CAPÍTULO 36

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JACOB


Tudo em mim doía. Do fio de cabelo da minha cabeça à ponta dos dedos dos meus pés. Até o simples ato de respirar, me causava dor.

Encontrava-me no que parecia ser um quarto na ala da emergência para pacientes poli traumatizados, porque eu só escutava o povo dizer "Vítima com Traumatismo Craniano para cá", "Vítima com Fratura exposta da Tíbia para lá", ou seja, só havia gente lascada e quebrada nessa ala.

Não me lembrava de nada do tal acidente que o pessoal daquele hospital estava comentando. A única coisa que eu lembrava era de estar escutando Cher e cantando junto com ela enquanto dirigia para ir reencontrar com as três, das quatro, pessoas que eu mais amava nessa vida.

— Mãezinha? – a chamei para que a mesma se aproximasse do leito e entrasse no meu campo de visão, pois eu estava deitado reto na cama, com o corpo todo imobilizado e usando um colar cervical.

Tudo isso para que eu não me mexesse um centímetro sequer, pois o doutor que tinha me atendido ao chegar ali, havia informado que, possivelmente, eu poderia ter lesionado a minha coluna durante o acidente, mas que o mesmo já estava providenciando todos os exames para descartar aquela possibilidade.

Todavia, os minutos seguintes que passei sozinho naquele quarto, olhando apenas para o teto branco, foram os mais horríveis da minha vida, porque eu só pensava e pedia a Deus para que não ficasse paraplégico ou até tetraplégico.

Estava para entrar em desespero quando minha mãe apareceu e conseguiu me acalmar um pouco. Mas eu ainda não sabia como ela havia conseguido chegar ali, naquele hospital, em menos de uma hora e meia, quando a viagem daqui para Shoreline é de quase quatro horas.

— Mamãe? – a chamei novamente, mas não houve resposta – Mãe? Mãezinha, a senhora está aí? – indaguei, já preocupado.

— Oi, filho. Estou aqui – ela disse entrando no meu campo de visão, dando um sorriso e afagando minha cabeça – Eu estava ali fora tentando falar com o Apolo, mas ainda não consegui. Só cai direto na caixa postal.

— Tenta de novo, mãe. Se ele viu o noticiário falando da minha morte, o coitado deve estar tão desesperado que nem pode ter visto o final do jornal. Tenta ligar de novo. E se a senhora não conseguir, liga para os meus sogros e pede para eles irem buscar ele e a Thea em Bowen Island. O meu sogro tem barco. Liga, mãe. Por favor. Eu quero o Apolo e a Theodora aqui comigo. Eu estou com muito medo – murmurei, já sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Não chora, filho. Não se preocupe com isso, ok? Eu vou ficar tentando até conseguir falar com o seu marido – ela falou à medida que enxugava os meus olhos com um lenço.




THEODORA


— Isso só pode ser castigo de Deus – escutei Apolo choramingar, encolhido no sofá, abraçando as próprias pernas, enquanto eu procurava nossos celulares pela sala.

— Não fala isso, Mozão... Achei! – exclamei feliz, porém logo fechei a cara – Merda! Essas porras estão descarregadas! Eu vou botar eles para carregar e aí vamos ligar para a Myriam para saber o que realmente houve com o nosso Ursinho, porque ela já deve saber de alguma coisa a essa hora.

— Eu não quero ligar e confirmar que nunca mais vou ver o meu marido. Que nunca mais vou poder ouvir a sua risada. Senti o cheiro dele... o beijo dele...

Apolo desabou no choro novamente, se encolhendo sobre o assento do sofá.

— Oh, Mozão...

Larguei os celulares em cima de uma poltrona e voltei para perto dele, sentando-me ao seu lado, já afagando seu braço e distribuindo beijos em sua costa e ombro, nus, enquanto tentava desesperadamente não chorar também.

Um Jeito Estranho de Amar + Cenas Inéditas + Conto ExtraWhere stories live. Discover now