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(Téritis – Latsyr, Montanhosa do Este)

— Vamos filho... saia daí de dentro, mamãe tem uma coisinha pra mostrar pra você, querido, está um dia lindo lá fora... — Uma mulher, meio desesperada, estava à porta de um banheiro, tentando fazer com que o filho saísse de dentro. Parecia preocupada o suficiente para apelar para qualquer coisa.

Dentro do cômodo, um menino segurava uma lâmina grande o suficiente para destrinchar um porco, ou, naquele caso, cortar o próprio pescoço. O garoto era doente mental e tinha surtos como aqueles, por isso, em toda casa não haviam quinas, coisas cortantes e nas portas de dentro da casa não existiam trancas. Além da entrada principal, nenhuma das portas podia ser trancada, porém o menino havia arrastado a banheira, quebrando a encanação e fechando a porta à força. A mãe, desesperada, segurava a maçaneta e tentava abrir loucamente.

Wyola era o nome daquela mulher. Tinha longos cabelos roxos, madeixas tão brilhantes que lembravam uma chuva de meteoros a cada vez que se movia. Olhos escuros, quase negros, também tinham um leve tom de roxo, com uma pequena anomalia onde deveria ser a parte branca dos olhos, existia a cor lilás, quase branco. O nariz era fino, pequeno e com uma ponta fina, meio redonda. As maçãs do rosto eram grandes, dando ênfase aos belos olhos. A boca de Wyola era azul, com algumas pequenas manchas vermelhas. As orelhas eram grandes, para cima, pontudas e em formato de meia lua na parte de cima, caíam levemente para frente.

A pele era azul e roxa em determinados lugares como ponta do nariz, dedos, cotovelos, ombros, pés e algumas outras extremidades. O corpo era não muito robusto, com ombros não tão largos e braços finos. Mãos extremamente delicadas e sem unhas. Não tinha seios grandes e nem um quadril tão largo, era comum na espécie. Sua cintura era em forma de ampulheta, pernas longas e bem torneadas, porém não grossas e ou musculosas demais. Pés delicados e também sem unhas.

De suas costas, acima de seu bumbum, pendia um rabo longo e que arrastava pelo chão. Não era grosso, bem fino e com um ferrão na ponta, aparecia por cima da calça de malha que ela estava usando. A raça Wyola era conhecida como Yrmiramat, uma criatura belíssima, colorida, feita em cores vibrantes, que descendia diretamente de Yrtrain, a criatura divina que ficou conhecida como "as cores do mundo".

O menino, preso no banheiro, era Catti, ele era extremamente parecido com Wyola, tinha os mesmos olhos, as mesmas orelhas e nariz. A cor da pele de Catti que era diferente, pois era verde, puxado para o branco nas extremidades corporais. Diferente da mãe, tinha ombros largos e seu corpo tinha músculos, pernas grossas e mãos grandes. Deveria ter por volta de 17 anos. Catti não tinha rabo e como estava sem camisa, era possível ver uma cicatriz circular acima do cós da calça. O rapaz era fruto de um estupro feito por um humano, um caçador que havia invadido Téritis e se encantou por Wyola. Era muito complicado, pois os filhos e filhas de Yrtrain deveriam se manter puros para que não houvessem anomalias na criação dos filhos ou filhotes, dependendo da raça. Yrtrain tinha medo que seus filhotes acabassem como os filhos e filhas de Honhai.

Wyola não teve coragem de matar o filho quando o menino nasceu, mesmo sabendo que teria muitos problemas com ele. Não teve coragem de dá-lo aos guardas do reino para que ganhasse uma criação rígida, em que não teria problema com a violência e esse seu lado seria idolatrado. Ela o amava demais. A criança não tinha culpa. Wyola tinha uma irmã, Gyanna, era a mais velha das duas. Gyanna tinha a cor de cabelo azul, olhos azuis também e a pele era rosa, quase lilás. Ambas eram muito parecidas e talvez por conta disso Wyola tinha sido estuprada, os humanos e qualquer macho de outras espécies não conseguiam controlar seus impulsos perante a beleza das filhas de Yrtrain e esse foi o único erro da Divina ao propagar sua raça.

Os filhos e as filhas de Yrtraim foram criados para espalharem beleza, voz, arte. Todos eram calmos e jamais entraram em guerras com nada e nem ninguém. Confiáveis e leais, sempre acabavam caindo nas garras de seres como os humanos, que eram cruéis, sempre destruindo toda a beleza que encontravam à fim de consumi-las. As raças que descendiam da filha mais bela de Aurös, as cores do mundo, nasceram para um mundo em que seriam respeitadas e adoradas, mas, no fim, se tornaram um alvo fácil e sem proteção alguma para sobreviverem ao mundo de Honhai.

Kayara - Livro 1 [COMPLETA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora