Capítulo 19

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— Aconteceu alguma coisa, Jack? — Maria perguntou baixinho, já dentro do carro.
— Nada, não — ele respondeu com cara de poucos amigos.
— Tem certeza?
— Ah, Maria, vai ver se eu tô na esquina!
Ela ficou magoada com o jeito com que Jack a tratou e, no mesmo instante, calou-se. Não levaria a sério. Achou que ele só estava ansioso para o show, mas doeu, de qualquer forma.

— Ué! — Rian não estava entendendo. Não era para eles terem voltado à mesma rua de antes, a rua com os vários hotéis. O moço no restaurante só podia ter dado a informação errada. — Por que voltamos aonde viemos?
Alex balançou a cabeça, já perdendo a paciência com aquela história.
— Segundo o cara, era o terceiro hotel do lado esquerdo da rua, vindo pela direita. — Zack analisou a rua. — Ok.
À medida que Alex passava pelos hotéis, as meninas faziam um pequeno coro de "um... Dois...".
— TRÊS?! — Zack e Rian se assustaram. — Impossível!
— Tem que ter alguma coisa errada. — Rian colocou a cabeça para fora da janela, como se aquilo fosse fazê-lo enxergar um possível hotel que eles tinham pulado. Aquele simplesmente NÃO poderia ser o número três! — Ou, talvez, uma coisa muito certa.
— Hey, cara! — Alex gritou para um homem com cara de morador da cidade, que passava pela calçada. — Será que o senhor saberia informar onde é o hotel Pirâmide?
— Vocês estão com sorte, crianças.
Lá dentro, Aiala e Maria rolaram os olhos. Se soubesse do que eram capazes, 'crianças' seria a última coisa do que as chamariam.
— É aqui mesmo. — O cara apontou para o fatídico hotel atrás de si, fazendo Zack olhar para trás e encarar Rian.
— Eu acho que aceito dormir na van. — Rian se encolheu no banco.
— Ah, qual é?! Não me parece tão ruim assim... — Aiala já foi abrindo a porta para sair.
— Eu não diria isso, antes de entrar lá...
Todos o olharam, pedindo uma explicação. Mas foi Zack quem abriu a boca:
— Sabe a nossa última opção? Acho que chegamos a ela. — Ele viu o choque no rosto das meninas e Alex abrir os olhos, surpreso.
— É... Quanta coincidência. As nossas duas últimas opções são o mesmo lugar... — Jack comentou, tomando a iniciativa de sair do carro.

Os sete pararam em frente ao hotel, olhando sua fachada, sem saber direito o que fazer.
— Ele é mal assombrado? — Kara perguntou, ainda analisando a frente do hotel.
— Aposto que sim. — Rian balançou a cabeça, sem deixar de encarar a porta.
— Não tem funcionários, fora os próprios donos? — Maria colocou a mão na boca, comendo a pele ao redor da unha.
— É... Acho que não. — Zack respondeu receoso.
— Tem alguma velha assustadora tomando conta? — Aiala perguntou assustada, enrolando compulsivamente as pontas do seu cabelo.
— Tem — os dois responderam em uníssono, fazendo a base das meninas tremerem.
— Tem quarto para a gente ficar? — Alex perguntou, rolando os olhos para o medo das garotas.
— Ah, isso tem. Ele disse que iria fazer um armengue doido lá e conseguiria 7 num quarto só. — Rian explicou.
— Então... — Jack pareceu todo cuidadoso e assustado, fazendo drama e, depois, perguntou todo tranquilo: — O que nós ainda estamos fazendo aqui fora mesmo?
Jack e Alex seguiram em direção à entrada, seguidos das garotas, que tremiam de medo, e Zack, que queria, mas não queria, ir. Rian ficou parado no mesmo lugar.
— Vocês estão ignorando um sinal dos deuses!!! — ele gritou. — Jesus está tentando nos avisar alguma coisa! Chuck Norris vai nos castigar com um Roundhouse Kick, que nos mandará direto ao Inferno!!!
Mesmo dando aqueles avisos, Rian foi ignorado e obrigado a seguir a turminha do mal.

— Aqui não parece tão ruim, só meio desarrumadinho e descuidado... — Maria deu uma olhada ao seu redor.
Mas ela nem precisou terminar a frase direito, pois começou a entender o que havia de tão estranho ali.
— Querem doces, crianças?
Rian e Zack deram um pulo, de susto, ao ver aquela velhinha com cara de simpática oferecendo doces a eles, e se esconderam atrás da galera.
— Você está muito magrinha, minha filha! — Ela deu um beliscão no braço de Maria. — Precisa comer mais um pouquinho!
E enfiou um brownie enorme na boca de Maria, quase fazendo-a engasgar. Sua única reação foi sorrir e mastigar o bolinho com má vontade. Rian a olhou, tentando transmitir um "eu te avisei!". Querendo ser sutilmente educada, Maria colocou o outro pedaço do brownie, que estava na sua mão, em cima do balcão, sem querer parecer desagradável com a velhinha, mas mal sabia que não deveria fazer movimentos suspeitos de frente para ela.
— Você roubou os bolinhos do meu netinho!!! — A velhinha foi para cima da garota, lhe dando um monte de tapas. E a mão da velha não era macia, não, hein!
— Para, sua doida! — Maria se desvencilhou dos tapas com um certo insucesso.
— Menina mal criada!
— Pera aí! Pera aí! — Jack se meteu no meio, levando, agora, os tapas.
A mulher parou, no mesmo instante, olhando para Jack, e só levou dois segundos para ela mudar de comportamento.
— Oh, meu filho! — A velha o abraçou. — Você nunca mais veio visitar sua tia querida!
Jack retribuiu o abraço, fazendo sinal de que aquela mulher era maluca e, assim como os outros, não estava entendendo nada do que estava acontecendo.
— É ela quem cuida do hotel?! — Aiala perguntou abismada.
— E a van? Agora entra em pauta? — Rian foi saindo de perto.
— Garotos, vocês voltaram! — O senhor colocou a mão nas costas de Zack, deixando-o transparecer certa decepção. — Eu sabia que vocês voltariam. Então, podemos assinar a entrada de vocês? Mamãe, ele não é o Kyle. Para de apertar as bochechas dele.
A velhinha pareceu obedecer e ofereceu os brownies; desta vez, a Kara, que, educadamente, recusou, sem querer causar nenhuma situação constrangedora... O que não adiantou muito, pois, logo, a velha comentou:
— Desse jeito, seu namorado vai te largar, não é, filho? — disse, olhando para Rian e deixando-o extremamente constrangido, e voltou-se para Kara. — Os homens odeiam mulheres magricelas. Coma um, querida.
Aquela velha estava lembrando alguém, para Alex... Alguém que quase todo mundo conhecia... Ah, claro! A bruxa de João e Maria, de tanta insistência que aquela mulher tinha em dar esses bolinhos a eles.
— Vocês vão querer o quarto para 7 pessoas mesmo? — o senhor perguntou a Zack com um certo tom de repreensão na voz. — Vão ficar todos no mesmo quarto?
— Elas são nossas amigas, não precisa se preocupar. Não vamos fazer nada de errado...
— Filho... — A velhinha se intrometeu com uma cara fofa. — Olha a cara desses garotos... Tão inocentes.
O filho ponderou e chegou a concordar com a mãe, mas a velhinha não parou aí:
— Crianças... — Ela balançou a cabeça negativamente. — Vocês deveriam arranjar namoradinhas que combinassem mais com vocês. São tão bonitinhos, tão simpáticos... Precisam de garotas boas.
Zack assinou rápido o papel que o senhor lhe deu e puxou rápido a chave da mão dele. Se aquela senhora falasse mais alguma coisinha, poderia acontecer um terremoto em poucos segundos e ele sabia disso só por olhar a cara de Maria, Aiala e até Kara, que não era de confusão, mas aquela velhinha estava pedindo para ser assassinada!
— Eu levo vocês até o quarto. — O senhor fez menção de acompanhá-los.
— Não... Não precisa. — Zack ia empurrando as meninas com a ajuda de Alex. — A gente se vira.
— Ok. É só subir a escada. É o quarto no fim do corredor. Já, já, eu levo o colchão.

— É impressão minha ou essa velha maluca me chamou de magrela, feia, chata, má e pervertida? — Kara ia reclamando no caminho.
— Pior! Me chamou de ladra! — Maria acompanhou. — Onde vocês arranjaram este hotel?
— Isto é Nova Cintra!
Jack ajeitou a mochila nos ombros, animado.
Se, do lado de fora, o hotel era simples, por dentro, ele era muito pequeno. No corredor só havia três quartos e sem vestígios de um andar acima.
— Bem-vindos ao nosso cafofo! — Zack abriu a porta.
Logo as mochilas estavam jogadas num canto e os caras resolveram deitar um pouco para descansar.
— A gente sai daqui às 4 horas. Vocês ouviram? — Alex avisou enquanto subia a escada do beliche.
— Ainda faltam duas horas. — Kara disse como se fosse tempo o bastante para se arrumar umas três vezes.
— Hum... Eu acho que vou tomar banho primeiro. — Maria pegou sutilmente sua mochila e correu para o banheiro.
— Vaca! — Aiala rolou os olhos, tão preparada quanto Maria para se arrumar.
Kara olhou assustada, imaginando o porquê de elas demorarem tanto.

Trinta minutos depois, ouviu-se o barulho da porta do banheiro abrindo e fazendo Aiala e Kara olharem imediatamente na direção dela.
— A próxima pode vir. — Maria anunciou e fechou de novo a porta.
As duas se encararam. Aiala olhou para trás e certificou-se de que todos estavam dormindo, menos Alex e Jack, que estavam em cima, e ela não era gigante para poder ver se eles estavam acordados ou não, mas Alex com certeza estava dormindo.
— Pode ir, Kara. Eu espero...
Por um segundo, Kara achou que Aiala estava ficando maluca. Mas estava na cara que a outra estava apenas tentando ser educada.
— Nada, Aiala. Você pode ir primeiro. Eu não me importo de ser a última... Até porque eu me arrumo em quinze minutos. — Depois, Kara diminui o tom de voz: — E eu aposto que o Zack adoraria te ver bem bonita.
Os olhinhos de Aiala brilharam o mais forte possível. Kara tinha a ganhado com uma simples frase.
Na outra cama, Zack escondeu o riso para não deixar ninguém ver que ele tinha escutado tudo.

— O que é isso? — Aiala espantou-se ao entrar no banheiro e vê-lo inundado.
— Hum... Única opção: erro de engenharia. — Maria respondeu enquanto se maquiava de frente para o espelho. — Eu tentei enxugar, mas só piorou a situação. Parece que tem algum vazamento nessa pia, e o box do chuveiro não escoa a água para dentro, escoa para fora!
— Ótimo! — Aiala reclamou com sarcasmos e entrou para tomar banho. — AI!
— Também me esqueci de falar... — Maria avisou com atraso. — O chuveiro dá choque.
Muito agradecida, Aiala pegou a toalha para abrir o chuveiro e continuou seu banho.

Quanto mais se aproximava a hora do show, mais tenso ficava o ar naquele quarto. Já estavam todos sentados pelo quarto, batucando, viajando, olhando a unha, esperando pelas duas princesas, que nunca terminavam de se arrumar: Aiala e Maria.
— Puta que pariu! Vocês podem adiantar aí, por favor? — Alex resmungou, já impaciente por ter esperado tanto.
Faltavam 20 minutos para as quatro horas e as duas ainda brigavam por um lugar ao espelho.
— Por que todas as mulheres não podem simplesmente ser que nem a Kara? — Rian reclamou. — É tão simples ser simples!
Kara o olhou sem expressão, mas, no fundo, estava decepcionada por ouvi-lo. Ela não queria ser simples. Ela queria ser especial.
— Vocês deixem de agonia! — Aiala saiu do banheiro com um ar superior. — Não é só porque nós não vamos subir no palco que temos que ir de qualquer jeito.
— Além disso, o amor da minha vida pode estar em qualquer lugar. — Maria completou. — Eu não quero que ele tenha uma péssima primeira impressão, ok?
— Mas, se é o amor da sua vida, deveria te aceitar assim, como você é, não acha? — Jack lançou seu olhar no fundo dos olhos de Maria, fazendo-a sentir um arrepio repentino.
O que ela poderia dizer? Jack a deixou intimidada.
Whatever!
Parando para pensar, Jack estava mesmo certo. A pessoa com quem Maria queria passar o resto da vida não podia querer mudá-la, até porque não dá para ser bonita sempre. A pessoa teria que se acostumar com os dias de preguiça, que se arrumar é a última coisa que qualquer mulher quer fazer na vida, aquela semana que não dá para ir fazer a unha e que o cabelo está todo bagunçado. Esta era a graça: não ser perfeita o tempo todo. Como todos lá foram a viam. A verdade era que ela queria encontrar alguém que não se importasse apenas com sua aparência, mas com seus sentimentos também, que compreendesse as suas escolhas, por mais difíceis que parecessem ser.
Enfim, aceitar quem ela é. 

Show Girl [COMPLETO]Where stories live. Discover now