Capítulo 5

54 10 10
                                    


  — Vai lá, Holly, o Alex vai me pegar na porrada daqui a pouco. E de graça! Antes, eu tivesse te pegado. — Blake riu, olhando para o grupo de amigos de Holly. — Levei a fama e nem aproveitei... Já basta de ter que receber essas ondas de ódio vindas dele.
Holly lembrou-se do papelão que fez na frente de Blake.
Como, pelo amor de Deus, poderia ter desistido no último momento? O que passava pela sua cabeça infantil em não ter ficado com aquele cara tão gente boa, educado e que se importava com ela?

Maria o chamou para juntar-se as três no sofá, no dia da festa, e, não tão delicadamente assim, as outras duas os deixaram sozinhos. Blake e Holly conversaram por algum tempo, enquanto trocavam olhares intensos, e foi quando a mão de Blake escorregou, parando nas coxas de Holly.
— Você não quer ir a um lugar mais reservado? — ele perguntou, já levantando do sofá e estendendo a mão.
O que Holly poderia estar perdendo em aceitar? Blake era bonito, com mãos firmes, e apostava que sabia beijar muito bem. Não havia o porquê em recusar e, inclusive, estava precisando de alguém que balançasse o seu mundo.
Aceitou o convite, sem pensar duas vezes.
Não parecia existir qualquer espaço reservado naquela casa, mas tinha um lugar em que ninguém iria achá-los.
— Vem, eu sei aonde a gente pode ir. — Holly guiou Blake. Atravessaram uma cozinha "virada de cabeça para baixo" e, ao invés de virarem para ir ao quintal, onde a maioria das pessoas concentravam-se, ela entrou numa porta discreta, quase despercebida: a dispensa.
Ela sorriu, tímida, e então, colocou uma de suas mãos na nuca de Blake, pronta para puxá-lo, fazendo suas bocas encontrarem-se, mas, antes que qualquer troca rolasse, a porta se escancarou, fazendo-os ficarem momentaneamente cegos pela luz que entrava sem permissão.
— Ôpa! Desculpa. — Hollyreconheceu a voz ao mesmo tempo que seus olhos voltavam a enxergar. Alex. — Eu só vim pegar uma coisa aqui.
Com olhar intimidador, ele meteu-se entre os dois, ficando de frente para Holly e de costas para Blake. Era ele não perdendo a oportunidade de provocá-la. Encararam-se por longos segundos, fazendo-a segurar o ar para controlar todas as suas emoções. Queria muito bater naquela cara linda, mas sabia que nada bom aconteceria depois. Ele esticou-se, para pegar um pote na última prateleira, e Holly desviou a atenção para os seus pés. Que merda aquele garoto estava fazendo ali, justo naquela hora? O que tinha feito para os céus? Que pecado tão grande cometera para ser castigada daquela forma?
— Podem continuar agora. O espaço é todo de vocês. — Alex ironizou e saiu tão rápido quanto entrou, batendo fortemente a porta atrás de si.
Ela soltou todo o ar guardado em seus pulmões de uma vez só. De repente, não queria mais ficar ali, tudo estava muito perto e apertado. Sentia-se sufocada e sem direção.
— Eu preciso de um minuto.
— Ih, Holly, você vai me desculpar, mas nisso, eu não vou me meter, não. — Blake abriu a porta. — Vamos ficar ali com meus amigos, vem.
Ele passou o braço pela cintura de Holly, que se aconchegou em seus braços.

O jogo já havia acabado, e Holly ficou conversando com Blake, enquanto esperavam as meninas irem trocar de roupa. Os meninos foram conversar com outro grupinho, mas Aiala e Maria já estavam prontas, e agora, só estavam esperando Holly para poderem ir embora todos juntos.
— Grande pessoa é o Gaskarth. — Ela rolou os olhos.
— Para você, é.
— Cala a boca, Blake. — Holly cruzou os braços, emburrada. — Quer saber, é melhor eu ir mesmo.
— Não sem antes me dar um beijo. — Blake a puxou, fazendo Alex contrair seus músculos ao pensar que ele iria beijá-la. Mas era só mais uma brincadeirinha de Blake. Ele beijou a bochecha de Holly. — Para o Alex, você também é uma grande pessoa.
Blake a fez olhar curiosa para Alex, que virou-se imediatamente para os amigos, sem deixá-la perceber a irritação que transparecia em sua expressão, porém não deixaria a esperança crescer novamente. Sabia onde tudo aquilo desaguaria e não podia se dar o luxo de estar naquela posição novamente.
— Não para o Gaskarth que eu passei a conhecer... — Holly suspirou fundo, como se carregasse um grande peso nas costas.
— Eu ainda vou descobrir como vocês passaram de casal chiclete a casal água e óleo.
Holly deu língua, parecendo uma criança mimada, e deixou Blake rindo sozinho. Lá estava ela, indo à alcova dos inimigos. Como tudo mudou assim tão drasticamente? Até sua melhor amiga tinha se bandeado para o lado de lá... O que ela ainda fazia andando com eles? Era a pergunta que ecoava na mente de Holly a cada passo que dava ao encontro dos amigos. Não havia mais motivos coerentes para isso. Os dois principais motivos para ela estar ali a apunhalaram pelas costas. Convenceu-se de que era por causa de Aiala que iria. Ela, sim, era uma amiga de verdade. Também tinha Jack, que era o mais próximo dos garotos agora.
— Dez horas depois... — Alex reclamou. — Será que dá para ir ou alguém ainda vai parar para falar com o namorado?
— Esperou porque quis. Eu tenho pernas e sei usá-las. — A raiva foi aumentando à medida que Holly via Alex e Maria cada vez mais perto, até que Maria segurou a mão de Alex para evitar que uma discussão começasse.
— Ok, esta é a hora de ir embora. — Maria determinou.
Enquanto os outros seguiam o casal, Holly não conseguiu levantar o pé do chão. Tinha alguma coisa errada dentro dela e só piorava ao ver Alex reclamando e Maria o acariciando para acalmá-lo.
— Holly! — Jack percebeu que a amiga não se mexeu e a chamou.
Ah, claro. A coisa errada dentro dela era o seu cérebro, que não conseguia ser racional o suficiente para aceitar que acabou tudo.

— Tá tudo bem? — Jack preocupou-se ao ver Holly encolher-se no banco de trás, com um olhar distante, cheia de pensamentos. Rian dirigia o carro, enquanto Aiala, Zack e Maria estavam no carro de Alex. Pareceu uma reivindicação geral e implícita não deixar Alex e Holly no mesmo carro.
Ela encolheu-se mais ainda, cobrindo-se com o casaco de Alex, que ainda estava em suas mãos. Aquele cheiro... Fechou os olhos, para não deixar as lágrimas caírem, mas, inevitavelmente, algumas escaparam.
— Não, mas vai passar. — Holly esfregou os olhos, borrando o lápis de olho. — É idiotice minha.
— Você sabe que não é só sua.
— Mas parece. Sempre sou eu a infantil, a egoísta, a culpada pelo mundo ser do jeito que é. — Holly tapou os olhos com as mãos. — Por que não podia ser diferente?
— Bem... Eu acho que as prioridades mudam com o tempo. — Jack tentou ser o mais cauteloso possível; ainda assim, Rian o reprovou com o olhar. — É só uma questão de tempo, até se acostumar.
— E se o tempo resolver não passar para mim? —Jack sentiu algo o atingir quando Holly, com os olhos brilhantes por causa das lágrimas, o olhou. — É isso que eu sinto. Já faz tempo, não é? Para vocês, esses meses não parecem que aconteceram há muito tempo?
Jack apenas afirmou com a cabeça.
— E para mim? Cada dia em que eu acordo, parece que foi ontem que tudo aconteceu. Sempre. Eu ando tão cansada de esperar uma desculpa. Às vezes, eu sinto que estou só tentando exigir que uma palavra saia da boca dele, mas isso é algo que não se pode obrigar. E eu sinto que estou errada por isso, ao mesmo tempo, sei que estou certa. — Holly respirou o mais fundo que podia. — Enfim, acho que estou mesmo é cansada.
Os garotos calaram-se. Parecia besteira dizer que o tempo curaria quando não se está envolvido no problema. E, com certeza, não adiantaria falar isso para Holly. Eles nem sabiam ao certo o que dizer. Nunca tinham visto esse problema pela perspectiva dela... E, pelo seu ponto de vista, parecia bem mais doloroso. Talvez, porque Alex quem decidiu tudo, do nada.
Jack apertou a boca, na tentativa de controlar suas palavras. Sabia que seu melhor amigo o mataria por estar falando isso, porém, ele não poderia deixar uma amiga sua sofrer deste jeito, não na sua frente.
— Hum... Holly — saiu quase como um suspiro. Ele não tinha certeza se falaria isso, no entanto, alguém tinha que fazer alguma coisa para ajudar, certo? — Talvez, eu esteja errado... E, também, não é isso que nenhum de nós queremos, só que... Bem, você não acha que seria melhor se afastar por um tempo? Talvez, quando voltar, tudo possa estar diferente.
E Alex com Maria, era só o que Holly conseguia pensar.
Jack olhou para os pés de Holly. Ele não conseguiria olhar nos olhos dela. Com certeza, ela estaria chorando. Rian balançou a cabeça, sem acreditar no que o amigo tinha dito, apesar que, no fundo, ele também achava que era o mais certo a se fazer.
— Tipo, não precisa esquecer da gente também, só do Alex. — Rian tentou fazer alguém rir e conseguiu arrancar um meio sorriso de Holly.
Refletiu as palavras de Jack, preocupada com a sua decisão.
— Eu preciso de um abraço. — Agora, ela não conseguia mais segurar o choro.
— Isso, eu faço de graça! — Jack, num pulo, foi para o banco de trás e recebeu um abraço muito apertado de Holly, que, incontrolavelmente, derramou litros de lágrimas.
Os amigos não estavam errados. Ela mesma já tinha pensado em se afastar. Mas isso os tiraria dela... E não havia nada mais importante. Eram sua segunda família, o seu porto seguro, sua fonte inesgotável de diversão. Porém, não parecia ter outra saída. Até sua melhor amiga, ela já havia perdido para Alex.
— Rian...
— Diga, senhora.
— Será que você pode me deixar em casa?
— Você é quem manda, eu só sou o choffer.
O caminho para casa foi renovador. Era bom sentir que Jack estaria ao lado dela. Pelo menos, com alguém ela poderia contar sempre.
— Ai, droga. Tô sem a chave. — Holly suspirou fundo ao ver que as únicas coisas que havia em seu bolso eram o celular e algum dinheiro.
— Seus pais não estão em casa? — Rian perguntou.
— Não. Eles saíram. Vou ligar. — Não era possível que justo hoje que a filha queria estar em casa, seus pais tivessem saído. Tudo o que queria agora era a sua cama, o seu quarto, as suas coisas. — Na caixa.
Ela suspirou fundo. O jeito era ir à casa de Aiala mesmo.
— Tudo bem, vamos pra lá. Eu vou deixar um recado no celular da minha mãe para ela ir me buscar quando tiver voltando.
Rian ligou o carro e dirigiu em direção ao destino inicial. Holly até tentou ajeitar-se, para fingir que nada tinha acontecido, mas seus olhos inchados e seu lápis borrado não deixaram.
— Hum... — Jack parou para olhar o modelito que ela vestia ao saírem do carro. — Sexy. Ainda mais com esse casaco masculino.
Holly não teve como não rir e foi abraçada com ele até lá dentro.
— Chegou quem faltava! — Zack anunciou a chegada deles. — Alguma coisa errada, Holly?
Logo, os outros três apareceram atrás. Maria pareceu mais preocupada que os outros, o que deixou Holly magoada. Para ela, preocupação excessiva sempre significava outra coisa.
— Nada, Zack, eu só tô com dor de cabeça... — disfarçou. — Aiala, tem remédio aí?
— Vamos lá em cima comigo — ela disse, subindo as escadas.
— Quer ajuda pra subir também, Holly? — Jack brincou.
— Para quê? Ela tem pernas e sabe usá-las. — Alex intrometeu-se, jogando-se no sofá e abrindo uma cerveja.
— O Gaskarth aprende as coisas rápido. — Ela piscou para Jack, abrindo um sorriso forçado, e seguiu Aiala, assim como Maria.

— Você estava chorando. — Maria cantarolou quando Holly sentou-se na cama.
— Eu sei que está escrito na minha cara.
— E pode-se saber o motivo?
— Para quê? Só quem pode resolver sou eu. — Ela foi grossa, mas não aguentou. Por mais que acontecesse qualquer coisa, a raiva de Holly por Maria seria sempre passageira. — Ainda é a mesma questão sem solução aparente.
— Ow, Holly. — Maria sentou-se na cama também, já imaginando o motivo. — Dói te ver assim. Mas você já pensou que essa história está se prolongando muito e acabando contigo?
A raiva era passageira, mas sempre voltava. Holly sentiu que daria um tapa na cara de Maria, naquele instante. Ela só estava falando aquilo para deixar o espaço livre. Como podia ser tão ousada àquele ponto?
— Tudo bem que vocês se amavam, só que o Alex foi babaca o bastante para terminar tudo. — Aiala resolveu opinar. — Isso significa que ele não te merece, Holly.
— Ou que eu não o mereço. — Holly achou que ia começar a chorar de novo.
— Não, nem vem! Amiga minha não fica por baixo, não! — Maria tentou aliviar o clima, mas Holly não estava para brincadeiras hoje.
— Gente... Eu sei que vocês têm sempre as melhores intenções, mas eu só preciso ficar sozinha e pensar em algumas coisas. Eu tô meio cansada, sabe? Não se preocupem comigo, vão lá pra baixo, salvem o sábado de vocês! — Holly abriu um meio sorriso, esforçando-se para parecer brincalhona. — A amiga carente, descontrolada e que não consegue esquecer as pessoas vai deitar nesta caminha e não vai atrapalhar.
Maria e Aiala entreolharam-se.
— Abraço! — As duas gritaram, agarrando Holly, que não pôde não rir com a cena.
— Amiga, eu quero você de volta regueando com a gente! — Maria beijou a bochecha da amiga e soltou-se do abraço. Aiala a imitou.
— Dorme com os anjinhos — disse, encostando a porta ao sair do quarto.
E lá se encontrava Holly de novo, sozinha. Contudo, fazendo o que ela tinha fugido por um bom tempo: pensando nela e em Alex, no que o futuro poderia se tornar. Isso a deixava inquieta, com a sensação de desconforto, que só aumentava à medida que mexia-se na cama, sem encontrar uma posição. Mandou uma mensagem para a mãe. Ela precisava ir para casa com urgência.
Não conseguiu evitar o pensamento de que estava sempre esperando uma desculpa, como havia dito a Jack. Toda vez que dera a chance de colocar as coisas no lugar foi indo atrás de um perdão, um sentimento de arrependimento que fosse, o que gerava mais uma confusão, outro motivo para mais uma desculpa necessária surgir. Estava errada em exigi-las, não seriam verdadeiras. Foi assim... Elas foram acumulando-se. Havia uma caixa inteira com os motivos que ele teria que pedir desculpas e nunca disse.
Ela as guardava, com algum tipo de esperança, porém precisava se dar conta de que não eram necessárias. Se havia tantas assim para receber, talvez, a errada fosse si em correr atrás delas.
Deixá-lo para trás parecia uma boa saída, pois, assim, nunca mais precisaria esperar a desculpa de ninguém.
Acabou adormecendo, pensando nas palavras de Jack. Não podia ter um talvez. 

Show Girl [COMPLETO]Where stories live. Discover now