9 - Um Salvador Inesperado - Parte 2

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– Não! Primeiro quero que soltem meu pai.

O homem apertou os dentes e recolheu a mão. Olhou de soslaio para Lux, junto à mesa de ferro, no centro da sala.

–Tire sua língua imunda dos meus biscoitos, seu pulguento! – berrou. Enxotou o cão com abanos de mãos, pegou a tampa do pote e fechou-o. Tornou a encarar Croune.

– Se realmente deseja ver seu pai, me passe este embrulho, agora!

– Não! – negou Croune.

– Escute aqui, seu moleque, estou perdendo a paciência. Ou me dá o que tem na mão, ou vou ter que pegá-lo à força.

Croune deu um passo para trás. Suas costas tocaram a porta.

– Não invente de sair por esta porta, garoto – ordenou o Ancião. – Não me responsabilizo pelo que vai acontecer a você... Pare de brincadeira e me dê...

O Ancião avançou de supetão, e o menino, mais ágil, abriu a porta e saiu junto com seu cão.

– VOLTE AQUI, SEU INFELIZ! – esgoelou-se o Ancião ao saltar para a rua e olhar, furioso, para a figura delgada correndo sem rumo para fora do vilarejo. Não conseguiria alcançar Croune e nem era sua intenção correr atrás dele. Foi correndo ao estábulo, ao lado de sua casa, retirou a tranca de madeira e abriu rapidamente a porta dupla. Virou o rosto quando o ar quente trouxe um cheiro repugnante de estrume.

– ATRÁS DELE! – ordenou tristor e afastou-se num salto.

Dois soldados, montados em cavalos, saíram em disparada pela porta larga, seguindo o dedo indicador do Ancião que apontava para o pequeno fugitivo magricela.

Ao ouvir o som dos cascos dos cavalos, Croune olhou por cima do ombro e percebeu que estava em apuros. Não havia escape. Estava fora do vilarejo, mas em questão de pouco tempo seria alcançado. Olhou de um lado a outro, em busca de um lugar seguro para onde correr. Não teria tempo de alcançar a floresta – não antes de ser capturado.

Os cavalos se aproximavam rapidamente.

A única opção para Croune foi correr até a Figueira das Reuniões.

– Fique parado, menino! – ordenou um dos soldados. Ele e seu companheiro estacaram diante da figueira.

A árvore não podia dar nenhuma proteção vantajosa àquela criança desesperada. As costas tocavam o grosso caule, e, abraçado ao objeto de metal, apertava-o ao tórax. Respirava ofegante, com o globo ocular inquieto, oscilando entre um soldado e outro. Lux estava plantado à frente, rosnando e latindo para os cavalos como um verdadeiro protetor.

– Vamos! – disse o soldado sem elmo, com um cabelo liso caído sobre a testa. – Me dê este objeto!

– Não ouviu? – falou o segundo soldado. – Ele deu uma ordem! Não banque o surdo!

Croune contraiu os músculos do rosto, como as crianças fazem antes de chorar. Arrastou o dorso pelo tronco da árvore e caiu sentado, embrulho sobre o colo.

– Eu quero que soltem meu pai! – disse, a voz soluçante.

– Deixe de ser chorão, seu moleque fedorento! – falou um dos soldados. – Não me faça perder tempo. Jogue isso pra cá!

– NÃO! – gritou Croune. – Se eu der, não vão soltar meu pai. Sei que não vão.

– Não me faça usar a espada... – O soldado sem elmo se aproximou, levando a mão à cintura.

Ao perceber a aproximação do cavalo, Lux avançou, presas à mostra. Mas a bota do soldado encontrou o focinho do cão e o pobre animal rolou pelo chão, indo parar perto de Croune, onde ficou ganindo de dor e usando as patas para alisar o focinho machucado.

O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now