Capítulo 4

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  - Desculpe.
Novamente Alex fez Holly parar no meio do caminho.
Eles já haviam chegado ao colégio e estavam indo para o campo, quando Alex cortou o silêncio entre eles.
Holly não entendeu as desculpas. Ele devia tantas que poderia servir para qualquer coisa. Principalmente pelo o que ele fez no passado.
- Por quê, necessariamente?
Alex hesitou ao olhar para ela, mas respondeu.
- Por quase te envolver numa batida de carro agora há pouco. – mas não era só por isso. Alex nunca conseguia completar a frase.
- Por mim... Não era eu que ia pagar o conserto, mesmo. – Holly deu de ombros.
Alex respirou fundo e eles voltaram a andar, ela se sentiu mal. Tinha dito que ia aceitar as coisas, não disse?
Fez menção de tocar nos ombros de Alex, mas se conteve. Podia acertar tudo sem colocar ainda mais sua saúde mental em risco. 
- Tudo bem, Gaskarth. A culpa não foi sua.
Ele olhou para trás e deu um meio sorriso fazendo Holly ter que ignorar o arrepio. 

Os dois continuaram o caminho até o gramado.

Chegando lá, tiveram que tentar achar os outros, o que não foi difícil. Eles estavam sentados na segunda fileira, atrás do banco de reserva do time da casa. O campo era separado da arquibancada por uma grade. Ali era quase um lugar reservado para eles, sempre sentavam ali. 
Como tinha imaginado... O jogo já havia começado.
- Holly! Pensei que não viesse. – Jack estranhou em vê-la ali.
- Nada pra fazer em casa além de pensar na vida. – Holly respondeu sorrindo, mas não sentou.
- Legal, veio pensar em músculos também... – Zack apontou para o campo, no qual os 20 jogadores corriam atrás da bola, enquanto os outros dois faziam de tudo para elas não entrarem no gol.
- Em coxas, especificamente. – ela gargalhou vendo a cara feia de Zack.
- Não vai sentar? – Jack perguntou.
- Nah, primeiro vou ver as meninas como estão...
Alex observou Holly descer as escadas e parar na grade. 

Aquela saia era muito curta, ainda mais com ela de salto, e aquelas pernas... Eram extremamente traiçoeiras! A vontade de tê-las em volta do seu quadril, fez com que se incomodasse com os olhares que ela recebia no caminho. Cerrou os dentes, para controlar-se, pedindo aos Deuses do Olimpo que fizessem aquela vontade passar.

Maria e Aiala ouviram Holly a chamar e foram lá ver o que ela estava fazendo ali. Alex viu Holly tentar passar pelo portão que dava acesso ao campo, mas o treinador a impediu. Ela deu de ombros, falou mais alguma coisa com as amigas e voltou.
- O que foi? – Jack perguntou, vendo-a sentar ao lado de Alex, no corredor.
- O treinador chato me impediu de ficar lá com as líderes.
- E...?! - Jack balançou as mãos como se dissesse 'isso eu sei, quero saber o porquê'.
- Ele disse que eu ia atrapalhar se ficasse lá. Porque eu ia querer conversar com as meninas e com os jogadores e blá, blá, blá. Somente pessoas autorizadas. – Holly fez cara feia. – Acho que perdi o encanto.
- Pelo amor de Deus, vocês vieram assistir a essa bosta ou conversar? – Rian reclamou apontando pro campo, fazendo Jack e Holly se resumirem as suas insignificâncias.
- Ui, a biba ta de TPM. – Alex zoou o amigo.
- Lá em casa a gente se resolve. – Rian não conseguiu ficar sério.
- UIIIIII! – Até Holly entrou no coral.
O jogo passava na sua tranquila inquietação, pelo menos para Alex e Holly. Ela não abriu a boca um segundo, a não ser quando um dos garotos a perguntava algo. Alex a inibia, ao máximo. Principalmente estando tão perto e tão longe... Ele não estava muito diferente, mas conseguia disfarçar melhor, fazendo uma piada de vez em quando, reclamando do juiz e comemorando quando as líderes iam comemorar mais um gol, a hora mais esperada para grande parte masculina da arquibancada.
Holly assistia novamente, pelo canto do olho, Alex rir, mostrando os dentes. E seus pelos se arrepiaram mais uma vez.
- Holly! – alguém que estava sentado na fileira de cima a chamou colocando as mãos nos braços dela. - Não tinha te visto aqui!
- Blake?! – ela o olhou surpresa, sentindo a mão quente de Blake passar pelos seus braços arrepiados. – Desde quando você está aqui?
Alex olhou para trás.
- Cara, isso tudo é frio? – Blake esfregou suas mãos nos braços de Holly.
- Um pouco. – ela disse sem graça.
- Hey, cara. De boa? – Blake viu Alex o olhando.
- Ah, sim, beleza. – Alex respondeu rápido se virando novamente para o jogo, mas com os ouvidos bem atentos.
- Sério mesmo. Você não tava aí desde o começo, tava? – Holly começou a achar que esse garoto tinha poderes paranormais.
- Nada, cheguei por agora!
- Ah, sim. Achei que tivesse ficando maluca já.
- Já?! – ele brincou e Holly riu também. – Mas eu pensei que você não se interessasse por futebol, o que veio fazer aqui?
- Cheerleaders.
- Mas como assim, em tão pouco tempo você já mudou de time?! – Blake se fingiu assustado.
- Ai, que bobo! – Ela deu um tapa leve na mão dele. – Maria e Aiala gostam de plateia.
E foi só lembrar delas que a música de intervalo começou a tocar. Chamando a atenção de todo mundo para aquelas garotas e garotos de uniformes vermelhos no centro do campo.
- Falando nelas...
- Ô Blake, vai lá na lanchonete comprar alguma coisa pra gente beber! – um dos amigos dele pediu.
- Porra, cara. To aqui no maior papo com a garota, 'cê vem atrapalhar... – Blake brincou.
- Ih, que nada. A Holly não se importa, não é?
- Longe de mim! – ela abriu os braços.
- Ta vendo, já ta na tua, gatxenho. – o amigo de Blake jogou um beijo.
- E é assim fácil, é? – Holly se fingiu ofendida e riu depois.
- Você quer alguma coisa? – Blake a perguntou se levantando. – Aproveite que eu to bonzinho!
- Droga, só por que eu não quero nada!
- Nem um beijinho? – Blake fez biquinho.
Alex contraiu o pulso, sem olhar para trás.
- Vai logo, Blake. – Holly o empurrou rindo.
Enquanto Maria arrancava suspiros e gritos da arquibancada.
- O que a Maria faz pra ficar cada dia mais gos... – Jack parou ao se lembrar de Holly ali - mais bonita?!
- A mãozinha de Deus foi bem generosa com ela... – Alex, segundo Holly, olhou interessado para Maria. – Além disso, ela ta fazendo o que gosta, qualquer uma fica bonita quando ta feliz.
Holly se perguntou o que a fez ir até ali e ouvir Alex falar da sua melhor amiga com tanto orgulho e interesse. Será que ele também tinha essa mesma animação quando falava dela? Não pôde deixar de imaginar.
Ciúmes? Raiva. Dos dois. Maria estava a enganando e Alex não tinha o direito de ficar com sua amiga. Podia ser qualquer uma, menos sua melhor amiga.
Entediada e com raiva dos arrepios, apoiou o cotovelo na perna e o queixo na mão.
- Se tava com frio era só pedir o casaco. – Alex ofereceu o seu moletom, que deveria caber duas de Holly.
- Quem disse que eu to com frio? – ela o olhou.
- Os pelos do seu braço e da sua perna. – ele colocou seu casaco nas costas de Holly. – Não sei por que você insiste em usar essas mini-saias.
- Obrigado pela preocupação, Gaskarth, mas eu não preciso dela. – ela jogou o moletom no colo dele.
- Não é preocupação. – ele levantou a sobrancelha – É a consciência. Se você ficar doente, quando eu for pro céu vão ter uma acusação contra mim.
- Não vai fazer diferença, eu tenho certeza que você não vai pro céu.
- Aceita logo e deixa de história. - ele rolou os olhos, impaciente.
Holly não tava a fim de discutir. Aceitou sem falar mais nada, mesmo com tudo o que aconteceu, com o ressentimento, era bom saber que Alex se importava com ela.
Mas era péssimo ter que sentir aquele cheiro que a levou do céu ao inferno, tão de perto, tão intenso de novo. 

Show Girl [COMPLETO]Where stories live. Discover now