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— Pode começar. - ele se apoia na mesa e me encara, como se tentasse ler minha alma.

— Bom... - respiro fundo mais uma vez e tento controlar meu corpo e sentimentos para não me abalar.

— Leve o tempo que precisar. - ele sorri. Um sorriso acolhedor, sincero e calmo.

— Bom, quando eu tinha meus 7 anos, minha mãe, Mariana O'Neil, abandonou-me, a mim e ao meu pai. Ela saiu por aquela, por aquela maldita porta, sem dar nenhuma explicação, apenas saiu e numa mais voltou. Nesse momento, eu consegui sentir ódio, e eu era apenas uma criança, eu tinha apenas 7 anos e ela conseguiu que essa criança, que jamais parava de sorrir, criasse ódio pela sua própria mãe. - sorrio triste enquanto sinto as lágrimas a formarem-se nos meus olhos. O ardor na minha vista estava difícil de suportar.

Oliver apenas me encara com uma expressão indescritível na face. Os olhos dele encaravam-me intensamente, como se conseguisse ler a minha alma e degustar de cada lembrança que me vinha à mente. Como se sentisse a dor que eu carregava no peito, ele... Conseguia fazer algo que nunca, ninguém conseguiu, ele sentia a intensidade das minhas palavras.

— Todas as manhãs e todas as noites, eu me sentava no chão do corredor que dava vista para a porta de entrada, e ficava lá, encarando a porta, esperando que a mesma se abrisse e revelasse minha mãe, eu esperei meses, repetindo e repetindo isso, esperando ela voltar a entrar, eu só queria ouvir da boca dela, mais uma vez um "Eu te amo!", mas isso nunca aconteceu, e foi nesse momento que eu vi o que realmente estava acontecendo, ela havia me abandonado, abandonado sua criação, uma parte dela! - fungo e respiro fundo.

Quando dei por mim, as lágrimas já rolavam, minha vista ardia e meu campo de visão estava turvo. Eu sentia minha face queimar, minha respiração desregulada fazer meu peito subir e descer rapidamente. Eu não queria chorar, eu tinha prometido a mim mesma que jamais choraria por ela, mas estava impossível.

Apenas fechei os olhos. Não me atrevia a encarar Oliver que se encontrava a minha frente. Eu não queria! Eu não sou tão fraca assim! E não pretendia me mostrar sensível para ele. Por isso continuei.

— Meu pai, me criou sozinho e nunca deixou de cuidar de mim. - sorrio lembrando do sorriso dele, do calor do seu abraço, do seu beijo em minha testa. Ah, como eu sentia falta dele. - Ele sempre foi sincero comigo e por isso, quando eu completei meus 9 anos, ele veio até mim e me contou tudo. Ele me contou que Mariana nunca me quis, até tentara efectuar aborto. Ela já quis me matar Ollie... - seu nome saiu como um sussurro da minha boca.

Abri vagarosamente meus olhos e dei de caras com uma imensidão negra, sem reacção.

— Eu cresci com um único pensamento: "Eu nunca irei perdoá-la". Depois de um tempo, eu mudei meu comportamento, mudei meu jeito de ser e nunca mais fui a Mel sorridente. Eu me tornei no erro que minha mãe tanto me chamava. Com meus 13 anos, eu era um pesadelo, mas nunca com meu pai. Porém, quando eu atingi meus 14 anos, aconteceu a pior desgraça em minha vida. - eu não queria lembrar. Eu não desejava lembrar, mas a lembrança já vagueava pela minha cabeça e eu mal me aguentava.

Eu sei que quando chegar ao momento, eu vou me desmanchar em lágrimas, como se estivesse a reviver aquele momento. Aquele maldito momento.

— Meu pai mal ficava em casa. Começou a beber e ficava longe de mim. Eu o lembrava minha mãe e foi quando ele olhou para mim, que percebeu que Ela tinha ido embora. - as lágrimas caíam sem dó, minha voz saía trêmula e minha respiração não ajudava em nada. - Eu... Eu estava voltando para casa pela tarde, abri a porta e chamei pelo meu pai, ele respondeu e disse que estava no escritório, corri até lá com a vontade de o abraçar... - sorrio tristemente.

Sinto uma quentura nas costas da minha mão e encaro a mão de Oliver por cima da minha. Desvio meu olhar para o dele e encontro o mesmo com um sorriso que me impulsionava a continuar. Sorrio de volta em meio as lágrimas e assinto.

— Quando eu cheguei ao escritório, meu pai carregava uma arma em sua mão direita. Meu corpo paralisou na entrada do escritório e minha pasta caiu da minha mão no momento. As lágrimas automaticamente começaram a rolar pelo meu rosto e eu não conseguia reagir.

Flasback

— Papai? - pergunto alarmada. Meu corpo não obedecia aos meus comandos.

— Desculpa minha flor. Me perdoa, mas... Eu vou partir. - ele olha para mim com lágrimas em seus olhos, também. E sorri, eu estava consciente de que seria o último sorriso que receberia dele.

— Não! Papai, não, você não pode me abandonar. NÃO! - eu gritei ainda sem me movimentar. - Você não é a Mamãe.

— Sim, eu não sou sua Mãe. Eu sou pior. - ele sorri - Eu te amo minha flor. Você sempre será tudo para mim, onde quer que eu esteja!

— Não! NÃO! - ele posicionou a arma em sua cabeça e nesse momento, eu permiti meu corpo correr.

— Adeus, minha flor. - Ele sorriu e fechou os olhos enquanto seu dedo premia o gatilho.

Nesse instante, tudo se passou em câmera lenta.

— NÃO, PAI! EU NÃO PERDER O SENHOR TAMBÊM, NÃO O SENHOR! - gritei até minha garganta arranhar e quando estava prestes a empurrar a arma. Ele dispara.

Ele disparou. O sangue saltou para mim e foi contra a parede. Eu me permiti gritar, enquanto o sangue molhava meu corpo e escorria pela parede. Eu nem me importava, eu sabia que meu rosto estava totalmente sujo com o mesmo, mas eu não me importava.

Puxei seu corpo contra o meu e gritei, gritei sem parar, as lágrimas escorriam levando o sangue com elas e caiam na camisa branca do meu pai. O corpo dele estava contra o meu, ele estava morto, ele partiu.
O tempo parou para mim naquele momento. Eu estava em transe, mas não conseguia parar de chorar. Mesmo não tendo raciocinado tudo, eu sabia de uma coisa e tinha total certeza... Ele Partiu!

 

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