Capítulo 67

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Acordo com relutância e sinto meu corpo paralisado, não abro os olhos, mas o aroma que sinto não é mais desagradável como no buraco.

Sinto uma vontade enorme de levantar, mas não consigo me mover direito, parece que estou a muito tempo deitada e tivesse que me acostumar com os movimentos novamente.

Abro os olhos depois de longos segundos dormindo... Talvez...

Meus olhos parecem se acostumar a luz fraca depois de tanto tempo reclusa. Melhor as pontas dos dedos da mão direita e sinto um calor na mão esquerda.

Giro levemente a cabeça para o lado da minha mão e aos poucos sinto minha visão desembaçar e clarear.

Meus olhos se enchem de lágrimas e solto um soluço sentido. É estranho ouvir minha voz depois de tanto tempo sem falar. "Voz horrorosa, continua a mesma!"

Vejo o calor se afastar dá minha mão e tomar a extensão que vai do meu estômago ao meu pescoço e só então noto que estou sendo abraçada. Ouço alguém resmungar alguma coisa e pisco várias vezes seguidas ao perceber que a voz é de Faruk.

Olho para ele assim que ele se afasta e movo com dificuldade minhas mãos em direção ao seu rosto, ele está sorrindo e com lágrimas nos olhos, seu semblante está cansado e a barba está por fazer, mas ele continua lindo.

- Você está viva! - ele diz em som quase inaldivel.

- Faruk... - Sussurro em um fio de voz que sai da minha garganta, vejo o seu sorriso se alargar e ele me dá um beijo na testa.

- Eu jurava que estava morta quando te encontrei naquele buraco... Eu achei que tinha te perdido! - sua voz é falha e ouço passos em minha direção.

Ouço alguém exclamar meu nome é a voz é inconfundível, Rocca!
Olho com dificuldade para o outro lado e vejo Rocca sentado entusiasmado.

- Ada você está bem? - ele pergunta cutucando minha bochecha, sorrio e assinto - você ainda pode falar? - vejo seus imensos dentes afiados se curvarem sobre meu rosto.

- Posso... - digo com a voz quase sumindo.

Ele se afasta e Faruk ordena que todos saiam, pois preciso descansar. "Acabei de acordar!"

Tento erguer a mão em protesto, mas logo ouço a porta se fechando e sei que todos já se foram. Faruk está do meu lado ainda, mas logo se levanta e de repente uma luz invade o quarto.

Faruk volta a se sentar do meu lado.

- Quanto tempo estou assim? - pergunto vendo minha voz voltar aos poucos ao normal.

- Dois anos e nove meses Ada, você ficou desaparecida durante dois anos e meio e ficou cerca de três meses desacordada em cima dessa cama. - sua voz é extremamente triste.

- Ó... - só então me dou conta que devo ter meus dezenove anos.

Me movo com dificuldade e Faruk me ajuda a se sentar na cama, apoio a cabeça na cabeceira e ele se senta na ponta da cama. Percebo que alguém abriu a porta e olho em direção a ela. Vejo uma moça entrar no quarto e noto que é Louise.

Ela carrega frutas em uma bandeja, para ao lado de Faruk e entrega a bandeja a ele, ouço soluços e sei que ela está chorando. Sinto um abraço apertado e com dificuldade retribuo.

- Estou bem - digo com a voz um pouco mais normal. Ela se afasta.

- Todos os dias achei que estava morta, todos os dias perdia a esperança de ver acordada novamente. - a voz dela sai embargada. Ela olha para Faruk e seu olhar escurece - Alicia terá o que merece? - sua voz é ríspida.

"Alicia!" Sinto uma tontura tomar meu olhar e por um momento acho que vou desmaiar, mas Faruk me segura para que eu não tombe na cama.

- Conversamos sobre isso depois, deixe-nos a sós... - ele diz tranquilamente.

Vejo Louise sair pela porta e encaro Faruk.

- Onde ela está!? - digo com a voz falha.

- Não se atormente com isso agora pequena Ada... Ela terá o que merece - a voz de Faruk é gélida ao pronunciar a última frase.

Sinto aos poucos meus movimentos voltando ao normal e mastigo lentamente uma fruta.

Depois de alguns minutos me atrevo a ficar de pé e com a ajuda de Faruk caminho até a janela. Olho para fora fora e vejo muitas criaturas e pessoas lá em baixo.

- O que eles fazem aqui? - pergunto com curiosidade.

- Eles vem todos os dias e rezam por você... - a voz de Faruk é terna.

Sinto meu coração acelerar e olho para Faruk incrédula.

- Você que me tirou do buraco? - pergunto.

- Sim... - ele diz tristemente.

- Você me viu sem roupas? - "Que vergonha! Que vergonha! Minha situação devia ser péssima, além do fedor de podre!"

Ele dá de ombros.

- Te tirei  do buraco, te dei banho e cuidei de você... - ele diz olhando para fora da janela. Minha boca forma um imenso "O" e ele me olha gargalhando.

- Está brincando não é? - digo desacreditada.

- Não Ada! Eu realmente cuidei de você, te dei banho durante todos esses dias, cuidei de todo ferimento que tinha, escovei seus cabelos... - ele joga a cabeça para o lado - está ficando vermelha! - ele volta a gargalhar e instintivamente dou um soco em seu estômago, mas devo estar bem fraca, pois ele nem se move. - Qual é Ada! Não te fiz nenhum mal, apenas te dei banho e vesti suas roupas.

- Você... Você me viu nua... - digo olhando para baixo, ele gargalha novamente.

- Tenho seiscentos séculos e alguns anos nas costas sei como me portar perto de uma mulher mesmo que ela esteja sem roupas... - ele me puxa para um abraço - senti sua falta... - sua voz é carregada de ternura.

- Também senti a sua...










(Gente ainda acontecerão algumas coisitas antes do livro acabar, creio que mais uns quatro ou menos capítulos....

Agradeço a paciência e a atenção de vocês em cada estágio do livro).

Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)Where stories live. Discover now