22.

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- Desculpa. - afastei-me dele, indo em direção ao exterior, logo me sentando no pequeno sofá-baloiço que ali se encontra, tal era a fraqueza que sentia nas pernas e o misto de emoções que me dominavam.

- Benedita.. - ouvi a sua voz e notei que este já se encontrava do meu lado. Solucei novamente quando o jogador me abraçou pelos ombros, deixando um beijo nos meus cabelos.

- Eu não vou conseguir fazer isto, Rúben. - sussurrei contra o seu peito, agarrando-me à quentinha camisola que envergava. - Eu iria acabar por me destruir a mim, a ti e à nossa relação. - funguei, tentando acalmar o choro e nunca procurando o seu olhar, por receio das expressões que mostrava. Eu jamais iria aguentar ver um Rúben desolado. Não quando este era um pote de felicidade e energia constantes.

- O que é que tu queres dizer com isso, Benny? - interrogou. - Isso tem alguma coisa a ver com o tal de Nuno, não é? - respondi com um aceno. - Podes explicar-me, por favor, o que é que se passou alguns anos antes? Eu preciso de perceber! - o desespero na sua voz fez-me ceder.

- Estás preparado para ouvir a história cujo final de felizes para sempre não existe? - interroguei, finalmente colando o seu olhar no meu.

- Sempre estive. A questão era quando é que tu estavas. - murmurou e engoli em seco.

- Nunca. Mas não é por isso que eu não devo contar. Tu mereces saber o que se passou. Não para que tenhas pena de mim mas sim para teres a noção do porquê de eu ser assim e o porquê do que eu vou fazer. - prendi os meus cabelos num rabo de cavalo e bebi um gole do meu chocolate quente antes de iniciar.

- Desculpa fazer-te passar por isto. - deixou um demorado beijo na minha testa, o que resultou num choro compulsivo.

- A única culpada de tudo isto sou eu. - abanei negativamente com a cabeça, deveras transtornada por tudo o que estava a acontecer. - Há três anos atrás, tinha eu ainda dezassete, conheci o Nuno. Era judoca da cidade de Guimarães, transferido para o Sport Lisboa e Benfica, em virtude da mudança de cidade por parte da sua família devido ao trabalho do seu progenitor. Tinha vinte anos e foi o primeiro rapaz por quem eu senti realmente alguma coisa. Ele foi o meu primeiro em tudo. - pela sua expressão notei que este entendera do que eu falava. - Não nos conhecemos da melhor maneira e eu detestava aquele rapaz, exatamente por ele me fazer sentir emoções que eram totalmente desconhecidas da minha pessoa. Era constantemente assoberbada por ele e por aquilo que demonstrava ser. Foi quando eu percebi e me vi perdidamente apaixonada pelo Nuno. Completamente. Tão forte ao ponto de eu me ter deixado magoar por diversas vezes e deixasse que ele fizesse de mim aquilo que quis. O vimaranense era um ótimo profissional e tinha um talento nato para as artes marciais. Por isso, apenas alguns meses depois, um clube alemão, conhecido pelo número elevado de campeonatos ganhos na modalidade do judo, demonstrou todo o seu interesse em contratar o jovem. Ele, entusiasmado pela oportunidade dada, aceitou. Fiquei bastante feliz pela sua conquista. A insegurança que sentira pela nossa distância fora posta de lado pela sua garantia de que nada entre nós mudaria. Na ingenuidade que me caracterizava, acreditei. E assim, durante largos meses levámos a nossa relação à base das ligações através das redes sociais, nomeadamente o Skype, e telefonemas que duravam horas onde promessas de amor eram trocadas e as saudades pareciam imensas e verdadeiras. Eram honestas da minha parte. Já da parte dele, estavam longe de o ser, embora, tenha demorado tempo demais a perceber. Quando completei as minhas dezoito primaveras, solicitei aos meus pais autorização para me deslocar à Alemanha, numa visita surpresa ao Nuno. Eles, pela confiança que depositavam em mim, de imediato concordaram. Tudo desmonorou quando pisei solo germânico. Dirigi-me ao apartamento onde morava sozinho. Mas, ao lá chegar, dei conta que assim não o era.. - fui interrompida por ele.

Opostos | Rúben Dias Onde as histórias ganham vida. Descobre agora