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- Quem é que me roubou a garrafa de vodka?- perguntou Edward quando entrámos na cozinha. Ele deixou os sacos na mesa e eu pus-me logo a arrumar as coisas.

O Edward agarrou na garrafa de vodka quase vazia e murmurou algo antes do Marcel entrar pela porta.

- Foi o Harry que a bebeu, não foi?- perguntou o Edward. O Marcel olhou para ele, nervoso.

- Sim.- disse ele. O Edward deixou a garrafa na mesa com um estrondo, fazendo com que eu desse um salto devido ao susto.

- Eu vou matá-lo.- disse Edward e dirigiu-se à porta, mas o Marcel impediu-o.- Sai, bicho.

- Edward, por favor, deixa-o. Ele está mal.- disse Marcel, tentando acalmar o seu gémeo.

- Isso não me importa um caralho. Ele bebeu a minha garrafa de vodka.- disse ele.

- Edward, por favor. Estou farto disto tudo. Somos irmãos e tu e o Harry comportam-se como se fossem estranhos. Tu odeias o Harry. Odeias-me a mim. Eu sei, mas somos trigémeos e devíamos ajudar-nos uns aos outros. O Harry está mal, está a dormir, deixa-o. Por favor.- suplicou Marcel e o Edward bufou.

- Como queiras.- disse Edward e saiu dali.

Eu e o Marcel seguimos o Edward, para ver se ele ia ter com o Harry, mas não o fez, simplesmente caminhou com uma rapidez espantosa e foi para o seu quarto.

- Ele odeia-me.- disse Marcel e suspirou.

- A mim também, se isto te servir de consolo.- disse-lhe e pus a minha mão no seu ombro. Ele sorriu para mim.

-Bem... Ajuda um pouco.

Voltámos para a cozinha e colocámos os produtos que comprámos nos seus devidos lugares. Quando acabámos, o Marcel sentou-se na mesa e eu imitei-o.

- Não sei o que fazer.- disse ele.- Esta relação que temos os 3 está a deixar-me maluco, e na verdade lamento muito que tenhas que aguentar isto.

- Não peças desculpa, a culpa não é tua.- disse.

- Eu sei, mas o Harry está bêbado, a dizer parvoíces e a lamentar-se da sua vida. E, sabes, não gosto de o ver assim, isto dá-me a impressão de que se nós fossemos os três mais unidos estas coisas não aconteceriam.- o Marcel apoiou a sua mão no seu queixo e bufou.- Isto é uma merda.

Levantei-me e sentei-me ao lado dele.

- Isto vai melhorar, vais ver.- disse para o tranquilizar e abracei-o.

Eu sou uma rapariga muito carinhosa, e gosto imenso de abraçar as pessoas. Ele ficou tenso, provavelmente por não estar habituado a este tipo de coisas, mas devolveu-me o abraço.

- Espero que sim.- disse ele.

Depois de um tempo, subimos cada um para o seu quarto e fomos estudar. Acabei por me aborrecer. Não tenho vontade de estudar e lembrei-me do que o Harry me disse. "Já? Acabaste de começar as aulas, descansa um pouco", isso começava a ter lógica. É tão pouco o que tenho para estudar que já o sei de cor.

Pensei em telefonar aos meus pais, mas não o fiz. Eles não me ligaram e o "Esquece-nos e afasta-te. Bella, para nós tu já não és nossa filha" continua a repetir-se na minha mente, consumindo-me. Alguém tem ideia do quanto isto doí? Os teus próprios pais dizerem-te isto? Eu sei o quanto dói. É como um murro, uma mentira. E dói muito, mas não vou deixar que isto me afete. Não vale a pena, e para além de não valer a pena, eu já não preciso dos meus pais para nada. Estou sozinha. Sempre estive. Não tive oportunidade de ter amigas na escola, porque eram os professores que vinham a minha casa dar-me aulas. Não podia ir ao cinema, ou sair num sábado à noite com as minhas amigas e irmos às compras, porque simplesmente não as tinha. A minha vida era uma merda. Não sabia o que era dar o primeiro beijo, até que me apaixonei pelo filho de um dos sócios dos meus pais, que acabou por revelar ser um grande idiota.

A minha vida era solitária. Passava o dia a sonhar acordada com coisas, que para muita gente eram normais, coisas do dia-a-dia. Coisas como ir dormir a casa da minha melhor amiga, ou simplesmente ter uma melhor amiga. Não sei o que isso é. Também sonhava em experimentar correr pelos corredores da escola, cheios de gente e de vida. Foi por isso que quando cheguei à universidade senti que aquilo era a coisa mais impressionante que alguma vez tinha visto na minha vida. E apesar de não dizer nada disto aos trigémeos, odeio os problemas deles e o único decente é o Marcel. Isto é simplesmente emocionante. Estou a conviver com 3 rapazes iguais. Uma loucura, mas por outro lado não me posso esquecer que este era o meu sonho. Eu apenas queria fugir da realidade, a porcaria de realidade que os meus pais me obrigaram a viver. Por isso, quando fiz 18 anos, fugi. Os meus pais não aceitaram isso porque queriam que eu me dedicasse à empresa e que continuasse com o negócio, mas para que é que eu queria ser rica se vivia daquela maneira? Eles deram-me 2 milhões de euros. Segundo eles é pouco , mas eu guardo-os como se fossem ouro. Disseram-me para me esquecer deles e que eu já não me consideravam sua filha. São uns hipócritas. Quis atirar-lhes com as notas à cara, mas não o fiz, porque me interessava guardar esse dinheiro. Agora sei que eles nunca me amaram. Nunca. Definitivamente, não os posso chamar pais.

Suspirei e troquei de roupa, vestindo o pijama. Já era tarde e não tinha vontade de jantar, recordar a minha família tirou-me o apetite. Sem pensar em mais nada, deitei-me na cama e tentei dormir, mas não conseguia. É-me completamente impossível conciliar o sono quando a minha cabeça está a tentar ordenar todos os pensamentos que passam por ela. A minha cabeça deu voltas e voltas, durante minutos, ou talvez horas. Até que no final consegui dormir e esquecer-me de tudo.

Os Trigémeos Styles (tradução)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora