58

65 34 0
                                    

(Mundo Humano)

Moyra estava sentada e observava a irmã andar de um lado para o outro. Era mais uma das inúmeras e massacrantes noites que já tinham passado sem notícias das meninas. Mayra não contou que haviam encontrado as duas, ou simplesmente seus corpos sem almas, em estado de perigo iminente, pois sabia que a irmã teria um colapso ainda pior do que já estava tendo nos últimos dias.

Mas, por algum motivo, Mayra tinha um pressentimento bom e ao mesmo tempo ruim sobre as sobrinhas. Sentia que elas ficariam bem, todavia pensava o que trariam do outro mundo consigo e o quão perigoso isso ou o alguém poderia ser,

A campainha tocou. Moyra levantou antes da irmã e correu para abrir a porta, vendo um homem, trajando uma roupa nada convencional. Ele conhecia Moyra e lhe deu um sorriso triste, a abraçando em seguida.

— Eu sinto muito, Moyra. Vim assim que possível. — Disse ele, a apertando entre os braços.

— Elas foram levadas daqui... arrancadas de mim! — Moyra falava entre os soluços, sendo levada para dentro pelo homem, que finalmente via que Mayra estava ali.

Manoel, o tal, tinha um desentendimento bastante contido para com Mayra. Ela o conhecia desde os dezesseis anos e Moyra o conheceu somente com vinte, muito depois do ocorrido que causara a inimizade.

— Manoel? — Mayra parecia surpresa e rancorosa pela visita inesperada — O que veio fazer aqui? — Pondo as mãos na cintura, o encarou fulminante — Pensei que estivesse na China.

Ele soltou Moyra, ainda segurando uma das mãos da ruiva, que olhava a cena, com certa apreensão não pelo encontro, mas ainda pelas filhas.

— Eu vim ver Moyra assim que soube o que estava acontecendo e se me der licença, vou lavar o rosto, pois foi uma viagem massante demais. — Soltou um barulho ao terminar de falar, provavelmente um pigarreio de ironia e raiva. Manoel também não ia muito com a cara da irmã loira.

Quando ele passou por Mayra, ela apertou o braço dele e o encarou mais uma vez, fulminante, assim como ele também a estava encarando. Aquilo durou dois segundos e em seguida ele foi para o banheiro lavar o rosto e falar ao celular, que começou a tocar.

Moyra se sentou novamente, dessa vez numa cadeira de balanço próxima da janela, tentando manter as esperanças, imaginando que as filhas estariam atravessando a rua como todos os dias em que iam para a escola.

A loira foi até a cozinha, preparou um café bem forte para a irmã e ao caminhar até ela, deixou a xícara cair, pois ouviu risadas vindas da rua. Gargalhadas muito conhecidas. A ruiva levantou da cadeira, quase caindo ao correr para abrir a porta mais uma vez. As duas irmãs foram para o lado de fora e Manoel saiu do banheiro ao escutar a muvuca.

Avistando as duas meninas correndo para casa, os três adultos não compreendiam como elas poderiam estar tão... sorridentes e limpas. Moyra foi a primeira a sair do transe e correr para o meio da rua, caindo de joelhos e abraçando as duas meninas, que se jogaram contra ela. Mas não era só isso... o que Mayra temia estava acontecendo de fato, pois logo atrás das gêmeas vinha um menino da mesma idade ou talvez alguns anos mais velho. Este estava sujo de sangue e caminhava lentamente, quase como num desfile.

Infelizmente, naquele momento, as duas só queriam saber de Ani e Anitta, que gritavam de felicidade enquanto a tia e a mãe choravam por finalmente matar a saudade. Manoel viu tudo ainda parado na entrada da casa, finalmente parando tudo o que fazia apenas para olhar o menino estranho, que se aproximava das duas meninas sorrateiramente.

— Mamãe... — Começou Ani, após se libertar do abraço apertado que já a machucava. A menininha segurou a mão de Kron e o trouxe para mais perto, finalmente chamando a atenção da mãe para o garotinho — Esse é nosso novo irmãozinho.

Kayara - Livro 1 [COMPLETA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora