Capítulo 107

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- Acorda logo. – Minha voz saiu falha como todas as outras vezes. – Eu não aguento mais ver você assim. – Sentada em uma cadeira desconfortável, apoiei minha cabeça na maca sobre meu braço de modo que pudesse visualizá-la.

Fiquei um tempo apenas chorando e acariciando a mão dela. Não sabia se eu estava ficando maluca mas tive impressão de sentir a mão dela se mover, mesmo que fosse um pouco. Levantei minha cabeça tentando focalizá-la melhor.

- Você está me ouvindo? Me dá um sinal, por favor. Tenta apertar minha mão, piscar, não sei. Qualquer coisa que me faça me sentir mais confiante maninha. Eu estou cansada de ver você assim, de ver você no estado que está.

Mas nada adiantou. Talvez fosse apenas alucinação minha.

As semanas que se seguiram foram bem tensas. Lunna não dava sinal de melhora nem de piora. Arthur e eu quase não nos falávamos. Ele estava ficando estranho de uns dias para cá. Não falava com quase ninguém e quando falava era o essencial. No final da aula ele era sempre o primeiro a se retirar e no início, o último a entrar. Eu sabia que ele estava principalmente evitando a mim e quis respeitar isso. Olhar para mim e não se lembrar de Lunna era impossível, mas era doloroso de mais ver um dos meus amigos se afastar assim de mim quando mais precisava dele. Nós precisávamos um do outro.

Os poucos dias que ele passou na minha casa foram mais confortáveis. Ter alguém que conhecesse Lunna tão bem quanto eu, fazia eu me sentir bem e sei que a ele também.

Era uma quarta-feira quando saí da aula. Arthur saíra mais ou menos um minuto antes como sempre em passos largos a fim de fugir de mim. Mai me deu uma olhada como de todos os dias anteriores e suspirou. Agora que éramos apenas nós três ali a coisa ficara ainda mais complicada. Anahí, Alfonso e Christian se formaram no ano letivo anterior então restamos apenas nós.

Saindo da sala topei com os dois guarda-costas que viviam atrás de mim, Christopher e Arthur que parecia prestes a chorar. Ambos pareciam aflitos.

- A gente precisa ir para o hospital. – Christopher estava nervoso. Percebi isso pelo tom de sua voz e pelo modo como estalava os dedos das mãos.

- O que houve? – Perguntei sem ter muita certeza de que queria ouvir a resposta. Olhei Arthur que balançou os ombros para cima e para baixo como sinal de que não fazia ideia do que estava acontecendo. Minhas pernas perderam as forças e minha mochila escorregou por meu braço. – Não!

- Ei, calma. – Christopher deu um passo em minha direção. – Está tudo bem com ela ok? Mas a gente precisa ir.

- Me... me diz o que houve? Por favor! – Christopher acariciou minha bochecha, me deu um abraço e então sussurrou em meu ouvido:

- Lunna acordou.

Christopher não quis explicar para nós o que estava acontecendo. Por que tanto mistério. Ele deveria estar feliz, mas ao invés disso parecia triste.

O trajeto entre a escola e o hospital parecia ter dobrado de tamanho e o único som dentro do carro eram os dos meus soluços e da respiração eufórica de Arthur no banco de trás.

Saltei para fora do carro assim que Christopher estacionou e não esperei por ninguém. Entrei o hospital, assinei meu nome na recepção e fui procurar por meu pai.

Ele estava na costumeira sala de espera junto com meus avós, Blanca e seu marido.

- E então? – Minha voz saiu falha devido à falta de ar. – Como ela está? – Mas não houve respostas. Nada além de olhares penosos. – Papai? – Ele se levantou e veio até mim me dando um abraço apertado. – O que está acontecendo? Porque ninguém fala nada? – O empurrei. – O que está acontecendo caramba?

- Vem meu amor, senta aqui. – Ele me guiou até uma poltrona onde me sentei esperando por resposta. Vi Arthur chegar junto com Christopher e Maitê e parar na porta. – Lunna acordou, ela está bem.

- Então por que essa cara? Por que esse silêncio?

- Houve... houve consequências Dulce. – Ele se sentou no braço da poltrona acariciando minhas costas. Meu estômago parecia estar dando uma cambalhota dentro de mim mesmo assim fiquei calma esperando a próxima facada. – Ela está passando por uma série de exames agora. Tiveram que sedá-la, pois estava muito agitada.

- Vocês deixaram sedar minha irmã depois dela passar semanas em coma? É isso mesmo? – Me alterei não querendo crer no que estava ouvindo.

- Foi melhor ok? Ela vai acordar mais tranquila.

- Papai, que consequência? – Minha saliva parecia amarga.

- Ela não consegue mexer as pernas, não consegue falar e – ele se calou pensativo. Olhei-o e pude ver seus olhos marejarem.

- E?

- Não sabemos se é de momento, ou se será permanente, mas... – Ele fechou os olhos permitindo as lágrimas escorrerem por sua face.

- Lunna perdeu a memória Dulce. – A voz de Christopher invadiu o local. Senti meu coração palpitar tão forte que tive a sensação de que estava enfartando. Arregalei meus olhos olhando todos à minha frente. Num impulso me levantei e tentei sair da sala, mas Arthur e Christopher me barraram.

- Me solta! Eu quero ver a minha irmã, ela precisa de mim, ela precisa de mim! – Tentei me soltar, mas agora Christopher me tinha presa em seus braços. – Ela deve estar confusa, deve estar com medo me solta Chris, por favor.

- Calma amor, calma. – Ele me apertou contra seu corpo me imobilizando. – Logo poderá vê-la, eu prometo, mas você precisa ficar calma.

- Não! Ela precisa de mim agora. AGORA!

- Se ela te ver nesse estado pode ficar mais assustada ainda meu amor, você precisa ficar calma primeiro ok? – Ele me levou de volta para a poltrona, onde contra minha vontade me sentei.

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Meu Guarda-Costas | VONDY (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora