Capítulo Sete (Um jovem James Dean)

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You're screwed up, and brilliantLook like a million dollar manSo why is my heart broke?

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You're screwed up, and brilliant
Look like a million dollar man
So why is my heart broke?

— Million Dollar Man, Lana Del Rey


🎭

Califórnia, 2003. 

O letreiro de Hollywood parecia ainda mais encantador se visto de perto.

A atmosfera de sonho que cercava aquelas letras capitulares presas no topo de uma colina permanecia intacta como sempre absorvi ao longo da vida pelas luzes de ciclorama da TV, em fotogramas projetados contra paredes brancas, lido pelas faixas magnéticas.

Lembro exatamente da sensação de colocar meus pés ali pela primeira vez, fascinada até mesmo com a cor de um céu azul que parecia tão diferente de como brilhava no resto do mundo, com a claridade rosada do por do sol que parecia sempre pronta para ser posta em frames, como se aquele lado da cidade fosse também feito para brilhar diante de uma tela de cinema, distrair os olhos curiosos da sujeira por trás dos letreiros encantadores.

James me fez odiar esta cidade.

Tudo era milimetricamente calculado para parecer a ascensão ao Paraíso. Hipnotizante demais para se manter longe, destrutível diante de uma aproximação exagerada.

Olhando mais de perto, a Califórnia estava devastada. A temporada de incêndios florestais durante aquela época do ano traziam fuligem e cascalho na brisa úmida, espirais serpenteantes de poeira e fumaça, o tom alaranjado e sépia das planícies, que parecia tão poético se visto de West Hollywood, era produto de pura poluição e fogo. Destruição.

Uma metonímia cruel para nos lembrar para sempre que a Califórnia era o Inferno.

E continuaria queimando.

Quando cheguei a Los Angeles, com minhas pretensões ingênuas de ser uma atriz, encontrava uma versão minha a cada esquina. As mesmas garotas trajadas com altas expectativas de conquistar o mundo; fugindo de casa, de uma vida difícil, de um passado assombrado: o roteiro pouco criativo seguia em constante repetição. Uma competição enervante que alimentava um público sútil, mas que não era invisível. Os executivos caçavam garotas como se estivessem amontoadas feito pelúcias em máquinas gruas de um parque, como meros objetos ostensivos, as ofertas de trabalho mágicas e promessas de mudanças de vida — começando pelo endereço, da ala norte para a ala oeste, como toda aspirante um dia sonhou — era a mão de ferro puxando meninas pelos cabelos para fora de suas caixas.

A maioria delas desapareciam para sempre.

Embora estivesse numa versão adulta e diferente da garota saída de Roseville, ainda sabia pouco sobre o mundo ou a maneira como ele funcionava, ainda mais ali, dentro da selva de pedra que era Hollywood, onde todos lutavam pelo seu lugarzinho sob a mesma luz rosada do pôr do sol, debaixo das mesmas chamas flamejantes que, pouco a pouco, destruiriam o lugar.

BADLANDS • JK.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora