Catorze - Parte II

Start from the beginning
                                    

-

O sótão era um registro escuro e empoeirado de toda a história da família Vega. Móveis antigos, retratos, esculturas e até mesmo um piano narravam o passado de gerações de fazendeiros que construíram sua fortuna roubando terras e explorando outras pessoas.

Com muita dificuldade, Sofía e Isabel arrastaram um enorme baú de madeira clara, tão pesado que os braços de ambas começaram a doer e perder as forças, enquanto gotas grossas de suor brotavam em suas testas.

— Certo, vou te explicar a minha ideia. — começou Sofía, com o indicador em riste — Você precisa prestar muita atenção porque essa vai ser nossa única chance de combinar tudo, não vamos conseguir nos falar enquanto o plano estiver em ação. Teremos que ser muito rápidas, não há margem para erros. Tudo bem?

— Sim senhora. — ironizou Isabel.

— Pedi a Marena para ir até a cidade comigo, já que os empregados não vão me deixar sair sozinha. — informou Sofía.

— Eles não vão deixar de qualquer forma. Pedro proibiu que saíssemos até que Daniel seja capturado. — lembrou Isabel.

— Eu sei. Precisei mentir que prometi umas doações de roupas e livros ao padre na cidade para que os capachos do Pedro que ficam vigiando a fazenda autorizassem minha ida. — disse Sofía, revirando os olhos — Por isso, em tese, estamos levando o baú.

Sofía cutucou o enorme baú com a ponta do pé enquanto falava.

— E na prática, por que estamos levando o baú? — questionou Isabel.

— Porque estamos levando você nele. — respondeu Sofía, abrindo um sorriso.

— Estamos o quê?

— Vamos levar você no baú e trazer Daniel nele. — disse Sofía, sem disfarçar o quão orgulhosa estava de sua própria ideia — Marena não conhece bem os caminhos por aqui, já que ficou longe por muitos anos. Vamos de carroça, e vou fazê-la passar pela trilha que leva a cachoeira em que você me disse que escondeu o rapaz. Lá, irei convencê-la a parar.

— Certo. E como vou sair do baú, subir a trilha, trazer Daniel e colocá-lo nesse caixote sem que Marena veja? — questionou Isabel, cética — Também estamos levando um ilusionista conosco?

— Muito engraçado, Isabel. Só confie em mim, essa é minha parte do plano. Vou conseguir abrir o baú, te tirar de lá, dar tempo hábil para que vocês cheguem e fechar esse maldito caixote. Tudo que preciso é que você seja rápida.

Isabel levou as mãos ao rosto. O nervosismo agarrava seu estômago e o torcia.

— Posso fazer isso. — respondeu, em um fio de voz.

Sofía assentiu, orgulhosa.

— De lá, teremos que ir para a cidade e comprar algumas mercadorias estúpidas para que Marena não desconfie de nada. Só fiquem quietos no baú durante todo o trajeto. Direi quando puderem sair.

— Espera, vamos ficar as... os dois nesse baú? — perguntou Isabel, sobressaltada.

— Ah, por favor. Não aja como se já não tivesse ficado espremida em cima dele naquela caverna minúscula milhares de vezes. — provocou Sofía, rindo.

— Já te falei mil vezes que não aconteceu nada entre a gente. — disse Isabel, com a voz trêmula de nervosismo.

— Nesse caso, encare o baú como uma ótima oportunidade de fazer algo acontecer. — respondeu Sofía, com um ar divertido — Agora vamos, entra aí.

Conocerás tus sueñosWhere stories live. Discover now