͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝗌𝖾𝗏𝖾𝗇

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Pip piscou devagar, lutando para manter o foco. Os braços tremiam. A luz da lanterna refletia na água, girando junto com o mundo.

  ──── Por que tá fazendo isso? - a mais nova tentou soar mais segura, mas sua voz estava arrastada e as pálpebras começando a pesar. Apertou a pedra com mais força. ──── Não é de mim que você tem raiva… É do Max Hastings! Ele causou tudo isso… Podemos ir para casa agora e eu prometo que podemos fazer justiça.

Becca ficou imóvel por um segundo. A luz trêmula da lanterna ainda iluminava o poço, e o som da água reverberava entre as pedras como uma respiração presa.

Seus olhos encaravam Pip, arregalados, como se as palavras da garota tivessem perfurado alguma parte esquecida de sua culpa.

Mas então, com um estalo quase audível, algo se partiu dentro dela.

  ──── Justiça? - ela cuspiu a palavra com uma risada seca e amarga. ──── Justiça? Quando vai entender que nada acontece com pessoas como o Max Hastings?!

Bell avançou com violência, agarrando o casaco de Amobi com as duas mãos, puxando-a com força na direção do poço.

  ──── Eu sinto muito, Pip! Você não entende, eu não queria fazer isso, mas eu preciso! - o ódio no rosto dela se transformou em desespero puro, uma máscara quebrada por lágrimas que voltaram a escorrer sem controle.

Pip tentou resistir, mas o corpo cedia, mole, trêmulo. A borda do poço estava a poucos centímetros. O fundo parecia chamar. Chamá-la pelo nome.

  ──── Não! - ela gritou com a última força que lhe restava, levantando o joelho com precisão desesperada. Acertou o lado de Becca com força, bem na altura da articulação.

Becca gritou, tombando para o lado com um gemido de dor.

Pippa cambaleou, soltando-se, os pés escorregando na pedra molhada. Quase caiu. Mas então correu.

Ou tentou correr.

Cada passo era um tropeço. A escuridão da caverna girava, os pilares parecendo se mover e estreitar. A lanterna da loira ainda brilhava atrás, mas ela não conseguia olhar para trás. Só podia seguir, tropeçando pela escuridão úmida, como se o próprio mundo estivesse tentando arrastá-la de volta.

Pip mal conseguia enxergar. Tudo ao seu redor era borrado e vertiginoso, como se o mundo estivesse derretendo. Ela tropeçou em uma pedra solta, o joelho raspando no chão, e caiu com força contra uma rocha grande e fria. O impacto arrancou o ar dos pulmões.

O gosto amargo da droga ainda estava na boca, e seu coração martelava dentro do peito como um tambor quebrado. Tentou enfiar a mão no bolso, buscando o celular com dedos dormentes. Quando finalmente o alcançou, as mãos trêmulas não conseguiram mantê-lo firme. O aparelho escorregou e bateu no chão com um estalo surdo, caindo em uma fenda rasa entre duas pedras.

Ela soltou um som engasgado, quase um soluço. Estava tão perto… Mas o corpo já não respondia.

──

O tilintar dos garfos era quase imperceptível, abafado pela voz animada de Ravi, que gesticulava com entusiasmo enquanto contava mais uma de suas histórias cheias de dramatização.

Cairo olhava para o irmão com um sorriso mais contido, brincando com o purê de batata em seu prato. Era reconfortante ouvir a risada de seus pais de novo, mencionar Sal nas histórias sem aquele pesar estranho. Mas a sua última conversa com Pip ainda a deixava inquieta.

O celular dela vibrou uma vez, silenciosamente, ao lado de seu prato. Os olhos foram para o aparelho quase automaticamente.

Era a localização de Pip. Singh ainda mantinha o rastreador do celular dela ativo, e a notificação mostrava que sua parceira havia acabado de chegar em um lugar diferente. Distante, isolado, e definitivamente longe dali.

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⏰ Last updated: Jun 11 ⏰

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𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Where stories live. Discover now