Que mentir pra si mesmo

874 33 9
                                    

Demorou alguns minutos até que Clara entendesse a raiva súbita de Marina, e por isso a morena ficou em silêncio durante esse tempo. Contou mentalmente até dez e sentou na beirada da cama, olhando séria para a namorada.

–Boneca, nós estamos juntas há uns dois meses, e foram dois meses atípicos. Sua vida corria perigo, eu trabalhava pra sua mãe...

–Sim, eu sei disso Clara. Mas foram meses que você ficou na minha cama sem problema nenhum, agora que acabou toda a confusão, por que você não quer continuar lá? – Marina nem deixou a morena terminar e explodiu.

–Ei não coloca palavras na minha boca. – Clara ficou em pé e encarou Marina. – Não é assim que as coisas funcionam Marina, e não é porque você quer que seja diferente que vai ser do seu jeito.

–Eu quero diferente? Eu só quero manter o que tivemos até agora, não consigo entender esse seu moralismo agora. Tá rápido demais pra você docinho? – A fotógrafa ironizou.

–Que moralismo Marina, pelo amor de Deus não delira. – Clara rebateu impaciente. – Eu trabalhava pra sua mãe, foi exigência dela que eu morasse lá, e se a senhorita tá com problemas de memórias, quem me levou pra sua cama foi você.

–Eu vi como você resistiu. – Marina cruzou os braços e respondeu para a morena.

–Claro que não resisti. Você é minha namorada, eu sinto desejo, tesão, amor. Claro que não disse não quando você me levou pra sua cama, mesmo sabendo que profissionalmente era errado. – Clara respondeu rápido. Parou para respirar novamente e deu uns passos pelo quarto. – Boneca, você precisa do seu espaço e eu preciso do meu. Não vai diminuir o nosso amor só porque não vamos estar 24h do dia juntas.

–Não entendo isso agora, não sei pra que complicar. – Marina falou visivelmente mais calma. Sentou na beirada da cama e apoiou as mãos na cabeça. – Tudo bem que você queira espaço, mas precisa ser longe de mim?

–Não estou complicando boneca e não é que quero ficar longe de você. – Clara sentou do lado da namorada. – Só que agora nós temos a oportunidade de ser um casal de verdade, um passo de cada vez.

Marina olhou para a morena, mordeu seu lábio inferior.

–Não quero ficar sem você do meu lado.

–Não vai ficar, vou cuidar de você sempre. – Clara abraçou a namorada pelo lado e a puxou para seu colo. – Você ainda vai ser a mãe dos meus filhos, vou cuidar sempre de você.

Marina encostou sua testa com a de Clara, passando os braços envolta do pescoço da morena. Ficaram ali abraçadas em silêncio por um tempo. Enquanto a morena olhava pelo espelho os machucados no corpo de Marina, a fotógrafa já pensava numa forma de convencer a morena a mudar de ideia o mais cedo possível.

–Você faz um favor pra mim boneca? – Clara olhou para a fotógrafa e passou a mão no rosto da namorada.

–Depende. – Marina sorriu sapeca.

–Boba. – Clara deu um selinho na fotógrafa. – Só olha pra mim como a cozinha está de comida, e faz uma listinha rápida do básico mesmo, enquanto eu pego umas roupas que quero deixar na sua casa e trazer outras que estão lá. – A morena sorriu para a cara que a namorada fez.

–Eu? Fazendo lista de mercado? – Marina olhou incrédula para a namorada.

–Sim, que que tem? – Clara perguntou sorrindo.

–Docinho eu não sei nem onde fica o mercado, que dirá o que comprar nele.

–Bem, no mercado você compra comida, e não se preocupe que eu te mostro onde ele fica quando eu te levar lá. – Clara riu e beijou o rosto de Marina, fazendo a fotógrafa ficar em pé e a empurrou de leve para a cozinha.

Quase Sem QuererWhere stories live. Discover now