Capítulo 7

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  Nem segunda, nem terça, nem quarta.
Holly não havia aparecido no colégio, Maria sentia-se culpada pelo sumiço dela e, como Jack passou o que Holly havia dito sobre não procurá-la, respeitou o desejo da amiga e não ligou. Precisava mesmo daquele espaço. Conhecia a amiga e nunca houve segredos entre elas, não até aquele momento. Deveria estar sendo extremamente difícil para Holly suportar.
Alex não falava direito com Jack, mas tinham que continuar com a banda e era por esse motivo que estavam todos na casa de Jack, ensaiando. Apesar dos últimos acontecimentos, eles precisavam ser maduros quanto ao sonho em comum.
— Alex, você que não tá fazendo nada, atende lá pra mim. — Jack pediu enquanto arrumava o porão com a ajuda de Rian, e o telefone tocava insistentemente.
Mesmo mal humorado, Alex arrastou-se até o telefone, que, por um toque, não caia na secretária eletrônica.
— Aff, Jack, se o mundo dependesse de você, estaríamos perdidos. — Alex assustou-se ao ouvir a voz divertida do outro lado da linha.
— Holly?! Onde você tá? — ele questionou em um só fôlego, tremendo ao falar aquele nome, e não obteve resposta. — Alô?
Holly suspirou do outro lado da linha, controlando todas as suas emoções e segurando as lágrimas ao ouvir aquela voz que trazia tantas emoções.
— Você poderia chamar o Jack, por favor, Gaskarth? — ela fez a voz mais compenetrada e educada que pôde.
— Só um segundo — ele respondeu decepcionado. Pensou em falar mais alguma coisa, quem sabe, fazê-la voltar de onde quer que ela estivesse, mas simplesmente levou o telefone até Jack.

— Finalmente! Podemos começar o ensaio agora? — Rian se dirigiu ao seu lugar e olhou o relógio. — Uma hora e meia esperando... Onde você foi, hein?
Alex olhou, curioso, para o amigo. Sabia que Jack havia ido se encontrar com Holly, mas queria saber mais do que apenas isso. Queria saber o que falaram, por que ela desapareceu, o que ela pensava que estava fazendo, todo e qualquer detalhe que pudesse mantê-la por perto.
Jack coçou o nariz. As coisas realmente iriam mudar.
— Eu só precisava falar com a Holly.
Os outros dois olharam para Jack, já que Alex não desviara sua atenção um segundo.
— O que aconteceu de tão urgente? — Zack preocupou-se.
— Bem... Ela queria se despedir.
— Por quê? — Alex não conseguiu ficar calado. — O que ela vai fazer? Para onde ela vai?
— Calma, Alex, calma. — Então, explicou: — Holly disse que precisava passar um tempo fora, então, achou melhor ir à casa da tia no Canadá.
— Mas e o colégio? Ela não pode abandonar!
— E não vai. Não é como se ela estivesse se mudando, só vai passar uns dias.
Jack decidiu omitir a parte que dias poderiam tornar-se algumas semanas, que poderiam até tornar-se meses, pois Holly não havia deixado claro quando voltaria e se voltaria sequer a frequentar a mesma escola em que eles estudavam. Alex sentiu uma vontade imensa de ir atrás dela.
— Não adianta. Há essa hora, Aiala está colocando-a no avião. — Jack interrompeu, adivinhando os seus pensamentos.
— A Maria sabe?
— Acho que nem imagina.
— Por que, hein? — Alex perguntava-se em voz alta, mesmo que olhando para Jack. — Ela disse que não se importava, mas ela se importava, sim! Eu achei que ela não ligaria e continuaria a ser amiga da Maria... Então, por que ela foi embora?
— Ah, vai encher o saco de outro. — Jack disse impaciente. — Até parece que tinha como entender uma coisa dessas!
— A Holly te contou? — Alex ficou boquiaberto.
— Não foi como se ela estivesse fazendo fofoca, mas ela precisava contar para alguém o que a perturbava tanto. — Os outros dois estavam viajando na história, não conseguiam nem imaginar o que eles estavam falando. — E qual é?! A garota que mais te amou e vai te amar na sua vida inteira está, agora, num avião, para tentar te esquecer de vez, engolir essa história da melhor amiga, e você vem se preocupar se ela me contou os motivos ou não?! É cada uma que eu tenho que presenciar, viu?
Jack largou o ensaio e foi à cozinha, tomar um copo de água. Às vezes dava vontade de socar certas pessoas por serem tão estúpidas.

O clima para tocar já tinha ido embora. Alex não parava de passar a mão pelo rosto, desesperado, como se tudo estivesse perdido. Tentando pensar em alguma coisa que poderia fazer. Não acreditava que Holly estivesse indo embora assim, mas, ao mesmo tempo, perguntando-se se deveria mesmo fazer alguma coisa para impedi-la, se é que havia tempo de fazer qualquer coisa. Jack não voltou à garagem, e os outros dois conversavam entre si, com medo de perguntar qualquer coisa que fosse.
De repente, a porta abriu de vez, revelando uma Aiala chorosa.
— Eu fiz a Holly ir embora! — E desabou em lágrimas. — A culpa é toda minha.
Todos se assustaram com a entrada repentina da menina, porém, Zack levantou para abraçar a namorada.
— Não, meu amor. A culpa não é sua.
— Então vamos dividi-la em duas partes iguais, que eu sei que também tenho culpa nisso. — Maria entrou cabisbaixa, seguida de Jack.
— Mas eu que falei pra ela ir ao Canadá! — Aiala desesperou-se. — Se eu nunca tivesse dito isso, ela nunca iria lembrar que tem uma tia lá e nunca iria ficar longe de mim. De nós.
Alex se remoeu por dentro. O pior não era se sentir culpado pela viagem de Holly e, sim, por sentir que a perdeu para sempre.
— A culpa é de vocês! — Aiala não conseguia mais controlar-se. — De todos vocês! A culpa é sua, Alex, por ser um idiota! Mas eu que a fiz conhecê-lo...
E mais uma vez, Aiala começava a chorar.
— Se eu não tivesse começado a namorar o Zack...
— Ah, não, amor. Agora vai dizer que se arrependeu de ter me conhecido também? Assim eu não aguento! — Zack tentou dar um toque de humor naquela situação. — Como que eu iria viver sem você?
— Vocês não vão sentir falta dela? — Aiala perguntou com a voz embargada. Acreditava que tudo poderia ser diferente, se seus amigos tivessem tentado convencê-la que partir não era a melhor ideia.
— Eu já vou. — Alex levantou. Ele não queria ficar ali, ouvindo todo aquele drama sem sentido.
— Vá mesmo, seu frouxo! Eu perdi minha melhor amiga por sua culpa! — Aiala gritou com ele, enquanto o via bater a porta. — E vocês não estão nem chorando, vocês não vão mesmo sentir falta dela?
Alex saiu de fininho, sem deixar as palavras de Aiala passarem perto do seu ouvido. Ele não tinha culpa. Ele queria se convencer que não tinha culpa de nada.
Porém, esta era a ordem das coisas: ninguém esquece e um sofre mais que o outro.
— Não é assim, Aiala. — Rian resolveu se pronunciar. — Todos nós amamos a Holly igual ou mais que você.
— O que tá em questão, meu bem, é o que é melhor para ela.
Zack olhou nos olhos da namorada, tentando fazê-la parar de chorar e de lamentar tanto por isso.
— E, além disso, ela vai voltar. — Rian continuou.
— Não para nós. — Jack suspirou, sentando-se ao lado de Maria. Todos o olharam, questionando. — Ela me disse que não se sentiria bem em sentar junto conosco no almoço, nem sair por aí com a gente.
— Ela não pode fazer isso comigo. — Aiala voltou a chorar, abraçando-se a Zack.
— Aiala, vamos para casa? — Zack perguntou gentilmente e levantou-se, puxando Aiala junto. — Assim, você se acalma, vai.
Sem falar nada, Aiala aceitou e foi embora.
— Bem, acho que essa é minha deixa, não é? — Rian também levantou-se e foi embora.
Agora, só restavam Jack e Maria, sentados um ao lado do outro.
— Isso não tem nada a ver com Aiala, não é? — Maria falou, de cabeça baixa, deixando a tristeza transparecer. Queria poder voltar no tempo e fazer tudo certo desta vez. — Tem a ver comigo.
— Eu diria que tem mais a ver com Alex.
— Ela te contou, não contou? Sobre por que parou de falar comigo?
— Contou... — Jack a olhou.
— Será que seria diferente, se eu tivesse contado a ela? Ao invés de ela ter descoberto sozinha? — Maria também o olhou.
— Ah, Maria... A história da Holly é complicada. Talvez, tivesse sido menos impactante, se você tivesse aberto o jogo, mas, de qualquer maneira, não acho que Holly continuaria a falar com você.
Maria jogou-se em um abraço de Jack.
— Eu desistiria de tudo, se Holly voltasse a falar comigo! Ela sempre foi minha melhor amiga, sempre me ouviu... Sempre contou tudo pra mim. E eu? Deixei isso escapar...
— Eu não diria isso, se realmente achasse que tivesse volta, mas não acho que Holly vá voltar atrás tão fácil assim. Eu a vi chorando quando decidiu se afastar da gente. Eu vi a decisão transparecendo no olhar dela. Não vai ser fácil vê-la de longe, mas a gente tem que aceitar, não é? — Ele sentiu o cheiro gostoso que emanava do cabelo da amiga e voltou a olhá-la nos olhos. — Não tinha como terminar de outro jeito. Você sabia o quanto ela estava tentando ser forte e superar, mas Holly gosta muito de Alex, ela nunca esperava que isso fosse acontecer.
— Eu me odeio. E odeio ainda mais o Alex.   

Show Girl [COMPLETO]Where stories live. Discover now