CAPÍTULO 4

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Eu estava encarando aquela mesma estrada há horas sem qualquer noção de onde eu estava, mesmo que eu estivesse verificando o mapa a cada curva que ele fazia. Já se passava das 20hrs e eu podia ver perfeitamente que ele estava exausto. Eu não o vi dormir em nenhum momento, na verdade, acho que a única vez que eu havia visto ele dormir, foi quando nos encontramos na caverna em Dawson, mas eu já havia pedido pela centésima vez para trocar de lugar no volante para que ele pudesse dormir um pouco no banco de trás, mas ele apenas se recusou.

- Vai que você se perde enquanto eu estou dormindo.

Fala sério, ele estava com um GPS na cara, era impossível que eu me perdesse, mas eu finalmente desisti de pedir.

As horas foram se passando e o carro estava em um completo silêncio desde que saímos do posto de gasolina. Era desconfortável. Enquanto eu olhava para a escuridão da estrada pela janela, eu olhei discretamente para ele de soslaio.

Será que eu consigo puxar algum assunto? Se não, provavelmente ele dormiria ao volante.

Sim, claro que havia várias perguntas que eu gostaria de fazer a ele, mas eu não conseguia começar com nenhuma delas, no entanto, depois de muito tempo repetindo a mesma pergunta, eu finalmente tomei coragem e me virei para encara-lo.

- Você... você tem alguma música para ouvir aqui? Está muito quieto... - Me xinguei por inúmeros palavrões. Era para eu perguntar algo muito mais importante do que isso!

- Finalmente você falou algo, eu realmente não sabia como puxar assunto... - Ele deu de ombros - Bem, deve ter algo atrás do seu banco. Uma capinha de CDs, mas se não tiver nada que goste, eu posso fazer um Showzinho VIP.

- Não, eu vou procurar - Falei em um tom brincalhão e soltei o cinto de segurança. Me levantei com um pouco de dificuldade e literalmente pulei para o banco de trás.

- Ei, não coloque a bunda na minha cara, isso me desconcentra, quer que eu bata o carro? - Consegui ouvi-lo rindo com aquele sorriso charmoso e me encarando pelo retrovisor.

- Calado.

Me abaixei no banco e achei uma pequena capinha de CDs azul. Abri e comecei a procurar algo que eu conhecesse.

- Tem algumas coisas aqui que eu nunca ouvi falar na vida.

- Vai para a última aba, acho que pode ter algo de interessante.

Assim que fiz isso um sorriso se formou em meu rosto.

- Agora você conseguiu me impressionar - O último CD estava escrito "Coletânea do Linkin Park".

Pulei novamente para o banco da frente e coloquei o CD no rádio do carro, passou somente três segundos até que começou a tocar "Numb". Eu realmente tinha saudade de escutar música. Eu só tinha dezessete anos quando resolveram me levar para a floresta, para assim virarmos animais. Na época, os CCLs haviam matado muitos, e nós tínhamos entrado em um pequeno colapso e não podíamos fazer absolutamente nada, além disso, era a segunda vez que algo como aquilo havia se repetido, mas eu era apenas uma criança quando aconteceu. Eu sei que perdi muitas pessoas, mesmo eu não tendo alguma lembrança boa sobre qualquer um. Amigos, pessoas queridas e... Até onde me contaram... os meus pais... assim como me lembro de vagamente mais alguém... Mas o que me dói mais, é que eu não me lembro dos rostos de ninguém, absolutamente nada.

Uma pequena pontada fez com que a minha cabeça doesse, mas depois de pouco tempo, isso parou. Normalmente isso sempre acontecesse quando eu tento me lembrar de qualquer coisa que acontecera há muito tempo, e sempre acabo sem sucesso.

Parei de pensar assim que senti um cheiro estranho.

O que é isso...?

Me inclinei um pouco no banco e senti Vincent me encarando, mas logo o carro começou a acelerar ainda mais.

MERLOUSE - EM REFORMA (DESDE 07/05/2020)Where stories live. Discover now