37 - CAPÍTULO

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💗🌼 KIMBERLY WINSOR

Fiquei alguns dias internadas sob efeitos de sedativos. Não registrei o tempo e nem nada. Hoje recebi alta, finalmente. A realidade demorou algumas horas pra me atingir e me vi chorando novamente desesperada. Não posso acreditar que ele se foi. Meu marido, meu melhor amigo e pai das minhas filhas se foi. Não é justo. O que irei falar pra Sophie? Ela ama muito o pai. Me sentei na cama e Susan entrou no quarto com Tracey. Imediatamente me abraçaram, mas me esquivei. Não preciso desse excesso de zelo agora. Não estou forte o bastante para conseguir seguir adiante e sinceramente, neste momento, não sei se um dia estarei.

- Kimberly... - Susan começou.
- Eu tô bem - Comecei a calçar meus sapatos evitando o olhar de pena delas - Só quero voltar para minhas filhas que precisam de mim.
- Elas estão bem. Giulia pegou o Mark de volta. Sei que não era o que o... - Se deteve.
- Ele é filho dela, não é? - Fui fria e ríspida na resposta - Só ligo para as minhas filhas, nada mais.
Elas se entreolharam.
- Podem falar. Nada mais me fará sofrer, pois meu coração já foi arrancado com a perda do meu marido e do meu bebê. Foi um presente dos céus de uma só vez.
- Não fale assim, Kimberly, ninguém te castigou.
Gargalhei debochada segurando as lágrimas que caíram boa parte da manhã.
- Diz a pessoa que tem a vida perfeita com o marido e filhos que ama - Olhei para a barriga de Susan - Vocês não entendem e nunca entenderão porque nunca passaram pelo mesmo. Só me deixem sozinha. Preciso de um tempo. Não quero ser testemunha diária da felicidade de vocês e nem de ninguém.
- Kimberly, você é minha melhor amiga, você estava comigo quando o Jonathan passou mal e foi parar no hospital, você...
- É sério que você está comparando? Seu marido está vivo - Me alterei ainda mais encarando as duas que eram casadas e felizes - O Christian morreu, morreu. Qual é a parte que vocês não entenderam?
- Se acalma, amiga - Tracey pediu enquanto meu peito subia e descia - Só queremos te ajudar.
- Não quero ficar calma e nem quero ajuda. Eu tô bem, será que dá pra entender?
Jonathan entrou no quarto me olhando rapidamente e passando a mão pelos meus ombros me abraçando que não o abracei de volta.
- Eu sinto muito. Nós vamos te ajudar. Transferi os pagamentos mensais para sua conta, não se preocupe com nada.
Será que não entendem que não quero saber de absolutamente nada? E muito menos de dinheiro? A única coisa que eu peço é humanamente impossível, então pra que tentar?
- Quero vê-lo - O encarei que desviou o olhar.
Ele fitou sua esposa. Pelo menos ela o tinha. É justo? Elas são melhores do que eu? Deixei uma lágrima cair. Jon evitava meu olhar. Era estranho porque sempre fomos amigos e ele é do tipo que fala sem desviar os olhares, mas parece que está fugindo como se sentisse culpado de algo.
- Já teve o enterro, não é? - Só pode ser isso.
- Não exatamente - Encarava os sapatos com muita atenção que deveria dar a mim -Christian tem por escrito que seu desejo era de ser cremado e as cinzas jogadas no jardim daquela fazenda que ele te levou. Sempre que passávamos as férias lá, éramos felizes...
- O que? - Esbravejei - Tô pouco ligando para onde vocês foram felizes ou não. Você não tinha o direito de tomar nenhuma decisão sem me consultar. Eu sou a esposa, quem tinha que decidir era eu. Isso é crime, você foi mesquinho, egoísta e vou te processar.
- Kimberly, se acalma - Susan tentou se aproximar e levantei a mão para impedí-la.
- Não - Gritei em meio às lágrimas - Quero vocês longe de mim e das minhas filhas. Vocês não tinham o direito. Não tinham. Todos vocês deixaram aquela maluca o matar. Ninguém fez nada, absolutamente nada. Aqueles seguranças de merda não fizeram nada e meu marido pagava uma fortuna e pra que? - Solucei deixando meu rosto ser lavado pelas lágrimas que não paravam de cair - Luísa matou o meu marido. Se ela não tivesse se matado, eu mesma a mataria com as minhas próprias mãos. Espero que esteja apodrecendo no inferno que é o mínimo que merece.
Abri a porta e saí correndo do hospital e chamei um táxi na rua. Peguei o celular e liguei para minha sogra.
- Sophia, minhas filhas estão com você?
- Sim. Você recebeu alta?
Respirei fundo secando meu rosto. Elas não podem me ver assim. Sei que devemos mostrar aos filhos que não somos fortes o tempo todo, que somos humanos e temos sentimentos, todavia neste momento, não posso ser fraca e fazê-las sofrerem tanto.
- Tô chegando para buscá-las - Não respondi e fui mais grossa desligando o aparelho.
Falei o endereço ao motorista e chegamos na residência de Sophia em poucos minutos. Só quero me enfiar em um casulo e levar minhas meninas comigo. Preciso muito delas e mais nada, de mais ninguém.
Sophia saiu com elas e minha primogênita correu para me abraçar.
- Mamãe, o que aconteceu? Cadê o papai?
Peguei Anne dos braços da minha sogra e a abracei também. Fiquei um tempo com as duas em meus braços.
- Precisamos ir, obrigada, Sophia.
- Se precisar de ajuda, por favor, me liga. Vou adorar passar um tempo com elas que são maravilhosas - Passou a mão pelos meus cabelos e me permiti sentir seu carinho - Não hesite em me chamar a hora que for. Vocês são importantes pra mim, são tudo que me restou do meu filho.
Assenti reparando como ela estava pálida, magra e cheia de olheiras. Ela perdera seu filho novamente, só que dessa vez fora pra sempre. Lhe dei um abraço rápido.
- Agora eu só preciso de um tempo pra colocar a cabeça no lugar antes que eu magoe mais pessoas.
- Você não está sozinha, nunca se esqueça.
- Eu sei, porém não processei muito bem o que está acontecendo, só sei que nunca mais deixarei ninguém entrar no meu coração para depois ser massacrado.
- Não fale assim. Christian iria querer que fosse feliz.
Não gostei de ouvir o nome dele. Não sei se é algo recente, mas dói e talvez eu não consiga mais dizer.
- Até mais.
Entrei no táxi com as minhas meninas. Não sei como direi a Sophie sobre seu pai, que jamais poderá voltar a vê-lo. Se eu tiver que ver e ouvir mais alguém, irei enlouquecer. Só quero paz e cuidar das minhas filhas, nada mais. Será que é pedir muito?
Me tranquei no quarto com elas aspirando o perfume do meu único amor no ar.
- Sophie - A aconcheguei em meu colo - Você precisa ser forte assim como a mamãe. Vamos nos ajudar. O papai... ele... sofreu um acidente muito ruim e nos deixou. A culpa não foi dele. Ele foi um herói.
Ela olhou pra baixo e suas lágrimas caíram.
- Meu pai morreu? - Ainda não me encarava.
- Sinto muito, princesa. A gente pode rezar pra ele que nos ouvirá, o que acha?
Ela se sentou na cama me olhando por um bom tempo sem emitir nenhum som. Na verdade, nem parecia que me enxergava. Até que se encolheu chorando baixinho. Peguei Anne e nos abraçamos junto a irmã.
- Eu sinto muito, princesa, sinto muito. Temos que ser forte. Somos só nós 3 agora para nos ajudar. Vai dar tudo certo, eu prometo.
Não quero ajuda e muito menos compaixão das pessoas. A única coisa que quero que entendam é que o isolamento e estar somente com as minhas pequenas irão me auxiliar a ser mais forte. Nunca estarei curada de verdade. O único homem que amei, que me viu amadurecer, que me fez mal, que acreditou em mentiras e que mudou drasticamente por nós, não está mais nesse mundo. Me arrependo tanto de ter ido embora. Devia ter lutado ao invés se ter sido orgulhosa e imatura. Perdemos tantos momentos e agora eu o perdi pra sempre.
Só quero que essa dor desapareça ao invés de esmagar o meu coração. Por vezes mal consigo respirar sufocada por tanta dor. Eu quero poder me levantar e seguir minha vida como se nada tivesse acontecido, mas como? Não conheço essa receita. Não sei lidar com esse tipo de perda. Eu... odeio admitir, mas preciso de ajuda, de muita ajuda. Não vou conseguir sozinha. Tenho medo de fazer alguma besteira. A vida ficou e ficará pior sem ele. Não sei se sou forte o bastante para suportar tudo isso.
Eu quero morrer. Preciso dele comigo, com nossa família. Não é justo, não é justo, não é justo.
Sufoquei um grito no meio da garganta e abri a boca para respirar. Não tenho a mínima ideia por onde começarei. Viver sem ele nunca foi uma opção desde que nos casamos. Me apaixonei à primeira vista. Foi ele quem me fez descobrir mulher, quem me ensinou todas as sensações extraordinárias de ser tocada, possuída e admirada. Ele fez com que eu me sentisse bonita e orgulhosa de mim mesma. Ele me ensinou o verdadeiro significado do amor.
Meu marido foi o melhor homem que já conheci. Ele se autocriticou e mudou para melhor por si só, reconhecendo os erros. Achei que seria impossível, mas me apaixonei duas vezes mais. O medo me dominou e não consegui aproveitar porque o afastava o tempo todo.
Se o tempo realmente cura, então quero ser curada, também quero ser capaz de esquecê-lo e me esquecer de tudo que passamos juntos. Irei viver como se ele nunca tivesse feito parte da minha vida e, se os meus amigos quiserem continuar com o título, deverão seguir essa regra básica.

CASAMENTO FORÇADO  - FAMÍLIA WINSOR - LIVRO 2 (CHRISTIAN) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora