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O sono de Dulce estava tão bom, tão bom que ela havia esquecido o que realmente tinha acontecido, para ela era um dia normal, um dia que ela havia dormido um pouco mais, ela mexeu sua cabeça no travesseiro fofo que ela tinha no seu quarto, abriu os olhos lentamente e deu um leve bocejo olhando para a porta que dava vista para o jardim, sentiu seu corpo doer e todas as memórias vieram à tona, se virou um pouco na cama, para logo em seguida se sentar na mesma e puxar seus cabelos na tentativa de fazer um coque, que saiu muito mal feito. Ela foi ao banheiro e fez o habitual. 

Seus olhos ainda estavam pesados e ela se encontrava ainda zonza, abriu a cortina da porta que dava acesso para a vista do jardim e a luz tomou conta do ambiente, ela se virou devagar e olhou para sua cama desarrumada, encontrando um pequeno objeto, que ela já sabia o que era, a bonequinha. Reuniu todas as suas forças para não desabar em lágrimas, mas a tentativa foi inútil, ela se recusava a chorar, mas não tinha como, se tratava de alguém especial para ela, não era tão fácil assim. Não era fácil esquecer a morte de alguém tão querido e especial. Ela resolveu ir tomar seu café da manhã para pelo menos ver se conseguia esquecer aquilo tudo. 

— Ângela? — Dulce chamou entrando na cozinha, ela estava procurando a chefe da cozinha, sabia que já haviam tirado a mesa, mas ela precisava de comida, seu estômago pedia por alimento. 

— Oi — ela disse olhando para o rosto pálido de Dulce. — Me parece faminta, seu marido pediu para que eu te deixasse o café da manhã, mas eu não sabia que ia acordar tão tarde querida. Sentisse aqui querida — Ângela disse batendo com uma de suas mãos em uma cadeira que tinha perto do balcão enorme da cozinha —, faltam 15 minutos para pormos a mesa do almoço, mas acho que não vai aguentar até lá, enquanto isso pode ir beliscando algumas coisinhas que eu guardei, mas tem que ser pouquinho, porque se não vai conseguir almoçar, tudo bem?

— Sim, mas poderia me dar a comida logo, meu estômago clama por alimento — Dulce disse.

— Claro — Ângela logo depois voltou com um prato tendo nele uma fatia de bolo de limão e um copo com suco de laranja —, eu sinto muito pela sua perda querida, Arthur sempre foi um menino muito feliz, sei que estará em um lugar bom. 

O bolo estava tão gostoso que Dulce nem percebeu a cozinha movimentada onde ela estava, estava perdida em seus pensamentos olhando para seu prato, eram tantos pensamentos para se questionar, mas o que mais lhe atacava era o do pequenino Arthur e seu sofrimento naquele jatinho. 

— Ia me esquecendo querida — Dulce escuta a voz de Ângela ao longe, levanta seu olhar e encontra a mesma mexendo em uma panela: — Sebastian pediu para que tomasse esse remédio que se encontra ai encima da bancada — Ângela disse apontando com a face para o local, Dulce olhou e encontrou um tubinho cheio de comprimido, a mesma não se impressionou ao não escutar o termo: "senhor" se referindo a Sebastian na boca de Ângela, ela era a única que não chamava Sebastian por senhor naquela casa e esse era mais um dos mistérios que Dulce queria desvendar, mas sabia que não deveria perder seu tempo agora.

— Acho que vou ao jardim, quero esclarecer um pouco minha mente — Dulce disse depois de tomar o remédio.

— Tudo bem, mas volte logo querida, você sabe que Sebastian odeia atrasos. 

Ela se deitou na grama embaixo de uma árvore, assim, se defendendo do sol que poderia queimar sua pele. Ela ver entre as pequenas brechas, entre as folhas da árvore, os raios de sol, tentando, incansavelmente, ultrapassar aquelas pequenas folhas. O que é o tamanho das folhas comparado com o sol? Nada. Mas mesmo assim, algo tão pequeno em grupo pode ser capaz de barrar uma coisa tão grande. 

Ao finalizar seu pensamento, Dulce fechou seus olhos, sentindo o vento frio, por incrível que pareça, da Austrália, ela colocou seu braço direito sobre seus olhos, sentindo-se tão bem naquele lugar, sentiu a grama lhe pinicar levemente, lhe mostrando, assim, que ainda estavam lá. Se recordou do pequeno bilhete feito pelo seu falecido irmão, só de imaginar que faziam somente um dia que ele havia morrido, que a pouco tempo eles assistiam TV juntos, que ela nunca imaginava que isso poderia acontecer. Bem, nem eu e você saberíamos que isso ia acontecer, foi tudo tão rápido e repentino. Para ela isso não se passava meramente de um sonho, e se talvez fosse? Se essa história não se passasse de um sonho de uma pessoa qualquer? Se Dulce realmente não existe nessa pequena história?

Ela estava em um sono profundo, se aconchegou em algo forte e se abraçou com o mesmo, sentiu o cheiro de menta entrar pelo seu nariz, um aroma que lembrava algo, ou melhor, alguém, mas ninguém vinha a sua mente, entretanto, o que ela sabia era que...

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Ela estava em um sono profundo, se aconchegou em algo forte e se abraçou com o mesmo, sentiu o cheiro de menta entrar pelo seu nariz, um aroma que lembrava algo, ou melhor, alguém, mas ninguém vinha a sua mente, entretanto, o que ela sabia era que aquele aroma lhe trazia paz, lhe trazia lembranças remotas e um frio no seu pequeno coração. 

Um frio que não sei bem se posso dizer aconchegante, mas, com certeza, uma mistura de medo, ansiedade e uma pitada de curiosidade. Ela se aconchegou mais ainda e, finalmente, seu consciente resolveu agir: "Bem, aquela grama não seria aconchegante assim!", então quem poderia ser? A curiosidade invadiu seu ser e ela juntou forças para abrir os olhos. 

— Bela adormecida caso esteja acordada sugiro que saia dos meus braços — Dulce, ao reconhecer aquela voz, sobressaiu-se dos braços de Sebastian.

Ela acabara, literalmente, de agarrar seu marido. 

— Me perdoe, não sabia que era você — ele soltou um sorriso divertido. 

— Quer dizer que se fosse outro homem você não ligaria? — ele agora fazia uma cara carrancuda cômica. 

Dulce acomodou-se na sua cama. Ela ainda estava com muito sono, não estava com ânimo para discutir com Sebastian, ela queria simplesmente deitar-se e apagar todas as memórias do dia anterior, ela queria afastar a dor, mas ela sabia que dormir só ia adiar a situação.

— Eu estou cansada — disse simplesmente.

— Deve ser o remédio que pedi para que Ângela lhe desse. Ajuda a dormir e ficar mais calma. 

— Até que achei estranho todo esse sono, mas obrigada pela preocupação. Eu gostava muito de Arthur, eu perdi não somente um irmão, mas um filho também. 

— Não diga bobagens Dulce, você é muito nova para querer ser mãe — ele disse com deboche. 

— Não disse que queria ser mãe. Disse que Arthur era como um filho. Não sei como você consegue se manter forte depois disso, vocês eram próximos — ela disse não olhando para o homem ao seu lado. 

— Quando as pessoas que você mais ama começam a sumir da sua vida, você aprende a lidar com a dor de uma forma surpreendente .Ou melhor, você se acostuma com a dor, ela já não é mais um incômodo, ela agora é parte da sua vida — ele disse indo até a porta e sumindo. 

Dulce não sabia, mas esse era o máximo que ela ia saber sobre o passado sombrio do marido. Sebastian tinha razão, ele aprendeu a lidar com a vida e seus imprevistos cedo demais, doía falar sobre aquilo, mas naquele momento ele falou sem ao menos perceber, ele sentiu que Dulce precisava de um apoio e esse era o máximo que ele conseguiria dá-la.

Em Um Cativeiro ®Where stories live. Discover now