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— Ela se mexeu! Ela se mexeu — proferiu uma voz infantil.

Dulce tentou abrir os olhos, mas suas pálpebras se encontravam tão pesadas, o sono era... ah... o sono era muito bom.

Dulce se acordou com um pequeno pulo

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Dulce se acordou com um pequeno pulo. Olhou em volta e viu que estava voltando para a Austrália em mais um dos seus voos, no mesmo caminho onde seu irmão morreu, olhou pela janela as águas que engoliram seu irmão, sentiu seu estômago se remexer —uma ânsia de vômito—, aquele não era o momento para aquilo, não era o momento para pensar na morte.

Se lembrou imediatamente do sonho que teve a pouco, um sonho estranho, sem pé e cabeça... era só mais um sonho? Parecia tão realista a voz ao fundo, com uma esperança exorbitante.

— Meus advogados já estão cuidando da transferência da sua herança — disse Sebastian atrapalhando seus pensamentos.

— Pouco me importo — falou Dulce serena.

Sebastian deu de ombro e continuou:

— Comprarei uma casa para você com uma parte da herança e você escolherá o que fazer da sua vida.

Que vida?

— Mais do que justo. Tenho que pensar em um país para que eu me mude.

— Me diga onde quer morar e eu comprarei o imóvel.

— Eu tenho que pensar.

— Eu não tenho a vida toda.

— Sabemos. Jean já sabe da decisão? — perguntou Dulce, depois de um tempo em silêncio, por curiosidade.

— Não. Quando saímos da Argentina ele ainda não havia acordado, ou melhor, saímos tão depressa que não tive nenhuma notícia.

— Creio que ele ficará feliz em se ver livre de mim — disse Dulce pensativa e viu Sebastian se remexer desconfortável na poltrona.

— Quem não ficaria?

Só podia ser pegadinha. Dulce se veria mesmo livre daquele inferno, daquele Cativeiro? Dulce seria mesmo livre? Isso só o tempo diria.

A pensar que há algumas horas Dulce estava quase morrendo, que ela não tinha nenhuma perspectiva de liberdade, que viveria a mesma vida até ser chutada como um cachorro velho. Agora o jogo virara. Mesmo que ela não tenha ficado com a fortuna, o jogo virara e ela amava esse pensamento.

Ela sabia que dinheiro não era tudo na vida, sabia que dinheiro nunca era o suficiente, que o poder era sedento por mais, que eram poucos que entravam naquele mundo e voltavam. E quando voltavam, voltavam cheio de cicatrizes, cicatrizes de uma vida manipulada pela ganância, pela a falta de humanidade.

Talvez seu sonho seja ter milhões e milhões de dinheiro, ter uma casa de praia, ser conhecido, viver uma vida de poder e luxo.

Seja grato pelo que você tem, isso é o bastante. Quem vive para o poder perde a felicidade verdadeira, a cor do mundo, perde o valioso brilho dos olhos, perde a companhia de pessoas que estão ali porque gostam de você, não porque precisam estar com você. Perde a verdade da vida. Perde o essencial — a liberdade.

Todos eles são presos. Presos pelo poder. Eles sempre vão querer mais e mais. É a pior prisão que poderia ter.

Dulce não queria e nem ia perder a verdade, a liberdade interior, o amor pela vida, Dulce não ia correr atrás de algo que passa — ela ia correr atrás da felicidade. Porque a felicidade era o bem mais precioso que ela poderia ter. 

A cabeça de Jean latejava lastimavelmente, ele acordou meio grogue em meio ao verde jardim, as memórias o invadiram como um jato de água, ele olhou para o céu quase escuro, há quanto tempo ele estava desarcado? Sebastian o havia atingido bem na ca...

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A cabeça de Jean latejava lastimavelmente, ele acordou meio grogue em meio ao verde jardim, as memórias o invadiram como um jato de água, ele olhou para o céu quase escuro, há quanto tempo ele estava desarcado? Sebastian o havia atingido bem na cabeça, um golpe tão forte que foi capaz de mantê-lo inconsciente por alguns minutos.

— Eu irei matar aquele desgraçado— sussurrou uma promessa para si mesmo sentando-se na grama.

— Se você não morrer antes — uma voz feminina soou.

Jean conheceu aquele timbre, era Leia irmã de sua mulher, tia de Dulce. Ele sabia que aquela mulher alimentava um ódio enorme por ele, Leia o odiava por tudo o que ele tinha feito e vinha fazendo, ele sabia que a muitos anos ela queria matá-lo. Tentou levantar, mas não conseguiu, procurou sua arma pela grama um pouco alta, mas também não a achou.

— Demorou para acordar, eu não quis matá-lo enquanto você estava inconsciente, queria que você soubesse todos os motivos pelo qual eu vou te matar, porque para a vingança ter êxito a vítima precisa saber o porquê da sua morte e quem está a matando. Mesmo que você esteja consciente de tudo que já fez eu adoraria repetir — ela disse lentamente — matou minha irmã...

— Você não tem provas que eu a matei — ele disse.

— Cale a boca — ela disse dando um chute nele — matou minha irmã, meus pais e agora a pouco ia matando a pequena Dulce, pegou minha filha, minha pequena menina, tirou-a de mim por capricho e maldade. Você é odiável, Jean. Você não tem humanidade, prendeu sua filha, matem empregados presos, como escravos. Quem você pensa que é? Você sabe o quanto deve ser ruim ficar preso quase a vida toda? Ah, claro que não. Você não se põe no lugar do próximo.

— Blá, blá. Faça logo seu serviço, imprestável — ele disse desafiador — sempre tagarelando e se metendo onde não é chamada. Dulce é minha filha e se eu quiser matá-la eu mato, pois ela é minha.

— Dulce é sua filha não sua propriedade, ela é maior de idade e depois que eu matar eu cuidarei para que ela abra os olhos e aprenda a viver. Era seu papel fazê-la se adaptar com bossa sociedade, mas você só piorou tudo, você é um péssimo pai e um péssimo ser humano. Vou lhe matar com todo prazer, vou fazer esse favor para a sociedade — disse ela colocando a arma na cabeça do homem a sua frente —, isso é por tudo que Dulce nunca seria capaz de fazer, isso é a vingança — Leia puxou o gatilho lentamente saboreando aquele momento que seria único para ela, a bala tomou espaço na massa encefálica de Jean e ele ficou parado de olhando para o céu.

Leia deixou—o lá com os olhos abertos mesmo, deu um último chute nele antes de correr para longe dali, logo ela receberia a notícia da morte de Sebastian, Jock cuidaria de matá-lo, a próxima seria Mariane. Essa precisava pagar mais do que qualquer outro, ela quem manipulara Jean para prender e casar a força Dulce. Essa teria uma morte lenta e dolorosa, como merecia.

Mariane era inteligente e astuta, Leia sabia que ela ia ficar feliz pela morte do marido, mas sabia também que ela ia ficar morrendo de medo, pois sabia que a tia de Dulce estava na sua cola e sua tia não era para brincadeira, a vingança é um prato que se come frio. 

Em Um Cativeiro ®Where stories live. Discover now