͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝖿𝗂𝗏𝖾

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Não.

Não enquanto ela estivesse viva.

Elliot não parecia se importar com a forma como ela reagia, continuou falando, sereno e firme.

──── Ela enlouqueceu, Pip. Gritando e batendo... Tentei acalmá-la, mas ela estava furiosa. E sabia exatamente como me machucar. Eu a empurrei e ela caiu com tudo. Vi quando a cabeça bateu na bancada, havia sangue para todo lado. Foi feio. Eu fui atrás do meu celular para chamar a ambulância e quando voltei... ela tinha sumido. Nunca mais vi ela.

Pippa encostou a cabeça na parede fria atrás de si, como se precisasse de algo sólido para não desabar por completo. As lágrimas escorriam silenciosas, traindo a força que ela tentava manter.

Ela se sentia cheia, transbordando de tudo ao mesmo tempo: raiva, medo, alívio, confusão. Como se o próprio corpo não soubesse mais o que carregar primeiro. Ele não a matou.

As palavras ecoavam, não trazendo conforto algum. Andie desapareceu. Elliot não a matou. Mas isso não tornava o que ele fez menos cruel. Menos monstruoso.

A garota fechou os olhos, respirando com dificuldade. Parte dela queria acreditar que aquilo era o fim, mas estava longe de acabar.

──── Você não a matou.

──── Eu não a matei. Eu me importava com ela.

O silêncio caiu como uma pedra no centro da cozinha, denso e sufocante. As palavras pairavam entre eles, ocas. Pip ainda encarava o vazio, os olhos marejados e vermelhos, os dedos agora apertando o tecido de sua calça jeans sobre os joelhos.

Ward manteve-se calado, como se qualquer som pudesse quebrar o frágil equilíbrio daquele momento, mas havia algo nos olhos dele. Um brilho inquieto, uma tensão contida que antes não estava ali.

Foi então que o som voltou.

Um tinido metálico.

Fraco. Longe. Mas real.

A morena ergueu o rosto devagar, como se um fio invisível a puxasse para cima. O som se repetiu, agora um pouco mais forte. Um arranhar ritmado, vibrando pelos canos que desciam pela parede até a cozinha. A garganta dela secou. Elliot encolheu os ombros, sabendo que já era tarde demais.

Ele ficou imóvel por um segundo a mais do que deveria. Depois se levantou rápido demais, com um sorriso puxado, forçado, já gesticulando em direção à porta.

──── Certo, Pip. Isso... isso é demais pra um dia só, né? Você devia ir pra casa. Descansar. Posso te levar para casa se quiser...

Ela não respondeu.

O olhar fixo nos canos. O som agora era contínuo, entrecortado por um baque leve, como se algo estivesse se mexendo em um espaço apertado.

Como se alguém estivesse tentando chamar atenção. Como se alguém preso estivesse tentando chamar atenção.

O mais velho deu um passo hesitante até ela.

Ela ainda não disse nada.

Só fechou os olhos por um segundo, e foi nesse segundo, tudo se encaixou.

A ausência de Cairo.

A bicicleta caída.

A tentativa patética de distração.

Andie desapareceu naquela noite.

Elliot não a matou.

O som nos canos.

Ela se virou de repente, os pés já em movimento. Correu. Disparou pela casa em direção à escada. Ward esticou o braço para impedi-la, mas ela escapou por entre seus dedos. Já era tarde demais.

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Where stories live. Discover now