͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝗌𝗂𝗑

Start from the beginning
                                        

No fim, era apenas uma garota que teve o azar de ter o rosto e o cabelo errados quando o homem errado passou.

Durante anos, ele repetiu a história, alimentando a mentira até que ela parecesse verdade. A garota, jovem, manipulável, claramente instável, acreditou. Ele criou para ela um mundo controlado, uma narrativa segura, e manteve-a presa como uma boneca viva de um passado que ele não sabia como enfrentar.

Mas Andie Bell, a verdadeira Andie, ainda estava desaparecida. E isso pesava sobre todos naquele quintal iluminado por faróis.

Pip fechou os olhos por um instante, tentando processar tudo aquilo. Terminava de dizer os números de seu telefone quando um baque surdo a trouxe de volta. Um carro parou do outro lado da rua. Ela reconheceu de imediato a figura apressada, de terno e gravata, do pai atravessando a rua. Seu coração deu um pequeno salto, um alívio tênue em meio à confusão.

Quando Victor a alcançou, a abraçou com força, murmurando que já havia passado e que estava tudo bem agora. Mesmo não estando. O cheiro familiar de loção pós-barba e café o envolvia, e por um segundo, ela se permitiu respirar e até acreditar que estava tudo bem.

Mas Singh continuava na calçada. Os dedos batucando nos joelhos, mantendo seus olhos vazios na rua. Ao ver Cairo, encolhida e solitária, ele se afastou da filha e caminhou até a garota.

Sem hesitar, abriu os braços, quase pedindo permissão para abraçá-la. Só um carinho silencioso e sincero, inofensivo, como se ele quisesse dizer “você está segura agora”. A mais nova demorou a reagir, mas aos poucos se deixou envolver pelo gesto. O homem não fugiu dela ou disse coisas maldosas, foi o suficiente para ela fechar os olhos por alguns segundos.

Pip observava tudo em silêncio. Aquilo não era o fim. Nem de longe. Ainda havia perguntas demais, e uma ausência que pesava no ar como um fantasma.

Andie ainda podia estar em qualquer lugar. Possivelmente morta, a poucos ou muitos metros dali. Se Elliot não a matou... então quem matou? Será que ela nunca sequer chegou em casa e morreu sozinha, sangrando até o fim? Um arrepio percorreu seu corpo. Precisava desligar o cérebro.

As sirenes continuavam ecoando ao longe. A noite engoliria aquele dia eventualmente, a história ainda precisava de respostas e ela sabia que não acabaria ali. Mas, por uma noite, tentaria mesmo colocar sua mente no modo avião.

No caminho de volta, onde Pip insistiu em levar Cairo para casa e conseguiu convencer seu pai de passar mais alguns minutos fora de casa, dirigiu pela High Street, em direção à casa de Singh.

Parou na rotatória principal. Havia um carro esperando do outro lado, os faróis emitindo uma luz branca penetrante. A preferência era dele.

De relance, Pip viu Cairo se inclinar para frente no banco do passageiro e bloquear os faróis fortes com suas mãos.

  ──── Por que não está indo? - Sua voz saiu rouca, não falava fazia um tempo.

  ──── Não sei… Vou só… ir - Amobi deu de ombros e seguiu.

Ela avançou devagar pela rotatória. O outro carro ainda permanecia imóvel. Conforme se aproximaram e deixaram o facho dos faróis para trás, a mais velha afrouxou o pé no acelerador e, movida pela curiosidade, virou o rosto para espiar pela janela.

  ──── Puta merda… - ouviu Cairo murmurar.

Era a família Bell. Os três.

Jason Bell estava no volante, o rosto endurecido em uma expressão de raiva e frustração, batendo suas mãos no volante e cuspindo palavras com raiva. Ao lado dele, Dawn Bell parecia menor do que nunca, encolhida no banco do passageiro, com os olhos arregalados de medo.

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Where stories live. Discover now