Capítulo 22

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- Beca... ta na hora amor. - abro os olhos lentamente e olho pro quarto pouco iluminado, sinto os braços envolta da minha cintura e o calor da respiração do Fê no meu ombro.

- O corpo já chegou? - pergunto com a voz baixa, minha garganta doendo com a vontade de me acabar de chorar.

- Estão levando. - me sento na cama e ele me solta.

Me levanto e vou até ao banheiro, observo meu reflexo no espelho. O estranho é que eu não derramei uma lágrima sequer, apesar de eu sentir como se tivesse morrido junto com o meu avô, da dor constante e, claro, a vontade de deitar na minha cama e chorar até não poder mais. Mas acho que depois de meses perdidos, chorando todos os dias de luto, eu não sei mais como é chorar. Passo água gelada no meu rosto e seco com a toalha. Saio do quarto depois que vejo que o Felipe não está mais na cama, vejo todos sentados no sofá e alguns esparramados pelo chão. O clima tava tão pesado, todos de preto deixavam o ambiente mais escuro... eu havia esquecido como era passar por tudo isso.

- Cadê a vó e o Carlos? - pergunto pro Murilo que está com a Mel no colo.

- A vó quis esperar lá. - o Murilo responde sem olhar pra mim - ela deixou seu vestido em cima da cama dela e do vô...

Assenti com a cabeça e andei até a porta entreaberta do quarto dos meus avós, eu sentia muita pena da minha vó e de como seria difícil pra ela agora. Pra todos nós será, mas principalmente pra ela.

Quem consegue suportar a dor de perder o amor da sua vida?

Peguei o vestido preto rendado, era o mesmo do enterro dos meus pais. Infelizmente eu não cresci nem um pouquinho desde os meus 15 anos.
Depois de por o vestido, colocar um salto preto que minha vó também deixou pra mim fui pentear o cabelo.

- Vamos? - encaro a sala vazia. - Mas que porra é...

- Eu to aqui! - o Fê diz saindo da porta do quarto dele, gente do céu que maravilhoso! Deu vontade de agarrar ele agora.
Controle-se Rebeca, menos bem menos querida quase nada ta?

- Ué cadê o resto do povo? - pergunto indo até ele.

- Já foram, vamos? - ele diz me observando.

- Vamos. - falo indo na frente dele e destrancando a por - sabe o quanto é estranho te ver de terno?

- Sabe o quanto é estranho te ver de salto? - ele diz e sorri pra mim. - Mas ta maravilhosa.

- Igualmente - digo e ele vem até mim, me puxando pela cintura e dando um beijo delicado.

- Eu quelo fala com o vovô Tata! - a Mel reclama enquanto enrola o meu cabelo na ponta dos seus dedinhos.

- Meu amor, você não vai mais ver o vovô - eu falo e ela me olha nos olhos.

- Porque Tata?

- Ele ta descansando agora. - eu murmuro e os olhos dela se enchem de água.

- Igual a mamãe e o papai? Eles já não descansaram? Não podem acoda? - ela diz e faz um biquinho com os olhos vermelhos cheios de lagrimas.

Ninguém fazia ideia de que essa era pior parte, não se deve ter pena dos mortos e sim dos vivos. Fiquei sem palavras pra responde-lá.

- Tata? - ela diz e me abraça forte.

- Oi amor?

- Voxê não vai descansar também né?

- Não amorzinho, a Tata ta aqui com você viu?

- Ta bom.

- Mel? Oi meu amor! - escuto a voz da minha avó que dirige um sorriso fraco pra nós duas.

A Mel pula do meu colo e vai correndo até a minha vó.
Eu me levanto do murinho em que estava sentada e me viro pra procurar o Felipe.
Já havia acontecido o enterro, eu não sei nem quantas horas faz que eu estou aqui.
Só sei que estou exausta.

- Er... Beca? - olho para trás e dou de cara com a Kath.

- Oi talarica, ops... Katherine. Desculpa é força do hábito - digo e dou um sorriso cínico.

- Ah qual é Rebeca? Você sabe que eu não faria nada pra prejudicar você e eu estou aqui pro que você precisar.

- Será que não faria mesmo? Some daqui desgraça, eu posso não ter muitas pessoas do meu lado mas gosto de ter certeza de que as que estão comigo são de verdade. Agora some da minha frente. - falo entre os dentes pra ela e passo esbarrando no seu ombro.

Continuo a andar sem olhar pra trás e logo vejo o Fê encostado na parede com um copinho descartável de café na mão.

- Ei, você me leva pra casa? - pergunto me aproximando e ele estende um braço pra mim, me puxando e logo me envolvendo em um abraço protetor.

- Claro Rebeca, imagino o quanto está sendo difícil pra você.

- Pra falar a verdade ta sim - falo passando meus braços pela sua cintura e encostando a cabeça em seu peito. - acho que já deu por hoje. Eu quero chegar em casa, tomar um belo e relaxante banho de banheira e cair na cama.

- Opa, adoraria fazer tudo isso com você. Principalmente a parte de cair na cama... - ele diz e bebe um gole de café com o olhar inocente.

- Você não tem limites né seu safado? - falo damdo um sorriso fraco.

- Não mesmo. Vamos indo então. - ele pega na minha mão e eu confesso que eu estava amando todo aquele carinho. Fazia tanto templo que eu não recebia aquilo.

Acho que minha vida ta meio que se encaixando agora. A única peça que eu não imaginava que ia sair do lugar era meu avô. Mas vai tudo ficar bem, tudo passa...
Olho intrigada para os carros de polícia que param em frente a rua.
Quatro policiais saem de dois carros e procuram alguém.
Vejo eles andando até a minha vó que esta com a Mel no colo olhando sem entender nada.
Solto a mão do Felipe e corro até a minha vó, o que foi difícil por conta da desgraça do salto alto.

- Senhora Renata Lewis a senhora está presa - o policial mais alto diz puxando uma algema.

- Não. Só pode estar havendo um engano - minha vó olha com medo pra mim e solta a Mel que vem correndo e agarra na minha perna.

- Nenhum engano senhora, as mãos por favor - ele diz e minha vó se vira de costas estendendo as mãos.

- Nada disso vocês não vão levar a minha avó, que caralho ta acontecendo aqui? - eu grito ficando de frente com o policial.

- Mais respeito senhorita ou a levo presa por desacato.

- Desacato o cacete, você ta levando uma senhora de mais de sessenta anos presa que acaba de perder o marido, e quer que eu fique quieta? Puta que pariu ai já é demais. Pode pelo menos dizer a acusação?

Ele abre a porta do carro e os outros dois policiais sentam lado a lado da minha vó como se ela fosse de fato uma criminosa.
O policial põe uma perna dentro do carro e olha pra minha cara com uma expressão séria.

- Cúmplice de homicídio.

Bafonico, tirem suas conclusões enquanto não sai o próximo capitulo haha.
Bjossssss



Foda- Se O AmorWhere stories live. Discover now