Capítulo 23

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- Uga! - levo a mão no peito.

- Ele está bravo! Ele vai matar Uga e você! Aliás como é seu nome? - ele me olha jogando a cabeça de lado.

- Me chamo Ana! - minto.

- Ana... Bonito nome!

- Achei que fosse me dedurar... - ele gargalha.

- Uga é bom! E você comeu frutas do meu pomar, Uga será sempre seu servo! - ele me reverência, sinto meu rosto corar. Sorrio. E passo a mão em sua imensa cabeça verde. Duendes são verdes com orelhas pontudas, seu pequeno nariz tem formato de focinho de porco e seus olhos são vermelhos e pequenos. Seus dentes são minúsculos e arredondados. São estranhos, assim como tudo que habita esse lugar.

- Já que é assim! Por onde vamos passar? - olho para Uga e ele começa a pular empolgado.

- Vamos caminhar pela floresta enganosa, poderemos se esconder quando quisermos e faremos amizade com as árvores! - me levanto.

- Então vamos logo, preciso chegar o mais rápido possível. - "preciso encontrar dona Coruja e Rocca".

Uga volta a caminhar se enfiando na floresta, sinto meu coração apertado "Preciso adiantar meus passos", prometo a mim mesma que não vou parar de caminhar nem sequer por um minuto.

Estamos caminhando a horas e Uga está todo animado ainda "como ele consegue?" Já comi várias frutas e o sono está começando a chegar. Não consigo diferenciar dia e nem noite por que voltamos para a floresta enganosa e como a árvore trapaceira me disse, aqui não existe dia.

Lá de vez em quando nos escondemos de seres alados que estão voando ou fadas! "Não gosto de fadas! Me causam calafrios!".

Minhas pernas doem e meu cabelo está reluzindo demais. Desde que entramos na floresta não tirei mais o capuz para que ninguém veja a luz que os fios estão causando.

Uga disse que sou muito bonita e que pareço com uma princesa. Eu dei tanta risada ao ouvir essas palavras que ele simplesmente não falou mais comigo, acho que magoei ele por não me achar bonita.

Não aguento mais andar.

- Uga já estamos chegando? - Minha voz sai chorosa.

- Não! Falta mais algumas horas! - "tenho a impressão que ele está sendo generoso dizendo que faltam apenas horas!".

***

Meus olhos não querem mais me obedecer, Uga diminuiu um pouco o ritmo, mas não parou ainda. E sinto uma vontade enorme de dormir, minhas pernas estão trêmulas e a dor se tornou insuportável.

- Uga vamos parar, por favor! - Ele parece não me ouvir.

Continuo segundo seus passos, meu cansaço é tanto que desde a hora que meu capuz caiu da cabeça eu não voltei a colocar.

E por causa disso meu cabelo deve estar sendo notado de longe. Já senti outras modificações. Uga disse a algumas horas que meus olhos estão de outra cor e variam conforme caminhamos.

***

Finalmente Uga decidiu parar. Estamos encostados em uma árvore e vamos dormir aqui, Uga e eu comemos mais algumas frutas e meus bolsos estão começando a ficar vazios, meus olhos estão pesados e quase não suporto ficar em pé.

- Ana você é de que lado de Pearl? - suas palavras fazem meu coração saltitar. "O que eu digo?"

- Sou do... Bem... Do norte. - Ele me olha confuso.

- Mas estamos indo para o norte! - "minha nossa e agora!".

- Eu disse norte? Não... Imagina, eu quis dizer leste! Sou do leste! - seu olhar suavisa.

- Uga não é burro! - ele dá um sorrisinho. - está mentindo para Uga! Você não parece ser daqui... E por que Faruk iria querer te encontrar? - suspiro.

- Eu sou de outro lugar Uga, um lugar onde o dia e a noite são bem definidos, onde existe calor em abundância, lá existe bondade de sobra e nossos governantes ou "guardiões" - faço o sinal de aspas - são pessoas que tentam fazer a coisa certa, não saem matando qualquer pessoa, apesar de existir alguns malvados também.

- Lá as criaturas são escravizadas? - ele me olha com brilho nos olhos. Sinto uma pontada no coração. Faruk é muito Severo.

- Não Uga! Lá algumas criaturas são livres e outras vivem junto conosco, lá não fazemos as criaturas trabalharem tanto e quando fazem... Bem... As pessoas devem ser punidas.

- Me leva para lá! - sua voz dia esperançosa.

- Caso eu volte viva para lá, vou levar você sim. - sorrio e me lembro de dona coruja e Rocca. Meus olhos se enchem de lágrimas, Uga deita sobre a minha capa e dormimos.

***

Acordo com um grito horripilante, sento-me no chão e vejo Uga dormindo ainda sobre minha capa. Olho em volta e vejo ao longe pisadas que fazem o chão tremer.

Meu coração está batendo tão forte que acho que posso ouvi-lo.  Vejo um ogro correndo atrás de um diabrete.

Vejo quando o ogro agarra o diabrete e arrancar sua cabeça com a boca, o corpo do diabrete ainda se move nas mãos do ogro e ele arranca um braço do diabrete e mastiga.

O sangue do pequeno diabrete jorra das partes que foram arrancadas. Não consigo parar de olhar a cena e sinto certo prazer em ver a cena. Me sinto horrorizada com o fato de que estou com a sensação de prazer.

Cutuco Uga e ele acorda preguiçosamente.

- Uga tem um ogro comento um diabrete! Ele comeu ele vivo! - Uga levanta depressa e parece estar em alerta.

- Temos que sair daqui Ana, se ele nos ver seremos os próximos! - me levanto depressa e sigo os passos de Uga, não tiro os olhos do ogro que está devorando cada pedaço do diabrete.

Caminhos silenciosamente até deixar para trás o ogro e seu café da manhã. Uga está no seu melhor pique! Caminha animado e cheio de vida, será uma longa caminhada!

Após caminharmos um pouco me perco em pensamentos, lembro dos almoços com papai, lembro das nossas brigas e desentendimentos, lembro dos nossos momentos difíceis, lembro da morte de mamãe, lembro de cada palavra e olhar terno que papai me dava.

Lembro dos seus carinhos e cafunés e de todas as risadas que ele dava. Sinto como se estivessem me torturando. Imagino a dor que papai está sentindo e começo a pensar se todo esse desgaste vale a pena.

Mas então penso em minha mãe e de como ela morreu, lembro que meus amigos estão desaparecidos e do que Faruk disse que faria caso eu não viesse morar aqui com ele. "Vale a pena! É a única forma para que eu volte para casa!".

Penso em como seria viver aqui sem papai e meu coração dói, mas não é por que seria ruim... Tento ignorar todas essas sensações estranhas que tenho sentido desde que conheci Faruk. Me sinto um pouco desumana.

Tenho que matar Faruk e voltar para casa. Não posso ficar aqui por muito tempo. Quero retornar para o mausoléu que tanto odiei e que agora sinto falta.

Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें