Distintos

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-É só uma virose - digo tirando o estetoscópio do peito do menininho de oito anos que estava branco de tanto vomitar, nessa época era quase que normal ter tantas crianças assim no hospital.

Assim que concluo o ato, a mãe me olha aliviada e agradece tamanha paciência que tive com seu filho. Crianças são arredios e com certeza esse não foi nada diferente. Medo de injeção, de remédio e de se vai doer para ingerir ou apenas uma simples picada.

Amo minha profissão, não me vejo como mãe, mas, me dedico aos filhos dos outros.

Sento-me á mesa e prescrevo sua receita, sua mãe arqueia uma sobrancelha me observando e o acalma em seu colo, o pavor estampado em seu rosto faz com que eu me apresse. Indico coisas leves para comer como batata, cenoura entre outros legumes, e remédios que teriam que ser seguidos à risca. Nunca trato a virose como uma simples virose, eu sou cuidadosa com ela...

Assim que termino entrego a receita na mão da mãe do menino de olhos azuis, ela brinca com o papel nas mãos dele e sorri me agradecendo mais uma vez, sorrio como de praxe e assim que a porta se fecha, volto meus óculos que estavam em cima da mesa para meu rosto. Utilizo apenas para leitura, termino de fechar a ficha de Pietro, o menininho que havia acabado de ir embora com a mãe. Minha vida no hospital era basicamente isso, sou clínica geral, e quase nem vou para casa, trabalho é algo que nunca falta.

Nunca confiei minha profissão nas mãos de ninguém, por isso, muitas vezes me privo de coisas na minha vida para atender prontamente a área que escolhi seguir, aliás, ir para a minha casa era luxo nesses últimos meses.

-Posso entrar doutora?- olho Daniel colocar a cabeça entre o vão da porta me chamando, ele sempre faz isso quando vê alguém sair do consultório, sorrio e assinto permitindo que entre. Daniel é o melhor amigo que uma mulher pode ter, não é gay e nem me olha diferente. Na verdade ele é um completo "galinha" e eu tenho pena daquela que cruza sua vida ou cai em sua cama. Nunca havia tido sonhos eróticos ou imaginado eu e ele nos beijando ou coisas do tipo, dignas de um romance.

Ele era apenas... Meu amigo!

-Claro Doutor- sorrio, sua profissão é na área de Cardiologia, então imagine, um homem de um metro e oitenta, cabelos devidamente colocados para trás olhos castanhos claros e os músculos levemente torneados, sem contar no perfume másculo que emanava dele, dá para entender o poder que ele pode exercer em uma mulher né?

Nós entramos juntos, então já são três anos no mesmo local de trabalho, e são vários anos de amizade já que nos conhecemos desde o início da faculdade.

-Então, a senhora não tem casa? Já estou sabendo que está no hospital tem quase vinte horas e o máximo que fez foi dormir duas horas no quarto trinta e oito. Eu estou indignado! - O que mais me irrita é que ele segue cada passo meu, odeia essa minha ideia de ficar ali por horas. Na verdade eu gosto muito disso e não suporto que me digam ao contrário! Respiro fundo e estreito os olhos me contorcendo de raiva em minha cadeira, ele sabe que eu odeio isso.

-Daniel vai cuidar da sua vida! - falo sem me preocupar com ofensas, o que é difícil entre nós já que falamos qualquer coisa um para o outro.

-Não senhora... Eu apenas exerço minha função de melhor amigo, cuido de você. Lena Lakers dá para parar com essa infantilidade? Onde é que já se viu? Eu acho um absurdo dos grandes o que você faz. Todo mundo sabe que você vai conseguir o cargo de chefe geral, não é novidade para ninguém que você é a única qualificada. O que Kol tem a oferecer? Ele vai jogar sujo, mas o Michael te conhece e sabe o quanto pode contar com você, sabe também que a única que nunca o decepcionaria se chama Lena Lakers.

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