CAPÍTULO 6

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Eu estava com sono. Com muito sono mesmo. Cansada de todas as formas possíveis, dolorida e manchada de sangue.

Já fazia algum tempo considerável no qual eu estava dirigindo, mas eu quase não enxergava a estrada a minha frente. Era aproximadamente 1h20 quando eu olhei no celular de Vincent. Adrian havia praticamente me infernizado o caminho todo, logo eu comecei a entrar em um leve estado de loucura. Já Vincent não dava nenhum sinal de que iria acordar.

Quando passamos por uma pequena cidade, eu tive que literalmente segurar Adrian dentro do carro. Eu estava apreensiva de um jeito horrível. Ele estava com fome e queria comer nada mais do que carne, humana ou animal. Nós não matávamos humanos há séculos - bem, não por diversão - chegamos a um ponto onde não havia mais a necessidade de mata-los para nos alimentar, logo muitos caçadores nos deixaram em paz, mas alguns como os CCLs, ainda continuam nos caçando sanguinariamente, mas entre outras questões, eu sinceramente não sabia por quanto tempo eu conseguiria manter ele do jeito que estava: Quieto e dentro do carro.

- Eu estou com fome... - Seu tom foi ríspido. Eu me encolhi um pouco quando percebi que ele estava me olhando de soslaio. Acho que estava pensando seriamente se deveria me devorar ou não.

- Sério? Eu nem percebi - Revirei os olhos tentando fazer pouco caso.

- Poderia ter me deixado sair - Ele falou assim que saímos da cidade e entramos na rodovia principal - Eu voltaria mais rápido do que você imagina.

- Para você se transformar no meio de todo mundo e matar alguém?! Não mesmo.

Adrian é um homem extremamente inteligente, mas em alguns momentos que até hoje eu não entendo o porquê, ele é extremamente impulsivo, logo ele faz tudo que der na cabeça a hora que ele quiser e quando bem entender, isso já era um dos motivos de eu odiá-lo.

- Eu iria ser discre... - Ele foi interrompido quando Vincent começou a gemer no banco de trás. Eu fiquei particularmente aliviada, eu já estava achando que ele havia morrido.

Vincent ainda continuava sem roupas, coberto por um pano e estava sujo com um pouco de sangue na cabeça e no peito. Eu não me atrevi a vesti-lo e nem optei pela possibilidade de Adrian fazer isso.

- Parece que ele já vai acordar... - Ouvi Adrian falando enquanto apoiava o braço na janela aberta.

Mas quase como uma ordem, Vincent se levantou rapidamente como se tivesse acordado de um pesadelo horrível me assustando. Ele estava soando e ofegante, logo ele colocou a mão sobre a cabeça como se estivesse doendo e olhou para quase todos os lados como se não soubesse onde estava inclusive para si mesmo várias vezes.

- Olha só quem resolveu acordar... - Adrian falou sem ao menos olhar para trás em um tom ríspido. Diminui a velocidade do carro enquanto encarava Adrian estreitando os olhos.

Olhei Vincent pelo retrovisor.

- Quem bom que você acordou - Tentei demonstrar um sorriso para ele, mas eu ainda não conseguia esquecer o que aconteceu, então desisti.

O encarei e ele parecia estar perdido em seus próprios pensamentos.

O que é você...?

Notei que um silêncio repentino se formou, apenas a respiração alterada de Vincent preenchia o ar a nossa volta.

- Estamos... chegando a um hotel que fica na rodovia, é melhor do que a cidade e... Temos muito que conversar com você - O meu tom foi sério e minha voz foi diminuindo conforme eu continuava a frase, mas quando o encarei, notei que ele estava encarando Adrian com certa tensão.

- Quem é esse cara...? - Ele passou a mão sobre o rosto - Por que ele está no meu carro...? Ele tem o mesmo cheiro daquele...

- Já me reconheceu pelo meu cheiro, impressionante - Adrian falou intrigado.

MERLOUSE - EM REFORMA (DESDE 07/05/2020)Where stories live. Discover now