Que nunca são ditas?

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O casal olhava apreensivo para o médico. Marina sentia que estava esmagando a mão da morena, mas não conseguia soltar.

–Eu sinto muito, só temos um bebê agora. – O médico disse com pesar.

Só agora a fotógrafa soltou a mão da morena e levou as suas para a barriga. Como se pudesse segurar, tentar trazer de volta o que não tinha mais. Clara não segurou o choro, ainda que Marina permanecesse em choque.

–Não, não...você não viu direito. – A fotógrafa falou para o homem.

Os braços da morena tomaram conta dela, a sua visão ficou embaçada pelas lágrimas e ela parou de lutar. Abraçou Clara com força e chorou junto com a mulher, a perda que tiveram.

Não perceberam quando ficaram sozinhas, e nem quando voltaram a ter companhia. Levou um tempo para que alguém finalmente se aproximasse e tocasse nas duas. A morena virou a cabeça e viu Regina com os olhos vermelhos olhando para o casal.

Clara levantou a cabeça e se afastou pouquíssimo de Marina. A fotógrafa ainda passava os braços em volta de seu corpo e mantinha sua cabeça em seu peito.

–Mãe, o meu bebê... – Marina disse quando viu a mãe. Soltou Clara e caiu nos braços da mulher, enquanto a morena era consolada pela irmã.

–Foi ela Leninha, foi ela. – Clara falou quando conseguiu conter as lágrimas.

–Ela quem? – A irmã perguntou.

–Dona Chica, foi quem falou pra Laura da Marina, foi por culpa dela. – A morena disse alto demais, chamando a atenção de Regina e da fotógrafa.

–Do que você tá falando? – Regina perguntou.

–É uma excelente pergunta. – Chica tinha acabado de chegar e parou na porta.

Clara ficou em pé, e se não fosse pela irmã e por Regina, tinha chegado perto demais de uma agressão na mãe.

–Você falou pra ela não foi? Contou pra aquela assassina da Marina. Foi você, só pode ter sido você. – Clara gritou. Ouviu Marina chamar por ela, mas ignorou, a raiva lhe consumia.

–Não acredito que você esteja me acusando disso. – Chica respondeu no mesmo tom.

–Cala a boca as duas. – Regina disse firme. – Isso aqui é um hospital e não a casa de vocês. – A empresária parou na frente de Clara. – Vai cuidar da tua mulher e você, - Virou-se para Chica. – Você vem comigo.

Regina deu as ordens e não esperou por respostas. Tirou Chica de dentro do quarto, impediu a enfermeira, que já estava correndo para ver o que era os gritos, de entrar e chamou por Flavinha, a única presente que iria detalhar o acontecido.

–Docinho. – Marina tinha as mãos erguidas para Clara. Assim que a morena viu, segurou e voltou a ocupar o lugar ao lado da fotógrafa. – Do que você tá falando?

–Não tinha como a Laura saber de você. Sua mãe não colocou a gravidez no jornal, ninguém mais teve contato com ela. – Clara respondeu. – Foi ela Marina.

–Calma Clara, não é assim também. – Helena disse. – A mamãe errou com relação a essa mulher, mas ela está tentando melhor as coisas entre nós. Tá empolgada com essa gravidez, não iria fazer isso.

–Ela é burra Leninha, é cega por aquela mulher. – A morena rebateu.

–Se eu não tivesse ficado nervosa...- Marina começou a falar.

–Não foi sua culpa. – A voz de Clara ficou doce e paciente. – Olha pra mim Boneca, não foi sua culpa. Você tá sensível, não tem que se culpar de nada.

Quase Sem QuererWhere stories live. Discover now