CAPÍTULO 31

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Kate

Eu... Deveria fazer algo...? Já se passou muito tempo...

Droga... Onde você está...?

Olhei pela milésima vez em direção a porta e nada. Limpei os olhos novamente, eles já estavam mais do que ardendo. Eu fungava o nariz repetidamente esperando que ele parasse, mas ele não parava. Algo em mim ainda continuava errado, ruim, nada ainda está cem por cento. Uma dor se agrupava em um só lado de minha cabeça, doía e doía sem parar, eram como ondas que batiam de uma forma repetitiva fazendo com que eu fechasse os olhos.

Isso é por que eu estou me lembrando... Isso é uma dor boa... Não é...?

Desde o choque sobre a... Charllote... Eu venho me mantendo no estado de piloto automático até chegarmos neste hotel. No momento, eu praticamente tenho dificuldade de saber onde eu estou. Em algumas horas parece mais que eu estou vagando de uma dimensão a outra. Uma hora, eu me vejo ao lado dele, em um elevador com o ar pesado, enquanto ele carrega uma pequena mala, me sentia triste, abalada emocionalmente como nunca havia ficado antes, mas de repente... Eu vou para outro lugar... A casa onde ele me mostrara em meus sonhos, mas desta vez não era ele quem me levava para lá e sim eu mesma, quando eu piscava, eu me via deitada em um banco de carro e via as pontas de seu cabelo negro enquanto dirigia no banco do motorista a minha frente, o ouvia falando comigo, mas eu mal conseguia responde-lo, quando eu tornava a fechar os olhos, me via no corpo de uma garotinha, correndo e correndo por uma casa enorme, e assim seguia-se, eu estava praticamente presa neste ciclo há horas.

- Mamãe, o que você está fazendo...?

- Alguns salgados para você e o Adrian comerem a noite, quer me ajudar a rechear...?

- Quero...!

Passei a mão sobre a cabeça com rapidez. Guarde, guarde, guarde, repeti a mim mesma diversas vezes. Guarde a voz, o modo de andar, falar, de como sorria, guarde tudo. Talvez só assim eu consiga fixar algo em minha mente. São as minhas lembranças, só minhas...! O mínimo que eu tenho que fazer é guarda-las dentro de mim, eu tenho que fazer isso pela minha família, pela minha mãe, meu pai, pela Charllote... pelos pais de Adrian, por ele.

Eu estava imóvel no mesmo lugar há quase uma hora sem saber o que fazer. Sentada no chão com as costas apoiadas a cama. Há uma hora, Adrian havia simplesmente se virado de costas a mim, pegado sua mala de roupas e saído sem ao menos dizer uma palavra sequer, como se o que eu tivesse dito a ele tenha sido apenas palavras vagas, mas mesmo com eu tendo gritado o seu nome diversas vezes em alto tom, ele apenas saiu trancando a porta e se distanciando cada vez mais do hotel com uma rapidez quase que absurda.

Eu achei que... Não era isso o que ele queria...? Mas ele apenas... Foi embora...

Olhei ao redor. As chaves do carro e celular ainda continuavam sobre a cama. Os meus cabelos haviam secado e se ondulavam cada vez mais nas pontas, mas as minhas roupas continuavam molhadas. Droga Adrian, eu não posso nem ao menos trocar de roupa, você levou a mala embora...

Claro, eu poderia quebrar a fechadura da porta com uma, ou duas cotoveladas, mas eu mal sabia o que havia acabado de acontecer. Antes mesmo de eu ter falado algo, ele parecia extremamente incomodado com outra coisa, tudo aconteceu tão rápido...

Me levantei e parei ao parapeito da janela. Coloquei a cabeça para fora para ver se encontrava algo, se eu o encontrava, mas nada. O ambiente estava pesado, estava difícil de respirar mesmo com um parque de uma imensidão de árvores a minha frente, era como um tapete enorme feito de grama, mas havia algo de errado com esta cidade.

Me virei com rapidez quando ouvi o som de algo no corredor, mas eram apenas dois humanos conversando sobre algo que eu mal prestei a atenção, eles logo entraram em um dos quartos voltando a me deixar no silêncio.

MERLOUSE - EM REFORMA (DESDE 07/05/2020)Where stories live. Discover now