— Você sabe o nome dessa mulher? A que construiu o prédio? — questionou Juliana.

Dolores sacudiu a cabeça negativamente.

— Não, mas o filho dela se chama Jorge García. Ele mora aqui no prédio, na cobertura.

— Mesmo? — perguntou Juliana, arqueando as sobrancelhas — Não sabia disso. Negociamos o apartamento direto com a imobiliária.

A porteira olhou para todos os lados, se certificando de que estavam sozinhas.

— O Seu Jorge prefere delegar tudo para uma administradora e perder dinheiro do que ter que lidar com qualquer responsabilidade. — sussurrou Dolores, apressando a velocidade das palavras — Cá entre nós, ele tem um estilo de vida um pouco... peculiar.

— Como assim? — questionou Juliana, bebericando seu chá.

Dolores hesitou antes de prosseguir.

— Olha, todo mundo sabe que Seu Jorge tem envolvimento com cartéis de drogas. Sem ofensas, ouvi dizer que sua família também tem esse... bem... histórico.

— Te garanto que não ofendeu. — respondeu Juliana, esboçando um sorriso constrangido.

— Ele foi preso várias vezes, mas sempre acaba se safando. Dizem que gente muito poderosa deve favores para ele, por isso Seu Jorge nunca passa uma noite sequer na cadeia. — narrou Dolores, falando baixo e muito rápido — Mas não é isso o que mais nos preocupa sobre ele.

— E o que é? — perguntou Juliana, alarmada.

O semblante de Dolores endureceu, como se tivesse se dado conta repentinamente de que estava falando demais.

— Desculpe, Dona Juliana. Não me sinto confortável falando sobre isso.

— Pode me chamar de Juliana. E você pode confiar em mim, Dolores. Não precisa ter medo de me contar nada.

— As paredes têm ouvidos aqui, garota. — alertou Dolores — Até gostaria de continuar fofocando com você, mas são coisas sérias. Não posso perder meu emprego e muito menos colocar a vida da minha filha em risco.

Juliana estreitou os olhos. O temor de Dolores pela segurança de Catalina significava que a história de Jorge devia ser realmente pesada. Algo lhe dizia que, para entender o que estava por trás das visões de Valentina, precisava seguir aquela pista. Naquele momento, Juls decidiu que acataria o que sua intuição implorava que fizesse.

— Bem, você me disse que sua filha quer fazer Design de Moda. — desconversou Juliana — Me conte mais sobre isso. Ela desenha? Costura?

— Desenha e costura. — disse Dolores, orgulhosa — O pai dela sumiu no mundo há alguns anos. Eu banco a casa sozinha com muito sacrifício, e é raro que sobre algum dinheirinho para roupas. Minha menina sempre teve bom gosto e aprendeu a costurar para poder customizar e reformar as peças usadas que ganha das primas mais velhas.

Juliana abriu um sorriso sincero. A história daquela adolescente que nem conhecia rimava com a sua própria.

— Sabe, eu ando trabalhando muito. — começou Juliana — Estou criando uma coleção para uma marca grande, e uma linha outono-inverno que será lançada em edição limitada numa outlet na Itália. Seria ótimo ter alguma ajuda. Se Catalina puder conversar comigo e trazer algumas peças e croquis para eu dar uma olhada, seria um prazer oferecer um estágio.

Dolores estudou Juliana com olhos atentos, sem demonstrar nenhuma reação.

— O que você quer em troca? — questionou a porteira.

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