FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]

XXXIV. ELAS

Era disso que queria se lembrar, não daquela Teodora que o encarava por trás dos castanhos e doces olhos de Eloísa. Lorenzo balança a cabeça negativamente.

— O que mudou... — raciocinou. — É que você... — era difícil dizer aquilo — Teo, você não tinha feito um acordo com um demônio para voltar à terra — a dor era sentida a cada palavra. — Foi isso que fez, não foi?

— Não — gritou, mas ele tinha certeza que Teodora mentia. — Enzo, por favor, não me mande de volta — implorou. Ele tentava não deixar que seus sentimentos por ela o influenciassem, mas seu coração nunca tinha doído tanto quanto doía naquele instante. Precisava agir, havia algo que não batia naquilo tudo. O rosto dele se desmanchou em um choro traiçoeiro que o provocava soluços. — Eu juro que você vai entender quando tudo acabar — as sobrancelhas dela estavam tensas em um choro também, mas ele não acreditava nela.

— Eu ia tirar você de lá — contou, as lágrimas deixaram seus olhos com maior intensidade. — Teo, éramos uma dupla.

— Ainda somos... — prometeu ela. — Enzo, você só precisa me deixar aqui e o ciclo não se fechará. Estaremos livres — contou.

Ele passou a ponta da lança em sua bochecha direita, fazendo com que um rasgo se abrisse com facilidade e Teodora gritasse como se ele estivesse arrancando alguma parte do seu corpo. Doía nele. Talvez doesse mais nele do que nela. Apenas demônios sentiam o corte de uma lança de diamante, então ele teve a mais absoluta certeza de sua mentira.

— Precisa acreditar em mim — gritou, Ele desceu a ponta da lança por seu ombro nu pela regata fina que usava e ela gritou mais alto. — Você precisa entender. Eu não podia mais ficar lá — justificou-se — Enzo — em súplica.

Ele parou. Entendia o que Teodora queria dizer. Sabia exatamente o que ela sentia.

— Você precisa aguentar um pouco mais — sussurrou. — Precisa aguentar por mais um tempo.

— Não. — Teodora se tremia. — Eu não vou voltar — abaixou a cabeça, mas logo retornou seu olhar até ele. — Não posso voltar, Enzo. Está do lado errado — puxou ar com força, fraca.

Ele ficou confuso com sua firmeza e, antes que pudesse reagir, foi atingido pelas correntes de zinco, caindo metros longe dela, com a lança de diamante sendo jogada longe também. Estava tonto quando tentou se sentar. A enxergou e a mulher tinha um objeto brilhante em mãos. Com uma lança de ouro, Teodora caminhou, ainda com sangue escorrendo pela face e ombro, em direção a ele. Seus olhos se arregalaram e um pavor se estendeu por todos os seus membros, até as pontas dos dedos.

— O que está fazendo? — Gritou, já retomando sua lucidez. — Teodora!

— É para o seu bem — continuou indo em sua direção.

Enzo se arrastou pelo asfalto arenoso, mas não sabia o que faria a seguir.

Todo o desapontamento que sentia o deixava mais fraco e a dor que apertava o seu peito era tão grande que, por um instante, deu-se por vencido.

Mas antes que chegasse até ele, uma lança de diamante atravessou o peito da garota, fazendo-a cair ajoelhada no chão, com sangue escorrendo de sua boca e o mais tristonho olhar que já se viu em alguém. Lupita o encarava com os olhos arregalados depois de jogar a lança contra o corpo daquela que mais queria proteger. Ele abriu a boca afoito. Não. Pensava. Eloísa, por favor.

Sentaram-se novamente um ao lado do outro. Enzo respirava ofegante e estava preocupado demais. Ele assistiu o corpo do anjo definhar ali mesmo depois que ela voou tanto tempo com ele. Corpos humanos não aguentavam a magnificência das asas de um anjo. Ele olha para as próprias mãos, sujas de sangue. Fechou os olhos. Você vai ficar bem. Coloca-se de pé no instante que o fogo começa no corpo antes ocupado pelo anjo e pega o extintor, começando a apagá-lo em seguida.

— Você não deveria ter ido no meu lugar — lamentou por Teodora, mais solitário do que nunca, com as mãos se afundando no cabelo sujo, sentindo o peso da culpa por todas as desgraças que aconteciam às pessoas que ele mais se importou na face da terra.