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Não, não poderia ser, o que aconteceria com Du?

Dulce poderia morrer, talvez tivera chegado sua hora.

Sua perda traria sofrimento, definitivamente sim. Du jamais seria esquecida, principalmente com uma morte tão cruel. O que ela havia feito para merecer tanta coisa ruim? É, essa é nossa pergunta diária, a resposta é tão simples, assustadora e, muito, surpreendente.

Confesso, é simples e óbvio, mas realmente posso dizer que não é bom, afinal, ela realmente está presa.

Jean subia as escadas do porão, que levava até a cozinha, acochava Dulce, para ela não se estapear e acabar se soltando, iria a levar para o jardim, o lugar que Du mais amava, onde haviam sido registrados suas melhores lembranças.

— Sabe infeliz, eu não consigo entender o porquê de você ainda estar viva, o maldito do Sebastian deu para trás, se eu não conhecesse um pouco aquele ser, com um coração de gelo, poderia dizer que ele estava apaixonado por você. Mas Sebastian é movido a poder, ganância e dinheiro, muito dinheiro, e, amor, paixão e tudo que envolva esse mundo sem recompensa, não se enquadra nesse caso — fez uma pausa muito longa e voltou a falar repentinamente: — Já você, que parece exatamente como a idiota da sua mãe, tem esse brilho no olhar, esse maldito brilho! Quero tirá-lo dos seus olhos, assim como tirei dos delas.

Escutar Jean falar da sua mãe lhe trouxe um ódio imenso, ela fechou os olhos e sentiu uma lágrima presa descer livremente. Liberdade, era isso que Dulce nunca ia ter, nunca, definitivamente. Ódio, um dos sentimentos que ela lutava, o número dois dos seus piores pesadelos, e lá estava ele, acordado dentro dela, era o pior dos sentimentos, mostrava que ela estava se tornando um deles e, notavelmente, ela não queria isso.

Ao contrário de muitas pessoas, a morte não assustava Dulce, ela não queria morrer, mas também não tinha medo do que Deus a reservava, isso era o que sua mãe havia lhe ensinado e, nem que ela quisesse, não poderia esquecer.

— Eu te odeio Dulce, você foi a gravidez mais indesejada, eu poderia até me acostumar ver uma pateta andando pela casa, mas você veio para estragar tudo, desde os meus planos até minha vida. Você sempre estragou tudo, Dulce. Desde o momento que você começou a se gerar. Em pensar que nesse teu corpo repugnante corre meu sangue me dá repulsa, nem para sua mãe gerar um menino, nem pra isso ela serviu, mas eu fui idiota, esperei muito, esperei muito para ter o que eu desejo e não vou esperar mais, já fazem 21 anos.

Eles estavam próximos da grande árvore, a mesma árvore enorme que Dulce ficava olhando no seu cativeiro, a mesma árvore que ela passava o dia olhando e conversando, não julguem ela, se vocês estivessem presos fariam o mesmo, aliás, muita gente faz isso sem estar presos, então vamos relevar. Jean a jogou de baixo da árvore, nossa protagonista se contorceu de dor, o impacto havia sido muito forte. Dulce não sabia o que fazer, o normal era gritar, mas Dulce estava estática demais, até ver o que Jean havia acabado de empunhar, era uma arma. Dulce gritou o mais alto que podia, acordando do seu breve transe.

— Grite retardada, implore por algo que nunca vai ter, liberdade, socorro. Quem poderia lhe ajudar? Quem seria capaz de me afrontar? Ninguém — gritou ele — venham, venham! Ajudem a Dulce pateta — ironizou ele, Dulce sentiu as lágrimas inundarem todo seu ser.

Eu nunca estarei sozinha, repetiu para si mesma, olhou para o céu, ainda gritando, e pediu para Deus lhe ajudar, em uma pequena prece cheia de soluços. Sentiu o cheiro da morte pairando pelo ar, um arrepio passou pela sua espinha, sentiu as palavras, que ela queria falar, presas na sua garganta, tomou força e coragem, se pronuncio:

— Papai — disse com toda sua coragem e olhando em seus olhos —, se vai mesmo me matar é porque tem um motivo, eu te entendo e te perdoou por isso. Talvez você já tenha sofrido muito, papai, e tenha acabado se tornando esse monstro, mas eu sei que dentro de você deve ter um pedaço realmente seu. Mesmo com tudo que você fez comigo e minha mãe, eu te perdoei e vou continuar te amando. Sim papai — ela fez uma pausa, deu um suspiro em meio as suas lágrimas, olhou no fundo da alma de seu pai e disse as palavras que ela temia: — Eu te amo, eu confesso que não consigo entender, mas eu sei dos meus sentimentos por você e eu te amo papai.

Dulce não mentia, não estava tentando manipular seu pai e ele sabia que era verdade, ele viu nos seus olhos.

Os olhos a porta para a alma, o caminho da verdade, aonde se guarda os mais escondidos sentimentos, para saber o que uma pessoa esconde basta coragem de olhar nos seus olhos, é somente olhar com atenção. Dulce se assustou com o que viu nos olhos de Jean, era uma turbulência, uma confusão, via o seu medo lá no fundo, bem escondido no canto da sua alma. Era aterrorizante, desvio o seu olhar, não aguentaria olhar para aquele lugar escuro por muito mais tempo.

— Menina, não voltarei atrás com minha decisão, pode falar as palavras mais belas do mundo, mas eu não vou perder vinte e um anos da minha vida para nada, para eu não pôr esse dinheiro nas minhas mãos, nem por cima do meu cadáver eu desisto das minhas escolhas. Agora está muito mais fácil do que antes, agora eu não tenho mais empecilho e não dividirei a herança com Sebastian, já que, ele não cumpriu o trato e não te matou.

Sebastian iria me matar.

Não poderia ser, ela estava sendo manipulada, agora tudo fazia muito mais sentido.

Jean havia sido esperto, deixou que Sebastian matasse Dulce, ele teria sua recompensa, uma pequena parte da herança, uma parte muito boa. Dulce seria morta por dinheiro e, por precaução, Jean deixou que Sebastian fizesse todo o serviço, pois, se fosse descoberto, quem levaria a culpa era seria ele, quem seria o assassino manipulador era ele.

— Acabe logo com isso, por favor. Sem mais palavras, sem mais revelações, somente a bala dentro do meu cérebro — pediu ela fechando os olhos e esperando somente a bala vim ao seu encontro.

Sentiu a ansiedade invadir lhe, as lágrimas já não existiam, iria ter uma morte rápida, mas não tão calma, afinal, ela não poderia exigir demais, bastava não sentir mais dor, era mais do que o suficiente, bem, era mais do que suficiente para ela. A cada milésimo de segundo era como se ela sentisse a bala sendo atirada, como uma surpresa esperada.

Liberdade? Não, Dulce não ia tê-la, afinal, ela nem sabia se ainda queria a tão desejada liberdade, o que ela faria com a liberdade? Passara a vida inteira sem tê-la, era muito provável que quando a tivesse ou descobrisse não soubesse como usá-la, nem como viver com ela.

Entraria agora em um sono profundo, a morte, e o que ela mais desejou (liberdade) não ia servir de nada, ela não a levaria, sua luta havia sido totalmente atoa, na verdade sua vida tinha sido totalmente atoa. Uma mulher que viveu 12 anos presa, presa sem motivo, presa por ganância, se essa mesma mulher passasse por cima de tudo isso e conseguisse ter uma vida normal para o resto de sua vida poderia dizer que havia acontecido um grande milagre, o que Dulce queria era impossível.

A vida de Dulce não era nada normal, sua história era sobrenatural e a solução da mesma ainda mais. 

Atenção:

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Atenção:

Consegui entregar o capítulo, amém! Se tiver erro de PT me desculpem!

Homenagens de hoje (duas leitoras)

a maior amiga do universo, uma grande pessoa, amo ela eu!
@Isacardlima ela comenta pra caramba, uma grande leitora! 💕

Ps.: Vou retornar a fazer homenagens, talvez seu nome esteja no próximo capítulo...🦋

Amo vocês...❤️🥀

Em Um Cativeiro ®Onde histórias criam vida. Descubra agora