Cap 2 - "Fifteen"

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Porque quando você tem 15 anos

E alguém diz que te ama

Você acredita

E quando você tem 15 anos e acha que

Não tem mais nada o que descobrir

Bem... conte até dez, se ligue

Essa é a vida antes de você saber quem você será

Nos seus 15 anos

Fifteen – Taylor Swift

Trecho de "1989"

Pov. Janel Jancowski

Polônia, 1986 – 21 de Fevereiro.

É como uma reação em cadeia, uma colisão desenfreada. Tem um ritmo, um ritmo louco, que transborda a cada segundo. É assim, que posso definir o momento exato em que conheci Henry, mesmo com uma distância pude ver que ele quase foi ao chão, tropeçou, olhei a minha volta, para perceber se mais alguém havia notado, mas a única que sentia a conexão daquele momento era eu. Ao olhar para o meu pai eu entendi, todos estavam ali com um objetivo, objetivo, que no momento também deveria ser o meu: protesto. Em vez disso, eu estava ali, nadando no mar, que era o Henry.

Mesmo com tudo ocorrendo a minha volta, eu não conseguia falar, ou gritar alguma frase de ordem, tudo o que eu pensava era nele, eu tentava falar, mas a minha boca estava travada, Oton e Haskel gritavam ao meu lado, e me faziam pular junto com eles, mas todas as minhas tentativas de gritar alguma coisa, eram anuladas, toda vez que eu olhava para ele.

Resolvi ir embora.

- Mãe, eu vou pra casa.

- Porque? O que aconteceu?

- Não estou me sentindo bem, preciso ir.

- O.k, vá, mas se cuide.

Andei pelo meio da multidão, me sentindo desolada, o que estava acontecido comigo? O que aquele menino dos cabelos encaracolados havia feito? Por onde eu me perdi?  A onde a Janel verdadeira foi parar?

Consegui sair da frente da sede do governo, e realmente ali, voltei a respirar com tranquilidade, andei umas duas quadras, quando senti fraqueza, aquilo tudo não podia ser apenas por causa dele, podia? Me sentei na calçada, e fiquei olhando para o meu sapato, e vi que estava um pouco sujo.

- Precisa de ajuda? – olhei para cima, e ali estava ele, com a farda, em toda a imponência de soldado.

- Eu.... eu.... eu...

- Você...

- Não, eu não preciso de ajuda.

- Quem é você?

- Hã?

- Quem é você? Qual o seu nome?

- Janel Jancowski.

- Prazer, o meu nome é Henry Podleski. – falou me indicando a mão, apertei a mão e senti um choque percorrer pelo meu corpo. Aquilo podia mesmo ser real? – Eu te vi lá no protesto.

- É...

- Você não deveria fazer esse tipo de coisa, sabia? Uma menina como você, tem uma reputação a zelar.

- Sim, claro, e você saiu de qual livro antigo soldado? Porque eu não sei se você sabe, mais as mulheres da nossa época, já estão bem evoluídas.

- Ei, ei, vai calma moça, não quis insultá-la, apenas acho que protesto, não é lugar de moças como você.

- E que tipo de moça você acha que eu sou soldado? Você nem me conhece.

- Pelo jeito, você não tem uma personalidade fácil de lidar, estou certo?

- Bem, nisso você esta certo.

- Então, mais um motivo para eu acreditar que você não deveria estar em um protesto.

- Soldado, minha conduta sexual, não é a mesma coisa do que o meu caráter. Sou moça de respeito, sou, e justamente por ser uma, é que corro atrás daquilo que acho que é certo. Sendo assim, tenho total direito, assim como todos os homens aqui, tem de lutar pela igualdade no nosso país, agora se o senhor não concorda com isso, sinto muito, mas também não me lembro de ter pedido sua opinião.

- Uau, você tem opiniões bem formadas a respeito da vida não é? Você tem quantos anos?

- Bem, soldado se me permite ser curta e grossa.

- Mais do que já esta sendo?

- Como?

- Nada, fale, por favor.

- Porque eu deveria te dar tantas informações a meu respeito?

- Porque estamos nos conhecendo.

- E porque deveríamos nos conhecer?

- Certo, esta é uma boa pergunta, honestamente, acredito que não deveríamos nem estarmos conversando, se dando ao fato que você é uma militante do protesto, contra o homem que eu defendo. Mas acredito que tem coisas na vida, que precisamos nos arriscar, e quando eu olhei para você, senti que a vida estava me dando uma segunda chance. Acho que isso não costuma acontecer com frequência.

- Segunda chance?

- Bem, se você quer tanto saber a respeito disso, acho que precisamos nos conhecer primeiro, e você esta sendo bem relutante, não é?

- É, sim, mas...

- Então – falou ele me interrompendo. – Eu preciso ir agora, mas no sábado poderíamos nos encontrar.

- Um encontro soldado?

- Se você quer colocar nessas palavras, sim, um encontro. Aceita?

- Onde?

- Bom, conhece a sorveteria *Polskie Lody?

- Sim.

- Então, você me passa o seu endereço, e no sábado iremos lá.

- Certo, seja o que Deus quiser. – passei o endereço para ele, que anotou em uma agenda.

- Até sábado. – falou ele.

- Até.

O que eu tinha na minha cabeça, ao aceitar um encontro com um soldado que defende ao Presidente Jaruzelski ? Foi a pergunta que eu mais fiz a mim mesma, no caminho para casa.

Me sentei no sofá, e olhei de novo para os meus sapatos, aquilo estava  muito errado, não estava? Me perguntei, sabendo que ninguém iria me responder, eu estava sozinha ali.

Resolvi ligar o rádio, todas as rádios falando sobre os protestos, de certo modo, fiquei muito irritada, irritada comigo mesma, irritada com Henry, irritada com o Presidente Jaruzelski, irritada por meu país estar na situação que estava, veja só, naquele horário da tarde, estaria tocando uma musica legal, que me tiraria a atenção de tudo a volta, mas afinal, o que eu estava tentando esquecer? Henry? Protesto? Nem eu mesma sabia, a única coisa que eu tinha em mente é que eu estava muito chateada com tudo.

Fim do trecho de "1989"

* Polskie Lody é uma sorveteria da Polônia, mas no Brasil, eu não consegui achar nenhuma que tivesse os requisitos da época, então coloquei qualquer uma. ☺

_Arw

You Are In Love [Projeto 1989]Where stories live. Discover now