Capítulo 23 - Armadilha

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Depois da discussão com Aleksander não tinha cabeça nem para dormir. Fui me deitar assim que ele deixou meu apartamento, mas passei a maior parte da noite em claro, chorando e tentando encontrar um modo para tirá-lo de uma vez por todas de meu coração. O que mais me incomodava era saber que ele sentia o mesmo por mim, mas por algum motivo tentava encontrar empecilhos para que não ficássemos juntos. Se ele houvesse confiado em mim e me contado o que havia acontecido entre ele e Sofia as coisas poderiam ter sido diferentes. Tinha consciência de que não seria possível manter um relacionamento com Aleksander sem que ele esclarecesse aquele assunto comigo. Agora já não era mais a curiosidade que me motivava, mas sim a vontade de compreender como aquele acidente ainda o afetava. Precisava saber, pois queria e precisava ajudá-lo, assim como ele havia me ajudado, mesmo que indiretamente...

Acabei adormecendo poucas horas antes do amanhecer e só acordei no meio da tarde. Ainda sentia-me arrasada e tudo que queria era um ombro amigo para chorar. Liguei para meus pais para que eles não se preocupassem com meu paradeiro. Conversei com minha mãe e informei-a de que não havia ido almoçar com eles porque dormi demais. Felizmente ela aceitou bem minhas desculpas e não percebeu que eu estava um pouco deprimida. Temia que o tom de minha voz me denunciasse. Assim que terminei de falar com ela liguei para Luís e como sempre ele foi me socorrer em meu apartamento.

Meu amigo ficou espantado ao me contemplar e pensou que o responsável pelo meu estado era Diego. Expliquei-lhe o que havia acontecido na noite anterior e que na verdade o que me incomodava era que Aleksander havia dado um ponto final em nossa relação, mas não pude lhe dizer exatamente qual era o motivo. Não podia comentar sobre Sofia e todo o resto. Dessa vez Luís não tinha conselhos para me dar. Não havia como resolver a minha situação. Agora eu precisava focar no trabalho e tentar fazer as coisas funcionarem com Diego. Esquecer alguém nunca é uma tarefa fácil e esquecer o primeiro amor mais difícil ainda. Durante a insônia refleti muito e constatei que nunca havia me apaixonado antes, nem por Rodolfo e muito menos por Leonardo. Aleksander foi o único homem que mexeu comigo e me fez sentir algo que não imaginei ser possível. Mesmo com o temperamento dele, eu o amava e tinha certeza absoluta disso. Queria ter tido a coragem de ter lhe dito quando conversamos, porque talvez isso tivesse ajudado, mas o medo da rejeição fez com que me calasse enquanto ele me deixava, talvez para sempre.

Abri meu coração a Luís e contei-lhe tudo. Meu amigo escutou-me com atenção e como sempre me ofereceu apoio para qualquer coisa que eu precisasse. Ele ficou comigo até a noite, cuidando de mim. Fez até o meu jantar e só foi embora depois de me deixar bem alimentada. Ficou assustado quando o informei de que passei o dia todo sem ingerir nenhum alimento. Perco completamente o apetite quando estou triste.

Quando ele saiu senti um vazio enorme dominar o apartamento. Já era tarde e fui tentar dormir para não pensar demais. Decidi que sairia um pouco mais cedo para ir trabalhar, não queria me encontrar com Aleksander. Não saberia se conseguiria suportar ficar tão perto dele, sem que fossem motivos de trabalho.

Na manhã seguinte, embora com o coração ainda despedaçado, sentia-me melhor e mais disposta fisicamente. Tomei um banho longo e arrumei-me para ir para a Lynx. Deixei meu apartamento vinte minutos antes do horário que Aleksander costumava sair. O dia estava muito agradável. O sol brilhava em meio a várias nuvens e não fazia calor, pois havia uma brisa leve. Caminhei animadamente para o serviço contemplando a cidade. Às vezes com tanta correria esquecia-me de como morava em uma cidade bonita.

Faltavam algumas quadras para chegar a Lynx, mas estava me sentindo tão bem ao ar livre que cogitei a possibilidade de chegar atrasada. Mas foi apenas um pensamento passageiro, isso poderia irritar Aleksander e seríamos obrigados a conversar assim que eu chegasse. Não, não faria isso. Deixei a ideia de lado e apertei o passo para chegar a tempo na empresa. De repente, um garoto, de cerca de dez anos, saiu de um beco e interceptou meu caminho. Tomei um susto, mas como era apenas uma criança acalmei-me rapidamente. Parecia um morador de rua, pois estava com o rosto e as roupas sujas.

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