2 - OS GAROTOS DE QUIRIATE - PARTE 1

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– Cuidem da vida de vocês!

E acelerou o passo.

– Eu deixei você ver o capacete de soldado que encontrei na floresta, lá do lado daquela árvore, lembra? – disse Balfeu. – Combinamos de mostrar tudo que encontrássemos lá.

– Não pedi para ver aquele capacete velho. E não sou obrigado a mostrar nada. Foi você quem inventou esta regra, pois é um grande curioso.

Croune saiu correndo, o que devia ter feito há muito tempo.

Antes de entrar em sua casa, ergueu os olhos ao galpão da Untuárica Wilan, para visualizar uma fumaça quase transparente saindo da chaminé de tijolos. Seu pai tinha voltado a preparar a encomenda de seu cliente e estava precisando de sua ajuda. Agradeceu em silêncio por ele não estar dentro de casa e fazer a famosa pergunta: Onde conseguiu isso? Por sorte, Croune sabia exatamente onde esconder aquele embrulho: no esconderijo que ele mesmo havia criado sob o assoalho de seu quarto.

Arredou o criado-mudo, ajoelhou-se e desencaixou uma das madeiras do assoalho irregular, que se desprendeu facilmente, como de costume. Ali estavam seus mais preciosos bens: a metade de uma adaga afiada, encontrada certo dia na Floresta Velha enquanto brincava com os outros garotos; um objeto circular e enferrujado, o qual afirmava ser o anel de um soldado de Edrei, mas que ninguém acreditava, e duas fatias de bolo de cenoura, furtados da cozinha na noite anterior.

Colocou delicadamente o embrulho no buraco recém-aberto, até seus dedos tocarem a terra úmida, dois palmos abaixo do assoalho. Sobre ele, depositou o saquinho marrom que pertencia ao Sr. Spartex. Depois, ajeitou a madeira do assoalho sobre o esconderijo, colocou o criado-mudo no lugar e foi auxiliar seu pai na Untuárica Wilan, onde passou o restante daquele dia.

Na manhã seguinte, reuniu-se com os outros meninos que o esperavam no final da rua e juntos invadiram o pomar da parteira do vilarejo, onde roubaram algumas maças, ainda verdes, para comerem longe dali. Para o azar do grupo, o Ancião Regente estava saindo da Confeitaria Líria e os avistou pulando o cercado em direção à rua.

- Estão roubando frutas novamente, garotos? – perguntou ele, pegando-os de surpresa.

Os meninos pararam de repente. Dois entre eles jogaram as frutas atrás de uma pequena moita, na inútil tentativa de demonstrar que não haviam roubado.

- Estamos apenas brincando, Sr. Tristor. – responderam.

– Acho que a Sra. Beltroude não gosta que brinquem de roubar frutas do pomar dela.

- Não estávamos roubando, Sr. Tristor – disse um dos meninos. – Ela permitiu que pegássemos.

- Então você não se importará se eu for até a casa dela e perguntar se isso é verdade, não é, Tuki?

O menino gelou.

- Prometemos não fazer novamente, Sr. Tristor – interveio Croune.

- É! Prometemos não fazer, Sr. Tristor – ajudou Rudi, o filho do taberneiro.

O Ancião ficou observando-os por um instante.

- Espero que isso não se repita – disse ele. –, pois da próxima vez que pegá-los no pomar da Sra. Beltroude, vamos passar o dia juntos, como da ultima vez, entenderam?

Todos concordaram com a cabeça e agradeceram quando ele deu às costas e seguiu para sua casa.

Passar o dia com o Ancião Tristor era o castigo que os meninos mais odiavam. Certamente aquele gorducho ficaria por horas forçando-os a decorar as Leis Locais, as quais haviam sido escritas em um grande papel e grampeadas na porta de sua casa com o titulo: "QUINZE COISAS QUE AS CRIANÇAS NÃO PODEM FAZER". Este título era traduzido pelos meninos da seguinte forma: "QUINZE COISAS LEGAIS, INOCENTES E DIVERTIDAS QUE AS CRIANÇAS NÃO PODEM FAZER".

O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now