͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝗌𝗂𝗑

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Quando os carros ficaram nivelados, Pip viu no banco de trás. Becca Bell era como uma mancha pálida, o rosto sem cor alguma, como se a qualquer momento pudesse desaparecer junto com a pouca luz que restava. Os lábios entreabertos, as sobrancelhas franzidas, o olhar perdido em algum lugar distante. Ela encarava o vazio, silenciosa.

Mas, ao encontrar os olhos de Pip, algo mudou. O olhar de Becca se acendeu brevemente, um lampejo de reconhecimento, antes de ser tomado por uma expressão pesada e urgente, algo muito próximo do pavor.

Singh soltou um suspiro ao se afastarem do carro do Bell, seguindo caminho até a casa da mais nova. As duas queriam dizer algo, mas não o fizeram, e o silêncio recaiu novamente.

Pip olhou pelo retrovisor e viu o carro dos Bell finalmente passar pela rotatória, em direção à possível promessa roubada de que teriam a filha de volta.

Na casa dos Singh, já haviam contado a Ravi e aos pais deles tudo o que sabiam: que Sal Singh não matou Andie Bell. Que também não tirou a própria vida. Mas essa verdade, mesmo libertadora, deixava uma nova ferida aberta. Se Sal era inocente, então quem havia tirado a vida dele?

O peso dessa pergunta pairava sobre elas, pesado e sufocante. A casa dos Singh estava silenciosa, exceto pelo ruído baixo do vento lá fora. As duas estavam deitadas na cama de Cairo, lado a lado, encarando o teto silenciosamente.

A cada respiração da mais nova, uma sensação de vazio a tomava, mesmo acreditando por anos que seu irmão seria incapaz de fazer aquilo, ainda era difícil realmente ter aquela resposta.

A verdade parecia surreal, como se, de alguma forma, fosse impossível. O peso do luto ainda a engolia, e o lamento de tudo o que nunca poderia ser voltava com força, como um soco direto no peito.

  ──── O que devo fazer agora, sargento? - ela sussurrou, a voz rouca e quebrada.

Pip se virou de lado na cama, olhando para Cairo com o olhar suave, sem pressa de falar. Sabia que, naquele momento, sua parceira não precisava de respostas, nem de uma solução. Precisava de presença.

Ela estendeu uma das mãos e tirou uma mecha de cabelo que estava cobrindo o rosto da morena.

  ──── Pode ir para a faculdade. Terminar os estudos sem ninguém infernizando a sua vida, Singh. Podemos até ir para a faculdade juntas, não está mais presa aqui, sabe? Vai ser sua chance de recomeçar, de…

  ──── Recomeçar o que? - Cairo a interrompeu, a voz finalmente quebrando. ──── Eu não sei fazer isso, não sei viver tudo de novo depois de já ter perdido tudo. Mesmo meu irmão não sendo um assassino, o que eu já sabia… Ele ainda tá morto. Ele e a Andie. Talvez eu esteja sim presa aqui. E Elliot…

Não teve coragem de continuar, e aquilo partiu o coração de Amobi. Ela podia ver a angústia nos olhos de Cairo, a luta interna que ela estava travando. Não era apenas a dor de perder Andie novamente, mas o peso da confusão de quase ser a substituta, a imagem de uma garota morta que não era ela. E ainda tinha Sal.

  ──── Singh, pode viver uma vida boa de verdade agora. Mesmo sem Sal, ou Andie, você ainda tá aqui e… eu não sei como vai ser amanhã mas, eu vou estar aqui.

O silêncio entre elas se estendeu por alguns minutos, mas não era o silêncio pesado e desconfortável de antes. Era o tipo de silêncio que se forma quando duas pessoas se entendem, mesmo sem palavras, quando a simples presença da outra traz uma sensação de calma.

  ──── Quero fazer Ciências Forenses - Cairo começou, sua voz suave. ──── Depois de tudo isso, talvez eu possa ajudar mais pessoas por aí. Posso resolver outros casos como o de Andie e… e você pode escrever sobre eles e me fazer parecer mais legal.

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Where stories live. Discover now