Capítulo Vinte (Quando os demônios de Romeu dançaram com os anjos de Julieta)

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But I knew you'd linger like a tattoo kiss

I knew you'd haunt all of my what-ifs

The smell of smoke would hang around this long

'Cause I knew everything when I was young

— Cardigan, Taylor Swift



🦋


Roseville, 1996.

Eu conheci nos livros antes de conhecê-lo. Conheci nas cenas proibidas dos filmes cujos canais eram rapidamente trocados ao mínimo entendimento, nas instruções da revista adolescente, nas nuvens sedutoras de minha imaginação e nas páginas de um diário roubado cuja protagonista das entradas não era eu. De alguma forma, ele também já estava lá, presente na linha fantasma do meu pensamento, assombrado e distinto, no subconjunto de um desejo oculto, desconhecido. Nas entrelinhas da fantasia, onde podia imaginar e reimaginar seu beijo em uma ânsia premonitória, quase intuitiva. No pólen oculto das flores misteriosas que desabrochavam no avesso da carne, onde os espinhos perfuravam em agonia aprazível, florindo cenas de tinta na película falsa que havia sido costurada em minhas retinas e onde assistia, em um tecnicolor mental, amarrado às pétalas de rosas nefastas, e assim, imersa nessa teia de ilusões e anseios, eu me entregava ao espetáculo, em busca daquela sensação que enganava o cérebro e retorcia o corpo em tanto deleite, uma quase verdade.

Quando penso naquela noite, tento estabelecer um padrão de acontecimentos em meio ao meu nervosismo juvenil e do borrão sentimental que desvaneceu as cores de algumas memórias, recortes emocionais do tempo, da euforia e da adrenalina que impulsiona o corpo em um êxtase incomum e então, tudo é desterrado em um processo lento e que me devora aos poucos, como se estivesse fora da minha órbita habitual. Ainda sinto o mesmo arrepio correndo o corpo, um frio na espinha dorsal, um tipo muito particular de empolgação e ânsia que se tem aos dezesseis anos; fecho os olhos e sinto os contornos quentes dos seus dedos em minha cintura, levando-o à rendição. Lembro exatamente desse fragmento tardio; o quanto queria, o quanto precisava ser tocada com amor.

Durante o jantar, brincando com uma lata de Pepsi entre os dedos, bebericando uma quantidade generalizada de açúcar na composição da bebida que me lembrava a curiosidade inútil que o rapaz que recarregava as máquinas da conveniência Kim havia compartilhado comigo e Taehyung de maneira orgulhosa em uma tarde qualquer no início daquele mesmo verão.

"Vocês sabem por que a Pepsi se chama Pepsi?"

Taehyung e eu ficamos em silêncio, observando a movimentação mecânica do enfia-e-puxa da máquina aberta do rapaz com um boné de algum time da liga secundária de baseball.

BADLANDS • JK.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora