Capítulo Bônus - Leonardo

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"Grego maldito!" pensei furiosamente quando o desgraçado do chefe de minha namorada deixou meu apartamento. Ainda estava sentado no chão, encostado a parede, tentando recuperar o fôlego. Sentia todo meu corpo doer. Nunca pensei que alguém tivesse tanta força assim e cheguei até a acreditar que a ameaça era real, caso contrário porque ele se daria ao trabalho? Não correria risco a toa, pois eu o podia denunciá-lo a polícia, coisa que até eu faria, mas era melhor deixá-los fora disso. Aquele assunto precisava ser resolvido entre Daniela e eu, sem a interferência de mais ninguém. Muito menos da polícia.

Naquele momento de revolta cogitei a possibilidade de ir imediatamente atrás dela e esclarecer tudo, mas estava muito fraco. Não sabia nem se teria forças suficientes para caminhar até a porta para trancá-la. "Além de o desgraçado invadir meu apartamento teve a capacidade de sair e deixar a porta escancarada. Filho da puta! Mas isso não ficará assim. Se ele quer guerra é isso que vai obter" concluí com raiva. Permaneci na mesma posição por mais de dez minutos e então decidi que era hora de levantar-me. Na primeira tentativa minhas pernas fraquejaram e caí novamente no chão, como se pesasse mais de uma tonelada. "Merda!" gritei alto e revoltado, pouco me importando se algum de meus vizinhos intrometidos havia escutado. Se fossem me incomodar mandaria eles a merda também. Costumava me irritar com facilidade e depois de ter meu apartamento invadido e ainda por cima "apanhar" eu poderia matar facilmente o primeiro que aparecesse na minha frente, apenas para descontar a minha fúria.

Felizmente ninguém se deu ao trabalho de checar e depois de cinco minutos fiz uma nova tentativa, dessa vez obtendo êxito. Ainda fiquei encostado à parede, mas estava em pé, o que já era um bom começo. Ofegava como resultado da força que tive de usar para me erguer e esperei mais um tempo antes de sair do lugar e quando o fiz senti e escutei alguns ossos estalarem. Fui em direção à porta, lentamente e com dificuldade, tranquei-a e fui atrás de algum analgésico perdido no banheiro. A pequena distância que percorri pareceu gigantesca e a cada movimento a dor aumentava, tornando-se insuportável. Para minha sorte encontrei um frasco com alguns comprimidos e tomei três de uma vez só. Em seguida deitei-me em minha cama para esperar que o medicamento fizesse efeito. A dor não diminuiu e fiquei imóvel por horas antes de conseguir pegar no sono. Encarava o teto no escuro do quarto e o único pensamento que dominava minha mente era o desejo voraz de vingança.

Devido a minha exaustão física, na manhã seguinte perdi a hora e acordei pior do que havia dormido. Até para piscar os olhos era um tormento. Sentia-me um trapo humano. Sempre detestei hospitais e clínicas e evitava esses lugares a qualquer custo. O odor pestilento misturado com formol desses ambientes fazia com que me sentisse enojado, mas dessa vez não havia outro jeito a não ser ir ao médico. Consegui sair da cama, aos trancos e barrancos, e liguei para meu chefe para avisar que estaria ausente aquele dia. O motivo? "Caí da escada!" parecia o suficiente e ele não se importou em saber mais detalhes. Resolvi tomar um banho quente antes de sair, na esperança de aliviar a dor. Ao contemplar-me nu no espelho pude ver o resultado da pequena discussão. Meu corpo estava repleto de hematomas e até algumas escoriações, o estrago foi muito maior do que eu havia pensado. Ignorei o espelho e entrei no chuveiro. Ao sair do chuveiro tive de fazer um esforço enorme para me vestir e depois de algumas horas consegui chegar a clínica de atendimento de emergência. Tive de esperar um longo tempo até que todos os idosos fossem atendidos e quando finalmente todos aqueles hipocondríacos desapareceram da sala de espera fui chamado.

O médico ficou assustado ao contemplar meu semblante. Realmente não era uma figura bonita. Estava mais pálido do que de costume, à noite mal dormida deixou-me com olheiras profundas que se destacavam na pele branca, meus cabelos estavam em total desalinho e fazia uma careta de dor a cada passo que trocava. Quando tirei minha camiseta então o médico ficou aterrorizado. Disse-me que parecia ter sido atropelado e não ter caído de uma escada. "Era uma escada muito longa..." expliquei-lhe e ele parou de me interrogar. Após uma avaliação primária, tive de fazer um raio-x para verificar se estava tudo no lugar. Para minha surpresa o idiota havia me batido tão forte contra a parede que fraturei uma costela e era por isso que sentia aquela dor miserável. E ela me acompanhou por um longo tempo. Demorou três semanas para que aliviasse, mesmo tomando remédios fortes.

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