Capítulo Quatorze (Bons garotos, esperançosos serão e muito terão de esperar)

4.7K 405 216
                                    

I made you my temple, my mural, my skyNow I'm begging for footnotes in the story of your life

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

I made you my temple, my mural, my sky
Now I'm begging for footnotes in the story of your life.

— Tolerate it, Taylor Swift.


🌼


Roseville, 1996.

Taehyung era um bom rapaz.

O título modulado por uma série de atos premeditados como aceitáveis nunca chegaram a assustá-lo. Desde pequeno soube que estava destituído de qualquer outra função, teve seu destino traçado pelo pai, Seong-su, muito cedo, ainda no ventre de Myeong. Seria um médico. O doutor Kim. O primeiro da família. O orgulho de um legado que estava acima dele, mesmo sem nunca ter colocado os pés no país de onde seu sangue, suas raízes e sua história vinham, Taehyung tinha um compromisso com o presente e o passado.

Foi criado para ser um cavalheiro, os ares de fidalgo que carregava pareciam atrelados a sua bondade imediata. Era sempre o garoto Kim ajudando as senhoras com as compras na porta da conveniência, auxiliando as crianças do bairro com os exercícios de cálculo e sendo gentil com as meninas da escola. Havia uma educação tímida em seus modos, mas todos os olhavam com o mesmo carinho que apenas os bons garotos recebem.

As tendências anarquistas permaneciam ocultas na mesa de jantar, assim como uma camisa do Pearl Jam, seu item favorito entre todos os outros que mantinha na época; tudo ficava no fundo das gavetas, junto a uma pulseira de couro adornada com spikes, um piercing falso que tentou usar na orelha uma vez e suas fitas cassetes proibidas. Era o fofo, pelo menos da perspectiva da mãe, Myeong. O seu garotinho.

A irmã mais velha reiterava o posto de estudante de Direito e Política em Yale, o orgulho da casa por puro esforço; havia engolido o desejo do clã Kim em nome do título de boa filha, seu inquisidor invisível continuava a persegui-la até no silêncio. Não queria nada daquilo. Nunca quis. A Seulgi verdadeira, a de olhos malvados, que costumava fumar escondida no telhado de casa, com a vida dupla que Taehyung assistia através da janela raiada do seu quarto, atrás das cortinas, como panos teatrais que ocultavam a verdade; era feliz somente às escuras, anestesiada. Quando os carros diferentes estacionavam na lateral do jardim a cada novo fim de semana e Seulgi avançava pela porta da frente, na ponta dos pés, rumo à liberdade. Taehyung só entenderia os motivos de Seulgi anos mais tarde, na própria pele, com a filha que carregaria o nome da tia. Os pontos de conexão de seu destino dariam-lhe a redenção necessária. Seulgi só queria ser acolhida, amada. Estava exausta de interpretar uma personagem, de fingir ser o que nunca poderia ser.

Mas ao contrário dela, Taehyung nunca se opôs ao destino oferecido. Agarrou-o com mãos firmes no seu propósito. Sabia que quando colocasse os pés em Roseville outra vez não seria mais o Kim da conveniência, e pensar nisso fazia com que aguentasse os dias restantes, a saturação cotidiana que aprendeu a suportar a todo custo. Impulsos que deveriam ser trabalhados como músculos. Por isso vivia afundado nos livros, Nietzsche, Freud, Lacan. Queria entender a mente e o pensamento humano em sua profundidade, talvez fosse capaz de entender a si mesmo.

BADLANDS • JK.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora