͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝗌𝖾𝗏𝖾𝗇

Start from the beginning
                                        

  ──── Tem algo errado, Singh. Algo que não fecha - Pip disse, ainda sem olhar para Cairo.

A morena respirou fundo, como se pudesse afastar tudo aquilo com ar fresco.

  ──── A gente prendeu o assassino, sargento. Elliot tá na cadeia, ele matou Andie e… Sal. Não pode só... ter acabado?

Amobi virou, e dessa vez seus olhos encontraram os de Singh. Havia algo inquieto ali, quase febril.

  ──── E se ele não for o assassino da Andie? E se ainda tiver alguém solto, assistindo a gente tentar costurar a história errada?

Por um instante, Cairo quis negar. Quis convencer a si mesma de que Pip estava enxergando fantasmas onde não havia nada. Não podia ser diferente. Foi Elliot, tinha que ter sido. Se ele foi capaz de matar Sal, então também seria capaz de matar Andie.

Ela desviou o olhar covardemente, fugindo daquelas dúvidas pairando sobre as duas. Mas então se lembrou do olhar de Becca Bell no carro. Da forma como Jason apertava o volante com força. Do silêncio estranho de Dawn. E da cicatriz invisível que ainda doía em Pip. Aquela culpa, o medo, o peso de ter visto demais e mesmo

Singh abaixou os olhos, os dedos entrelaçados no próprio colo.

  ──── E se… E se você estiver certa?

Amobi voltou a encarar o lago. O silêncio pairou novamente, mas agora era diferente. Como se, juntas, estivessem prestes a puxar o próximo fio de um novelo podre.

  ──── Então ainda não acabou - murmurou.

E ela sabia: era verdade. Não acabou.

A mais nova mordeu o interior da bochecha até o gosto metálico de sangue preencher sua boca. Aquilo tudo era demais. De novo.

Ela se levantou rápido demais, os tênis escorregando um pouco na terra úmida. Pip ergueu os olhos, surpresa, mas Cairo já estava andando de volta, as mãos tremendo. O som dos passos dela soou mais alto que o vento.

  ──── Cairo - Amobi começou, mas foi interrompida.

  ──── Não - a voz saiu firme, mas falhou no final, fazendo ela morder o lábio. ──── Eu não posso, Pip. Eu não posso voltar pra isso. Eu passei anos ouvindo todo mundo sussurrar o nome dele como se fosse uma maldição. Senti vergonha, medo, raiva… tudo misturado. E agora… agora todo mundo finalmente sabe que ele era inocente. Que nós estávamos certas. Por que não pode acabar aqui? Por que tem que ter mais dor? Por acaso esqueceu como os Bell estavam naquele dia? Quer ir mais fundo nisso?

Pip não respondeu. Talvez soubesse que não havia nada que pudesse dizer naquele momento. Talvez soubesse que teria que deixar aquilo de lado. Ou, talvez soubesse que teria que continuar sozinha.

Cairo respirou fundo, o ar do lago entrando frio demais.

  ──── Eu sinto muito, mas eu só queria respirar de novo, sabe? Viver de verdade e parar de viver o passado e talvez devesse fazer isso também.

Ela montou na bicicleta com um movimento rápido, como se fugir da conversa fosse o único jeito de se manter inteira.

  ──── Se não mudar o passado não vai conseguir viver o futuro - Pip murmurou.

Singh a olhou como da primeira vez que ouviu aquilo, mas agora parecia diferente. Era diferente.

  ──── Eu já mudei. Meu irmão é inocente.

E então foi embora, o som dos pneus na trilha soando como um adeus que doía mais do que ela conseguiria admitir.

Tudo ficou quieto, quase sem vida. Pip ficou ali parada por alguns segundos, os braços cruzados, o vento bagunçando seu cabelo. Era como um deja vu, vendo Singh sair dali daquela forma.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jun 11 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Where stories live. Discover now