Quando o que eu mais queria

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Regina olhou pálida e assustada para Clara. A morena não estava brincando. Ela segurou o frasco com força, e depois o arremessou para longe. O barulho do vidro quebrado não incomodou Clara. As duas ficaram em silêncio, e quando a morena teve certeza que Tito não deixaria ninguém ir até lá, ela continuou.

–Meu contato me ligou hoje cedo. Disse que o Diogo é coisa ruim desde sempre. Que ele conseguia as drogas dele aqui no Brasil, direto com os chefes. Isso significa que se ele ficou...

–Eu sei o que significa, e não. Pelo menos não agora. – Regina respondeu com a voz seca. – Roberto usou uns contatos da polícia, descobriu os nomes dos fornecedores do Diogo e pagou tudo que devia. Dívidas de drogas, jogos, tudo pago. Eles não têm motivo para agir contra a gente.

–Exceto que vocês têm dinheiro e eles não ligam pra quem eles ferem ou não. – Clara respondeu em um tom calmo e baixo. – Meu contato disse que você cortou o dinheiro do Diogo, então você sabia que ele podia atacar a Marina?

–Ele primeiro me chantageou. Disse que ia contar a verdade pra Marina. Ele não sabia onde ela estava, e muito menos como entrar em contato com ela, então ele ameaçou trazer essa mulher de volta. Eu paguei pelo silêncio dele. – Regina olhou para Clara. Olhou para as escadas vazias, como se buscasse o quarto de Marina. – Ele desapareceu, creio que foi aí que saiu do país. Depois de um tempo ele começou a ligar de novo. Primeiro pedindo ajuda, mais tarde dizendo que precisava voltar pra casa, em seguida ele ameaçou Marina. Eu rastreei a ligação, ele estava na mesma cidade que ela. Foi aí que o Roberto, disse que precisávamos trazer a Marina pra cá. E nós achamos você. Sorte a minha. Senão ele teria matado a minha filha. – A mulher olhou em agradecimento para Clara, e voltou a beber seu café.

–Você abriu o estúdio para prender ela aqui não é mesmo?

–Uma mãe faz o necessário para proteger seus filhos Clara.

–Mesmo quando o sangue não se faz presente. – Clara concluiu. Regina fechou os olhos e respirou fundo.

–Eu sempre fui estéril. Quando eu soube que o Diogo andava de novo com a mãe do bastardo, eu fui atrás dela. Roberto me disse quem era, e quando a achei, ela estava dando à luz, literalmente no meio da rua. Ninguém parava para ajudar. Tito estava comigo. Eu coloquei ela no carro, e no caminho do hospital, a Marina nasceu. Quando eu vi, aquele bebezinho chorando nos meus braços, eu descobri um sentimento que nunca tinha sentido antes. Chamei um médico de confiança para cuidar das duas, e quando a mulher melhorou, eu perguntei qual era o sonho dela. Ela me disse viajar pelo mundo. – Regina limpou a lágrima que correu em seu rosto. – Eu paguei pra ela realizar seu sonho, e deixar a menina comigo. Eu a vi apenas aquela vez, mas lembro bem do rosto. A Marina é muito parecida com ela. E eu fui mesquinha o suficiente, para que cada vez que o Diogo me irritasse, eu visse na minha filha, o erro dele, e descontasse nela.

–A sua obrigação é contar pra ela. – Clara disse depois de assimilar tudo o que tinha ouvido. – Eu vou contar o que o meu contato me disse, e vou usar isso como desculpa pra tirar ela de circulação por um tempo. Aproveita esse tempo, e pensa em como você vai contar a verdade pra ela.

Clara levantou-se e virou as costas.

–E mais uma coisa. – A morena disse. – Eu realmente gosto muito da sua filha, e se você não começar a tratar ela como a mulher adulta que ela é, eu afasto ela de você.

Clara subiu as escadas em direção ao quarto da fotógrafa. Marina ainda dormia pesado quando ela chegou. E a morena pode sentar no chão, e pensar em tudo o que tinha acontecido nas últimas 24 horas.

Marina não era filha biológica de Regina. Sua mãe verdadeira estava viva, e era a mãe do Cadu. O mesmo cara que junto com o pai da fotógrafa, tinha sequestrado as duas. O principal motivo de Diogo era o dinheiro. Cadu queria vingança? Talvez ele soubesse a verdade sobre Marina, e por isso odiava irmã. Afinal ela ficou com a vida boa.

Quase Sem QuererWhere stories live. Discover now