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Nem mesmo a música no volume máximo conseguia silenciar a tempestade de pensamentos que a consumia. As mãos tremiam enquanto ela agarrava com força os guidões da bicicleta, pedalando de forma descontrolada, cada vez mais rápido, como se pudesse fugir do que sentia.
Queria gritar, chorar, deixar a dor sair de alguma forma. Como ela pôde? O frágil potinho de esperanças que guardava no fundo do peito havia sido esmagado, estilhaçado como vidro atingido por um taco de baseball. Agora, os cacos invisíveis pareciam cravar-se em sua pele, cada um carregando o peso da traição. Com raiva e desespero, apertou ainda mais os guidões, sentindo o calor do metal contra os dedos trêmulos.
O som da música pulsava em seus ouvidos, mas não era o suficiente para abafar o grito que queria soltar, aquele nó sufocante que crescia na garganta. Como ela pôde? Como ela ousou jogar fora tudo o que significava para ela? A confiança, a promessa silenciosa de justiça… tudo parecia uma mentira agora.
Os pensamentos fervilhavam, o coração batia em um ritmo frenético, e o mundo ao redor era apenas um borrão. Ela apertava os guidões da bicicleta com tanta força que os dedos começavam a doer. Inclinou-se para frente, pedalando ainda mais rápido, sem notar os obstáculos no caminho. Tudo parecia explodir dentro dela: a raiva, a dor, a traição.
De repente, um estalo. Uma raiz saliente no chão, uma curva mal calculada. Antes que pudesse reagir, o guidão se virou bruscamente e o mundo girou. Cairo sentiu o impacto forte contra o chão e ouviu o som oco da bicicleta batendo na árvore próxima. Sua pele queimou ao ralar o joelho contra o asfalto, e uma pontada aguda percorreu o braço quando o cotovelo atingiu o chão.
Ela ficou ali, ofegante, encarando o céu por alguns segundos enquanto o choque e a dor se misturavam. Sangue escorria do joelho ralado, e o cotovelo latejava de forma insuportável. Aquele choro entalado na garganta finalmente saiu, em meio a dor física e psicológica. Soluçava como aquela criança que encontrou o corpo de seu irmão no quintal onde brincou tanto. Em meio às árvores que os dois costumavam correr.
