivinhar que seu namoro com Valentina tinha superado a crise causada pela revista de fofoca. Fernanda bufou. É claro que conhecia Valdés bem o suficiente para saber que ela não cairia em seus braços tão facilmente, mas também não esperava que fosse demorar tanto. Não suportava cogitar a possibilidade de não conseguir algo que queria.

Suas reflexões foram interrompidas quando Maria Reyes surgiu entre a multidão. A jornalista que a ajudou com seu pequeno plano usava um vestido verde claro, com um grande decote em V que acabava logo abaixo dos seios. Fernanda fez o possível para reprimir um sorriso sarcástico quando percebeu que a mulher caminhava em sua direção.

— Sabia que te encontraria aqui. — disse Maria, sem cumprimentos ou introduções.

— Claro que sabia, não era difícil adivinhar. Minha família é amiga do noivo há séculos. — desdenhou Fernanda — Está aqui à trabalho?

Agora estou. Vim falar com você sobre negócios. — respondeu Maria, se encostando no bar, sem olhar uma única vez para sua interlocutora.

Fernanda se divertia com aquele jogo. Sabia que era charme. Tinha certeza de que Maria a adorava.

— Aquela nossa brincadeirinha com a Juliana me rendeu a capa da revista e o destaque do site. Dezenas de portais da América Latina replicaram a nossa notícia. Sabia que batemos recorde de acessos? — despejou Maria, com o olhar perdido na multidão, como se estivesse divagando sozinha — Com isso, pensei que algumas oportunidades iriam surgir. A New York Fashion Week foi se aproximando, e não tive dúvidas de que eu seria a escolhida para cobrir o evento. No fim das contas, sabe o que aconteceu? Quem vai é um homem branco. E eu? Ganhei apenas um "parabéns" na reunião de equipe.

Conocerás tus sueñosWhere stories live. Discover now