Capítulo 4

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Ao fim da tarde estou saindo do colégio e vejo que papai está atrasado, seu carro ainda não está estacionado no local de sempre. Espero. Espero.

'Psiu'
'Ada! Venha aqui!'
'Ada! Olhe para cá!'

"De novo não!" Olho para os lados e algo atrás de uma das árvores do colégio me chama a atenção, tem algo se movendo atrás da árvore.

Caminho em direção a árvore e vejo uma mão minúscula encostar do lado da árvore, chego mais perto para ver o que é, a mão é branca como papel!

Ouço buzinas e vejo papai me esperando, penso em caminhar para a árvore e ver o que é! Mas em vez disso sigo para o carro correndo, não quero ver papai zangado comigo. Olho para trás quando passamos pela árvore, mas seja lá o que for que estava se escondendo atrás da árvore se foi.

***

Estou deitada em minha cama, a mala que estava em meu quarto não está mais. Creio que papai demorou por esse motivo. Estou pensando no acontecimento de mais cedo e não consigo esquecer a mão minúscula e branca, era inacreditavelmente branca.

Hoje não quis jantar, estou sem fome.

Papai bate a minha porta e abre calmamente.

- Oi papai. - respondo indiferente. Ele entra e caminha até mim, senta-se ao meu lado na cama e acaricia meus cabelos.

- Você é muito parecida com sua mãe! - sorri - as vezes posso sentir a presença dela através de você.

- Papai eu... - não consigo falar, as palavras estão engasgadas em minha garganta e me lembro da possível descoberta que fiz mais cedo, meus olhos tornam a ficar embaçados, me sento na cama e dou-lhe um abraço - ... sinto falta da mamãe! - choro em seu ombro como se ainda tivesse meus cinco anos de idade.

- Eu também querida! Eu também... - Sua voz está embargada e sei que ele está se segurando para não chorar.

Me afasto.

- Queria que ela estivesse aqui... - minha voz sai por um fio.

- Ela está em um lugar melhor meu amor, e está olhando por nós.

- Mas não é como se ela estivesse aqui. - eu sei que egoísmo querer sua presença para sempre, mas eu sei que ela não devia ter perdido a vida ainda e por minha causa.

- Temos que ser fortes Ada! - papai soa como um combatente. Dou um sorriso fraco e assinto.

- Nós somos. - digo mais para mim mesma do que para ele.

- Sim querida, somos... - seu olhar se torna terno. - gostaria de lhe pedir desculpas pelas palavras duras que ouviu... - papai volta a acariciar meus cabelos - você é muito preciosa querida, é tudo o que me restou, é minha força, meu bem mais precioso.

- Não se preocupe papai, foi besteira perguntar sobre um desconhecido. - faço um gesto com as mãos, como se imaginasse algo - se fosse algo importante mamãe diria, não é mesmo!

- Claro filha. - suas palavras são firmes, mas seu olhar é carregado de dúvidas.

- Está tudo bem, eu não vou atormenta-lo com coisas que mamãe deveria ter compartilhado comigo em vida - me dou conta que falei uma frase que não faz sentido para papai e acrescento - se fosse uma pessoa que tivesse haver comigo, mamãe teria me dito, como não disse, então não é da minha conta. - dou um sorriso nervoso, esperando que ele não me peça explicações.

Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)Where stories live. Discover now