STAR - de onde surgem as estrelas - Livro 1

Capítulo 17 - Sem Saída

   As paredes e teto do labirinto começaram a desmoronar, ainda sem seus poderes os garotos se esgueiraram ao redor do grande buraco voltando pelo mesmo longo caminho que fizeram, mas agora correndo. Os quatro saiam desesperados tentando voltar a usar seus poderes, mas de nada adiantava, apenas o que podiam fazer era correr sem saber pra que lado ficava a saída, sem mapa, sem poder abrir as paredes, o sangue de Thomas fervia a ponto dele não sentir mais frio, mas o de Scarlert fervia a ponto de quase morrer de calor naquela roupa. Nem a Rachel parecia mais tão fria quanto no capítulo anterior.
   Enquanto isso para Kerman o tempo e velocidade pareciam relativos, a queda livre mais parecia agora uma forma de planar e a pedra que era mais leve que ela agora parecia mais pesada, pois caia cada vez mais rápido.

-O que você foi fazer? - A voz de antes perguntou a ela num tom de  decepção.
-Fiz a escolha! Quero aquela pedra!
-E como planeja consegui-la? Se condenou a cair pra sempre! Não tinha medo de altura? Eu não achei que você fosse pular!
-Você me mostrou onde estava! Agora me deixe calcular um jeito de consegui-la!
-É impossível! Você perdeu!
-Eu não sabia que era um jogo. Ah e impossível? Essa palavra não existe em meu vocabulário! Antes de morrer eu tenho uma pergunta?
-Então que faça garota tola!
-O que você é?
-Eu? Lhe responderei se conseguir pegar aquela pedra! Boa sorte!
-A um segundo você não tinha fé de que eu fosse conseguir! - Ela gritou, mas nada lhe foi respondido.

   A voz se foi deixando Kerman com seus pensamentos, o tempo era cada vez menor para pensar em como pegaria a pedra. Se demorasse muito ela se distanciaria tanto que Kerman não conseguiria nem a ver mais. Ela sabia que um jeito tinha que ter, mas não sabia qual. Nem o que fazer.
   Virou-se e olhou para cima, a queda havia sido tanta que nem se podia ver a entrada por onde ela caiu, mas viu um pedaço de papel meio quadrado não dobrado caindo logo acima de si e ia cada vez mais rápido, então pensou "talvez quanto menor o objeto, mais rápido ele caia, então se eu me pendurar neste pedaço de papel posso descer mais rápido que uma pedra!". Ela segurou no pedaço de papel e foi um pouco impulsionada para baixo, mas logo sua velocidade diminuiu novamente, o pedaço de papel até poderia cair rápido, mas quando ela o segurou misturou seu peso com o do papel.

   Kerman fechou os olhos e a imagem de Jace vinha à sua cabeça, lembrou do diário caído no chão e riu ao pensar quais segredos ele revelaria. Lembrou do Andorian tentando matar a Jace no elevador e de como sua alta adrenalina fez com que ela pensasse tão rápido à ponto de lembrar do seu real poder, poder este que nunca foi mencionado.

-É isso! - ela falou - Eu não sou o mago da profecia! Mas ainda posso ser a pessoa que vai salvar a todos! Sei como abri aquele cadeado! Sei como derrubei aquelas pedras, como abri aquela cela derretendo as grades, como tive forças pra puxar o Thomas e como mandei o Andorian de volta pra casa! Eu não usei magia, não recitei versos nem acreditei que a magia pudesse então existir! Eu criei! Pois esse é o meu poder! Eu posso criar! - Ela falou a si mesma em voz alta e em seguida gritou - Se esse é o meu sonho, eu posso fazer nele o que eu quiser!

   Kerman abriu os braços e planou por um segundo, depois fechou num mergulho ainda maior no ar. Ela afundou tão rápido que chegou a passar a pedra, virou de costas e abriu novamente os braços, e a pedra bateu bem no meio do seu peito, ela sentiu um poder inexplicável passando pelo seu corpo, uma energia a fez abrir os olhos tão forte que ela teve medo de acordar, como se fosse mesmo um sonho, mas permaneceu caindo agora de costas. A pedra havia entrado em seu corpo como uma bala e agora continha o seu DNA.
   Soltou um grito tão forte que grande brilho verde saiu de si, afinal verde era mesmo sua cor favorita, parou no ar e olhou as paredes pretas ao seu redor, tudo estava escuro e um pontinho brilhoso como uma estrela de longe começou a se dirigir em sua direção, foi ficando maior e maior até que cessou o brilho e apareceu como um pequeno ser de outro mundo. Seu corpo era fino como um palito e totalmente preto. Sua cabeça tinha um formato de losango, mesmo formato da pedra que Kerman havia pego, então o serzinho chegou bem perto de Kerman até que sentou em seu ombro. Kerman guardou o papel no bolso para não o perder.

-E você? Quem é? - Ela perguntou ao serzinho em seu ombro.
-Eu sou a voz que você ouvia, mas pode me chamar do que quiser! Guardião da pedra do éter!
-Que fofo.
-Ah, sim! Na verdade não tenho um sexo. Todos os que tentaram nunca pularam no abismo atrás da pedra em queda livre, mas como eu disse...você é diferente! Tem um poder ao qual não precisa de nenhuma pedra para usar! Ganhou por ser você mesma.
-Meus amigos? Como estão?
-Quase mortos agora! - a voz falou calmamente - Mas se voar pode salvá-los!
-Por quê eu faria isso? Sabe onde eles estão?
-Sim, claro! Mas não quer salvar eles?
-Me diga exatamente onde é!
-Um raio de 300km à leste de onde estamos, por quê?
-Devolve os poderes deles!
-Não posso! Só quando saírem do labirinto! Sinto muito! Agora nem voando você chega à tempo.
-Não vou voar. Segure-se.

   Kerman fechou os olhos bem forte e cruzou os braços frente ao peito, o serzinho segurou firme em seu casaco de seda verde. Ela abriu os braços jogando para baixo e abriu os olhos se tele transportando exatamente para o lugar onde os amigos estavam, as paredes haviam caído de todos os lados e estavam presos de pé no meio de um corredor, assustados e cansados de correr.

-Kerman! Você conseguiu! Está tão pálida quanto qualquer thartaniano agora, sabia?
-Chamem-na de Samantha! O significado faz mais sentido agora!
-Mas ela não gosta desse nome! - Adam questionou.
-Tudo bem, você não se chamava Adam até que decidisse se chamar assim, não é?
-Meu nome é meu mesmo? - Scarlett perguntou.
-Vamos sair daqui! Coisinha, mostre o caminho! - Kerman disse séria olhando para o serzinho em seu ombro que agora podia ser visto por todos.

   O pequeno ser alienígena voou em direção a uma das paredes e Kerman foi atrás abrindo caminho com a mente e andando calmamente, os garotos a seguiam. Até que ela parou.
-Que há Kerman?
-Prefiro Samantha!
-E o que significa? - Adam perguntou.
-Eu sou Deus! Aqui eu sou!
-Okay Sam, o que aconteceu para parar?
-Isso não está certo!

   Todos olhavam ela conversando com o Adam.

-O que não está certo Samantha? - o serzinho perguntou.
-Tudo isso! - ela sentou no chão com tudo desmoronando ao seu redor, mas nada encostava nela, os amigos se aproximaram afim de não se machucarem também. O serzinho parado olhava esperando que Kerman, digo, Samantha continuasse. - Bom, eu não estou entendendo, "um mago em terras proibidas" não sou um mago, mas consegui a pedra, não quero sair daqui com ela se ela não for pra mim, assim seria muito fácil do mago tirar ela de mim, já que não pertence a mim e sim a ele, ou a ela.
-Escute Kerman! - Rachel falou - A pedra pode não ser sua, mas está com você e mesmo que alguém tire ela de você não funciona com essa pessoa só se você entregar ou perder em um jogo.
-Não é isso o que me preocupa Ray! É que se o Serpent for o mago capaz de portar a pedra, não sabemos o que ele pode fazer com ela!
-Ker...Samantha linda do meu coração... - Adam falou - uma vez alguém me disse: Não precisa agir como o script! Mudou de ideia?
-Isto foi na Terra! É diferente Adam!
-Então me diga, como eu fui escrito? - ele falou bravo.
-Um garoto filho da rainha lua e uma garota filha do rei Sol viveriam em um reino chamado Thartan, o garoto de olhos profundamente cinza e cabelos brancos...
-Branco preto e cinza. - ele a corrigiu.
-Você com certeza tingiu, mas não nasceu assim! Um garoto de cabelos brancos que amava vestir branco, treinado para ser um guerreiro calmo como a água portaria as duas pedras mais singelas do universo.
-Que seria a do ar e a da água, mas as duas foram demais pra mim e precisei encontrar a Rachel, filha do rei da água e a Solária deu a pedra da terra ao Thomas, filho do rei da terra mas isso é história pra outro livro! O ponto que quero chegar não é esse! Fui criado pra ser calmo como a água, não importa se tenho a pedra da água ou não, mas se percebeu, eu não estou calmo agora, meus poderes não funcionam, meus olhos não estão profundos e meus cabelos não estão brancos. Não estamos na Terra e eu não estou no Script.
-Sei o que está pensando Adam. - Thomas disse. E depois os quatro falaram juntos:
-Vamos quebrar todas as regras!

   Levantaram e saíram correndo dali, ansiosos para contar ao Serpent sua vitória e para ganhar de volta a Jace, a Solária, o Michael e a pedra do fogo.