Já não me preocupo se eu não sei por quê

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Marina ficou parada na porta olhando séria para a sogra. Um misto de surpresa e revolta passavam pelo rosto de Chica. A fotógrafa esperou paciente até ouvir uma resposta.

–Eu já tomei café. – Chica respondeu e não soube dizer mais nada, não quis ser totalmente grossa, já tinha problemas demais com Clara.

–Não seja mal-educada e nem pão dura, eu pago. – A fotógrafa disse e virou as costas indo em direção ao elevador.

–Eu estou sendo mal-educada? – Chica sentiu o sangue ferver.

–Não se nega comida dona Chica, é falta de educação. – Marina respondeu e apertou o botão do elevador. A porta da casa da sogra permaneceu aberta e quando o elevador chegou Marina entrou.

Apertou para segurar o elevador, esperou, esperou mais dez segundos e quando ia soltar ouviu o pedido para não fechar as portas. Chica entrou no elevador e viu Marina apertar o botão do térreo. Não iriam longe, isso era bom.

Saíram do prédio andando em silêncio, Marina levou a sogra até uma cafeteria próxima ao prédio. Sentaram frente a frente em uma mesa mais reservada, fizeram seus pedidos, Marina pediu bem mais que a sogra, indicando que a conversa não seria curta.

–Então, por que disso agora? – Chica perguntou para a fotógrafa.

–Porque a Clara saiu pra correr e eu não quis tomar café sozinha. – Marina respondeu calma. – Resolvi aplicar a lei do julgamento e convidar a senhora.

–Lei do julgamento? Marina o que você tá querendo? – Chica perdeu a paciência.

–Não é a senhora que me julga pelo que ouviu dos outros. Então, baseada na educação da Clara e da Helena, e no fato da minha mãe ser sua amiga há tantos anos, eu julgo que a senhora não seja tão horrível assim. – A fotógrafa respondeu. Logo depois a comida chegou.

Uma xícara de café e um pedaço de bolo inglês para Chica, e uma xícara de café com um queijo quente e um pedaço de torta pra Marina. A fotógrafa começou a comer em silêncio, e depois de uns goles no café, Chica não aguentou mais.

–Você não quer conversar? Pra que me trouxe aqui? – A mulher perguntou.

–Eu já disse porque trouxe você aqui, e sobre o que você quer falar? – Marina respondeu e emendou sua pergunta sendo direta. – Sobre o fato de você implicar com o meu noivado com a sua filha? Ou sobre o fato de você não ter nenhum motivo sólido pra não gostar de mim?

–Nenhum motivo sólido? – Chica riu irônica. – Devemos começar a falar por suas exs?

–Alguma delas era sua filha, prima, sobrinha, parente de terceiro grau? – Marina encarou a sogra.

–Eram de alguém e você...

–Já abri uma caixa postal para reclamações, choramingos, ofensas e tudo mais, devo passar o endereço pra você também? – Marina interrompeu a sogra.

–Tudo é uma piada pra você. Você não leva nada à sério, não leva ninguém à sério e quer que eu acredite que com minha filha vai ser diferente?

–Não. Só quero que você pare de ser uma idiota com a sua filha. – Marina rebateu. – Não precisa morrer de amores por mim, mas pra alguém que gosta tanto da Clara, você só faz ela sofrer. – A fotógrafa encarou a sogra e respirou fundo. – Lembra bem a sua amiguinha.

Não precisava dizer o nome, ficou bem claro a quem ela se referia e pela cara que Chica fez de volta, ela entendeu direitinho. O silêncio ficou pesado, as duas se encaravam sem ousar desviar o olhar. Era guerra, e Marina não estava disposta a perder.

Quase Sem QuererOnde as histórias ganham vida. Descobre agora