Fiz questão de esquecer

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Marina tentava andar no ritmo que Laura a puxava, mas era impossível agora. Seu corpo estava dolorido por inteiro, suas costas ardiam, e ela ainda nem tinha conseguido ver o estrago que a mãe tinha feito nelas. A fotógrafa tentava desacelerar os passos de Laura, porém seu esforço era ignorado.

Chegaram ao final daquela escada, entre os gemidos baixos de dor de Marina, e os puxões fortes que Laura dava em seu braço. Agora andando em linha a reta, a fotógrafa poderia dizer alguma coisa, uma nova provocação, qualquer coisa para mostrar que não estava entregue, quando o destino tratou de fazer isso por ela.

–Então essa é a casa de verão? – Clara falou alto. – Valeu pelo convite sogrinha.

Tanto Marina quanto Laura ficaram estáticas olhando para o fantasma. Um misto de dor e alegria nasceu no peito da fotógrafa, e aquela pequena chama de esperança que ela vinha tentando manter, no fim mostrou-se correta. Clara, por algum milagre, ainda estava viva, e estava ali, por ela.

–Clara...- Marina sentiu as lágrimas em seu rosto quando falou o nome da morena. Ela tentou caminhar, mas seu braço doeu e ela encarou o aperto de Laura.

–Você está morta. – Laura disse ainda em choque.

–Não. – Clara respondeu fria. – Cadu está morto, um dos seus capangas está morto e outro contando tudo na cadeia. – A morena sorriu e deu um passo à frente. – Agora só falta você e o Gustav.

–Ele está morto também. – Marina falou rapidamente ao ouvir o nome do mordomo, e sua boca latejou com o tapa que Laura deu. Clara fechou os pulsos e deu mais um passo em direção as duas, quando a mulher prendeu o pescoço de Marina com o braço.

–Carlos Eduardo, incompetente até o último minuto. – Laura sorriu e depois respirou fundo, e apertou o braço em volta do pescoço da filha, fazendo a fotógrafa perder um pouco o ar. – Nem pra matar você aquele merda prestou.

–Você nunca ouviu dizer que se quer uma coisa bem feita, faça você mesmo. – Clara abriu os braços encarando a sogra. Ela precisava fazer Laura soltar Marina antes que ela atacasse a mulher, ou então quem poderia machucar a fotógrafa, seria ela.

Laura sorriu friamente para a morena, e levou a mão até suas costas. Sogra e nora se encaravam, a morena deu mais um passo e viu o pescoço de Marina ser apertado mais uma vez. Laura estava brincando com ela, sabia que a fotógrafa era seu ponto frágil e estava usando isso para retardar o seu ataque. O que nenhuma das duas imaginou, era que Marina seria a primeira a acabar com aquela provocação.

A fotógrafa pegou o palito que tinha guardado antes, e sem medo enfiou na mão de Laura. O grito da mulher invadiu a casa, e Marina sentiu o ar voltar aos seus pulmões quando ela foi ao chão. Olhou para Laura, mas Clara já tinha derrubado a mulher e estava em cima dela.

–Corre Marina. – Clara gritou sobre o ombro para a namorada, e acabou levando um soco de Laura.

A partir daquele momento, a morena só lembrou-se do que tinha visto por cima no corpo de Marina, e no que provavelmente ainda tinha mais para ver. Dominada pela raiva, por ter sido enganada, por ter perdido Marina, e por todos os machucados da fotógrafa, a morena revidou o soco levado.

Laura mesmo sangrando conseguiu se livrar de Clara e ficar em pé, mas foi por pouco tempo. A morena logo acompanhou a sogra e a derrubou contra a mesa de centro da sala. Laura urrou de dor no choque do seu corpo, mas não parou de lutar.

Marina conseguia ver os socos e tapas e chutes das duas, só não tinha consciência de quem estaria ganhando. Clara tinha mandado ela correr, então ela correu. A fotógrafa ficou em pé e foi até a cozinha, abriu todas as gavetas até encontrar uma faca. Voltou para a sala, e encontrou o rosto quase irreconhecível de Laura, atrás de Clara, aplicando uma chave de braço na morena.

Quase Sem QuererWhere stories live. Discover now