Kayara - Livro 1 [COMPLETA]

6

(3° Continente, Cidade Galamar - 325 anos antes da Era Vermelha)

— Você acha que ela está bem? — A voz de Virta soava pelos corredores. A rainha parecia muito mais preocupada do que o normal.

Virta era a rainha há mais de 1000 anos. Foram 1000 anos de paz nos sete primeiros continentes e consequentemente em todo o mundo. Havia se casado com Alexander. Filho do meio da família inimiga antes de se tornar rainha. Tiveram uma filha juntos, uma única criança, a quem chamaram de Deboráh, entretanto após alguns atos de crueldade, ganhou o título "Kyra".

Virta era viúva e já passava para os anos de velhice, após milênios de vida e um milênio e meio de governo. Tinha cabelos quase brancos, uma pele que demonstrava os sinais do cansaço, apesar da boa aparência. Era uma mulher elegante, que usava roupas simples e uma coroa de flores roxas. Ela achava a coroa real pesada e fora de cogitação para si. Era uma rainha humilde afinal.

De dentro de um quarto, o qual a rainha aguardava do lado de fora, estava sua única filha. Kyra Sláyer. A Mestiça. A Consagrada por Aurös e Jústhus, amaldiçoada de Morthús. Estava dando a luz à uma criança há mais de cinco horas e Virta estava preocupada. A criança era uma Puro Sangue, porém bastarda. Havia sido concebida fora do casamento.

Virta, quando mais jovem, assim como sua filha, tinha longos cabelos escuros, ondulados. Olhos esverdeados, lábios avermelhados e uma bela postura. Sua voz enchia os ouvidos com gozo esplêndido. Sua maestria na música era idolatrada e seu amor pelo povo era simplesmente incondicional, proporcionando o melhor, mais próspero e justo governo desde a Lendária.

Sua filha não era nem um pouco como ela, havia puxado o lado ruim da família de seu pai. Kyra era mais fria, soberba. Gostava de esbanjar o luxo que podia ter e não se importava muito com as pessoas, assim como seu pai, Alexander, havia sido antes de conhecer Virta. Ajudava quando queria algo em troca. Era neutra em relação aos demais, contanto que não cruzassem seu caminho. Era tão linda quanto a mãe, dona de um corpo exuberante, adorava mostrá-lo enquanto dançava. Era bela, porém mortal.

Kyra havia se envolvido com um primo próximo, Kânio. Era um Dermótan, mais conhecido pelos humanos como meio-demônio, filho de Azebet e Ylêr, dois Meio-Divinos demoníacos, cruéis, vindos das hortas de guerrilheiros de Morthús, diretamente do ventre de Nerid. Conhecido por seus feitos maldosos, era um carrasco de longos cabelos vermelhos.

Todos sabiam que, na família dos Sláyers, os ruivos eram os piores. Virta tinha medo que Kyra tivesse uma criança de alma tão vibrante e enlouquecedora. Eram difíceis de serem controladas mesmo na criação de dominância que possuíam. Eram poderosas. Tornavam-se líderes cruéis e bravos. Inconformados mesmo tendo tudo o que queriam e mais um pouco.

Os gritos de Kyra evidenciaram a dor que sentia. A parteira estava suando como nunca, naquele momento estava do lado de fora, recarregando as energias enquanto sua aprendiz estava lá dentro. Entravam e saíam empregadas do quarto com toalhas sujas com o Sangue Mestiço (prateado e escuro). Virta ouvia as vidraças quebrarem a cada grito que sua menina dava, era desesperador.

Após a mulher que estava auxiliando no parto entrar novamente, passaram-se cerca de dez minutos e a parteira saiu novamente, segurando uma criança que não chorava, estava já de olhos abertos, o que era muito incomum e tinha cabelos vermelhos, vibrantes como o fogo. Era branca, alva como marfim de terras humanas. Tinha olhos ofuscantes, azuis esverdeados, profundamente diabólicos. Finalmente Virta notou, ao tirar o pano que envolvia a criança, o porquê de sua filha ter gritado tanto: Grandes e espessas asas. Virta olhou a parteira, que voltou ao ouvir Kyra gritar novamente. A rainha olhava a criança primogênita. Uma menina ruiva, com asas que só os Mestiços possuíam, mas ela não era uma Mecça Mór como sua mãe, era diferente. Aquela menina tinha uma vibração tão forte que a Rainha teve medo, por um momento, do que aconteceria caso ela se tornasse um monstro.