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O lago apareceu entre as árvores como um velho segredo revelado à medida que Cairo pedalava, silencioso, espelhando as nuvens, exatamente como deixaram da última vez. Desde a briga. Desde o dia em que Pip desistiu.
Não voltavam ali há semanas. Talvez aquele fosse o lugar delas, o refúgio onde tudo parecia mais simples, menos sufocante. E agora, estavam voltando porque, segundo Pip, ainda havia pontas soltas. Coisas que não se encaixavam.
Algo no fundo de sua mente até concordava com ela, sentia essas pontas soltas, mas não podia mergulhar em mais investigações. Não iria aguentar e acabaria se afogando, mas sua teimosia era maior que aquilo.
Cairo desceu da bicicleta e empurrou o descanso com o pé, respirando fundo. Ainda estava cansada, algo já comum, as, daquela vez, sair da cama não tinha sido tão difícil. Os remédios estavam finalmente fazendo efeito. A névoa pesada dos últimos dias começou a rarear, mesmo que só um pouco. Estava tudo bem de novo como há cinco anos atrás, quando saia de casa e não havia pichações no muro ou janelas quebradas.
Limpou suas mãos suadas em sua bermuda e e ajeitou a gola do casaco. O silêncio pesado do lago parecia amplificar cada passo enquanto ela se aproximava de Pip, só ouvindo seus próprios passos sobre as folhas secas.
Amobi estava sentada à beira do lago com os joelhos encostados no peito, braços em volta das pernas, os olhos perdidos no reflexo acinzentado da água. Não virou quando ouviu Singh chegar, mas relaxou os ombros num gesto sutil, como se a presença dela fosse um alívio silencioso.
Ainda assim, havia algo tenso naquela imagem: as bordas de Pip pareciam duras, como se estivesse se segurando para não quebrar de novo.
A mais nova se sentou ao seu lado, cruzando as pernas e olhando para a garota ao seu lado através do reflexo do lago, sem dizer nada de imediato. O silêncio entre as duas não era desconfortável, soava mais como uma pausa carregada, uma respiração antes da queda.