Impaciente e indeciso

1.1K 49 4
                                    

Marina tinha as mãos amarradas nas costas. Estava encostada na parede da van. As ruas deveriam ter muitos buracos, o carro balançava muito e volta e meia sua cabeça batia na parede. Ela tremia, sentia seu corpo inteiro gelado, tremulo. Tinham tirado seu casaco. Marina chamou por Clara e sentiu um tapa na cara. Alguém gritou com ela, não identificou o idioma de cara, mas logo reconheceu o alemão. Insistiu em chamar por Clara. Sentia a cabeça dela em sua perna, mas não tinha resposta. Lembrou do grito que a morena deu, lembrou dos sons de soco que ouviu, acabou chorando.

Tiraram suas botas, e Marina foi empurrada pelo terreno húmido até ir de encontro ao chão. O corpo de Clara caiu ao seu lado. E o capuz foi removido. Marina olhou para o sequestrador, mas ele ainda tinha o rosto coberto. Ela não disse nada, ficou encarando o preto da roupa do homem. Ele tirou o capuz de Clara. Ela estava desmaiada. Marina chamou por ela, mas a morena parecia morta. O homem lhe bateu. Gritou que calasse a boca. Soltou as amarras das mãos das duas e saiu.

Marina buscou o ar no meio do choro que lhe dominou. Procurava no corpo de Clara, sinais de vida. Ainda tinha. Estava fraco, mas estavam lá. Como pode, Marina ajeitou Clara de uma forma que seu corpo ficasse reto e com a barriga pra cima. Agora ela viu que tinham lhe ferido na perna. Marina usou o cachecol da morena para estancar o sangramento. Procurou por outras feridas, mas além dos roxos pelo corpo, não encontrou mais nada. Clara também estava sem o casaco e sem as botas. Marina deitou junto ao seu corpo tentando se aquecer. Perdeu a noção do tempo, até a porta se abrir. Um outro homem, também mantinha o rosto escondido, mas o tamanho era diferente, por isso Marina sabia que era outro. Ele deixou um prato com alguma coisa em cima, e uma garrafa.

Quando ele saiu, Marina agarrou a garrafa, cheirou e depois bebeu a água. Tentou acordar Clara, e a morena bebeu meio desmaiada meio acordada. No prato tinha um pão e queijo velho. Marina não tinha fome, mas escondeu a comida para mais tarde. Ela deitou ao lado de Clara novamente, e com o pouco calor que passavam uma à outra, ela dormiu. A porta acordou a fotógrafa algumas horas mais tarde. Outro prato de comida foi jogado pelo mesmo homem, outra garrafa de água. Dessa vez, Marina comeu, e dividiu a água com Clara novamente.

O frio veio mais forte, e a fotógrafa teve certeza que a madrugada tinha chegado. O quarto escuro, não tinha uma janela, apenas uma pequena fresta no chão, onde não tinha como ver se era dia ou noite. Marina estava tentando tampar a fresta, como se aquilo fosse diminuir o frio do quarto, quando a porta se abriu.

–O que você está fazendo? – O homem que tinha jogado ela e Clara ali, perguntou em alemão. Mesmo que Marina entendesse, ela achou melhor se fazer de desentendida. Num ato de coragem, ela abaixou a cabeça e continuou a usar um pedaço do tecido da fronha velha que tinha ali, para tampar o buraco. Mostraria a ele o que fazia, assim ele não precisava saber que ela os entendia muito bem.

Só que o homem não pensou assim. Andou até Marina e lhe puxou os cabelos, rosnou em inglês dessa vez.

–O que você está fazendo?

Marina tremeu. O pavor tomou conta dela. Ela gaguejou, e não conseguiu responder. Ele jogou seu corpo contra o chão, e o peso de sua mão caiu sobre o corpo frágil da fotógrafa. Marina gritava pedindo pra ele parar, mas ele não parava. Alguém chegou e tirou o homem. Discutiram e mais um estranho apareceu.

–Ela morta não vale nada. – O terceiro homem falou em alemão usando um tom calmo. Ele olhou para Marina que se encolheu no mesmo instante. Os três saíram, e a fotógrafa se arrastou até Clara. Tentou acordá-la, mas a morena estava fraca demais. Naquele momento, a fotógrafa também estava. Então deitou no peito da morena, e pegou no sono.

Quando Marina acordou, tinha uma pequena cama velha no local. A fresta que ela tinha tentado tampar, estava coberta. Tinha comida. Ovo, pão, queijo. Além de duas garrafas de água. Marina ouviu o estômago reclamar. Se aproximou do prato, e ao lado viu uma pequena bolsa de primeiros socorros. Abriu. Não tinha nenhum objeto cortante ali dentro, mais tinha o suficiente para cuidar melhor da perna de Clara. Com toda a pouca força que tinha, colocou a morena na cama. Tirou a calça, limpou o ferimento e fez um curativo novo. Na bolsa, tinha remédios, antibiótico e analgésicos. Marina fez Clara tomar todos. Só então ela comeu, e ainda dividiu um pouco com a morena, que ainda não tinha recobrado a consciência.

Quase Sem QuererWhere stories live. Discover now